A ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara destacou em entrevista divulgada nesta quarta-feira (1º.11), que o combate à pecuária ilegal e à mineração de ouro é uma parte essencial da luta contra a emergência climática.
Como exemplo, Guajajara afirmou que a população Yanomami - localizada entre o Brasil e a Venezuela - há muito tempo é alvo de garimpeiros ilegais. Os Yanomami enfrentam uma crise humanitária e de saúde, que deixou muitos, inclusive jovens, suscetíveis a doenças com aumento das taxas de malária.
“Os Yanomami estavam em um estado muito grave em termos de crise de saúde, não apenas devido à falta de apoio, mas também devido à invasão de mineradores ilegais, os garimpeiros. Isso resultou em graves danos às águas do território, pois agora elas estão contaminadas com mercúrio. Não há permissão [legal] para a mineração nem para a prospecção de ouro, [mas] isso está sendo feito”, destacou a ministra para Revista Time.
Ainda sobre o clima, Guajajara afirmou que espera aumentar a participação indígena nos espaços de tomada de decisão. A proposta é trabalhar para o maior evento do mundo que trata do meio ambiente e condições climáticas, a Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP 30.
“Mas queremos especialmente aumentar a participação das mulheres, pensando especificamente na COP 28 [este ano] em Dubai. No próximo ano, também gostaríamos de realizar uma reunião de mulheres - incluindo mulheres de várias partes do mundo - e realizar um debate pré-COP em 5 de setembro de 2024. Isso seria para mulheres, por mulheres, e em preparação para um apelo maior das mulheres indígenas para haver um debate com mulheres de todo o mundo para a COP 30”, declarou.
A capital paraense, Belém, vai sediar a COP 30 em novembro de 2025.
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LEGADO DO GOVERNO BOLSONARO
Guajajara também foi questionado sobre o legado do Governo Bolsonaro, especialmente no que diz respeito ao tratamento dos povos indígenas, e o que mudou desde a nomeação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O legado de Bolsonaro foi trágico. Trágico, não apenas para nós, mas para o Meio Ambiente e os direitos humanos. Foi um Governo que incitou o ódio, a violência, os ataques e as invasões em territórios indígenas.”
Segundo a ministra, em oito meses após sua nomeação, seu Ministério conseguiu demarcar mais terras do que nos últimos oito anos, o que incluiu os quatro anos de mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "É uma diferença gritante em relação à trajetória do Brasil sob a administração anterior."
Já sobre o Governo Lula, a ministra afirma que existe uma mudança no monitoramento e na fiscalização dos territórios. Ela destacou o empenho do Ministério para elaborar um orçamento melhor e para conquistar avanços na política indígena.
“Houve uma redução de 46% no desmatamento até o final do mês de julho, principalmente na Amazônia. Isso só neste Governo, e as demarcações de terras indígenas já avançaram no Governo Lula. Então, em oito meses, conseguimos o equivalente ao que poderíamos conseguir talvez em oito anos. Portanto, está realmente avançando.