por Marisa Batalha *
“Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e nomeei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda.” (João 15: 16)
Em um mundo tão conturbado, em meio a uma violência que há tempos já ultrapassou todos os limites humanos. E ainda vivendo em um país que transforma ‘desgraça’ em poesia, luta pelo poder em implosão econômica, às vezes é difícil não deixar que a fé esmoreça. Bom, pelo menos para pessoas comuns como eu, ainda que no dia seguinte, mesmo em tempos atribulados, Deus volte ao comando de tudo.
Mas nesta jornada de encontrar a pequena, mas valiosa medida de paz neste mundo, não é fácil encontrar alguém que te diz suavemente que ‘escutou o chamado e foi servir a Deus. Despindo-se do ter, para ser’.
Foi sob este confronto interno entre o sacro e o profano que conheci padre Bruno Costa. Antes de me atender pontualmente às 15 horas, ali sentada naquele espaço imenso que é o Rincão do Meu Senhor, na Cohab Dom Orlando Chaves, em Várzea Grande, nos minutos que antecederam à entrevista, pude observar um homem jovem e risonho, aliás, um padre novo dentro de sua roupa preta, mostrando a Missão para um outro sacerdote, igualmente novo que, em janeiro de 2017, o substituirá.
A conversa teve de tudo, iniciando com sua jornada – de candidato a vereador em João Pessoa, na Paraíba -, quando foi buscar forças em uma missa, no finalzinho da campanha política, e ali escutou o chamado de Deus. Passando sobre os trabalhos que realiza na Missão, a evangelização que faz com 150 jovens servos que saem às ruas em maratonas de bicicletas, proclamando o nome de Jesus. A quem chama de os ‘Jovens Sarados’ -, donos de uma grandiosa musculatura espiritual que, segundo o padre, o ajudaram a construir uma “Academia para a Alma”.
Até as missas votivas (o sacerdote é devoto de São Bento, o santo exorcista e dos livramentos) à campanha ‘A Quebra das Muralhas’, orações que durante sete meses são seguidas por pelo menos dez mil cristãos que superlotam o Rincão, em uma sexta-feira por mês, à procura de fortalecer a fé e ter seus pedidos a Deus realizados. Desvelando que se o mal espreita a hora da guerra, o bem vem crescendo e se preparando para este embate.
Depois, claro, vieram as perguntas mais atrevidas para saber se o sacerdote, de volta à sede da Canção Nova, em São Paulo, também iria se embrenhar pela vida artística, a exemplo de outros padres. Afinal, jornalista quer mesmo saber de tudo, são os ossos do ofício!
Tudo respondido com muita clareza, em frases minuciosamente pontuadas por vírgulas e pontos.
Agora, quando o padre Bruno me deu uma aula sobre os mistérios do ‘Sete’. Pronto! Caiu meu queixo e meus estudos de Cabala, Tarô e Numerologia afloraram e fiquei cheia de confiança para outras perguntas e, claro, pensei, peguei um padre, sua batina e seu conhecimento esotérico de ‘orelha de livro’. Que nada! O sacerdote sempre muito risonho, me deu ‘um baile’.
Há sete anos em Mato Grosso, o padre Bruno me revelou que o sete é o número dos desafios. E que sob o olhar da espiritualidade, o sete é o número mais presente em toda filosofia e literatura sagrada desde os tempos imemoriais até os nossos dias. Sagrado, perfeito e poderoso. Indicando o processo de passagem do conhecido para o desconhecido.
Usando o número para fazer um paralelo sobre seu tempo em Mato Grosso [sete anos], com seu processo de transformação neste ínterim, ele me revelou que foi um tempo em que se aprofundou nas coisas do espírito, nas coisas de Deus e da Criação. Lembrando-me ainda que o sete é o número da Perfeição Divina, pois no sétimo dia Deus descansou de todas as suas obras.
A partir dali a conversa amadureceu e já não tive medo de perguntar-lhe sobre o homem e o padre. E como o sacerdote observava as mudanças ao longo dos anos vivenciadas pela igreja católica. Da tradicional, bem assentada no Velho Testamento, passando pela ala da Ideologia da Libertação até chegar a Renovação Carismática! As observações do padre me encantaram, alimentando minha certeza que precisamos sair desta vida, melhor do que entramos.
E ao vê-lo se despir das respostas prontas e mergulhar em verdade que não são expostas, percebi que a fé tem uma maneira diferente de moldar estes homens. Há neles outro conteúdo e uma religiosidade pautada em desafios, medos, mas todos curados por um único medicamento: a fé, por meio de exaustivas orações diárias.
E como aquele dia foi de surpresas, nada me surpreendeu mais do que suas respostas fáceis como dizer, por exemplo, que ele era padre, mas não era cego, mas que o homem que existe nele é pacificado diariamente pela certeza da escolha que fez e sedimentada por muita oração, como forma de ‘baixar a bola do homem’ e fluir o sacerdote que ama servir a Deus.
É padre Bruno não sei como faz sua mágica, mas ela é poderosa!
Marisa Batalha é jornalista, e Mestra em Movimentos Sociais, Política e Educação pela UFMT
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