A empresa brasileira JBS, dona da Friboi, suspendeu o fornecimento de carne para a rede de supermercados Carrefour no Brasil, entre eles o Atacadão. Os procedimentos para interromper a venda começaram na última quinta-feira (21.11), contudo, foi anunciada nesse domingo (24).
A medida atende aos apelos dos representantes do setor, como a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e o Instituto Pensar Agro (IPA), em reação ao boicote da marca francesa às proteínas animais produzidas nos países do Mercosul.
Leia Também - Nilson Leitão apoia “repúdio geral” contra Carrefour e Atacadão no Brasil
O agronegócio teme que o veto do Carrefour na França abra precedentes para outras restrições em mercados europeus. Neste sentido, no último sábado (23), representantes de 42 associações do setor agropecuário assinaram uma carta aberta ao executivo do Carrefour, classificando a decisão como “protecionista” e incompatível com os avanços sustentáveis do Brasil.
A carta também questiona a coerência da decisão, argumentando que, se a carne brasileira não é adequada para a França, isso poderia comprometer sua aceitação em outros países.
Além de frigoríficos, entidades de diversos setores, como a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Aprosoja e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), assinam o documento.
Leia o documento na íntegra
Carta aberta de representantes da cadeia produtiva brasileira em resposta ao CEO do Carrefour sobre carnes produzidas no Mercosul
Nós, as entidades representativas da cadeia produtiva brasileira, manifestamos nosso profundo repúdio às declarações recentes sobre a suspensão da compra de carnes do Mercosul pelas lojas Carrefour na França. Consideramos esta posição não apenas infundada, mas também desprovida de coerência com os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional.
A decisão anunciada demonstra uma abordagem protecionista que contradiz o papel de uma empresa global com operações em mercados diversos e interdependentes. Tal posicionamento, além de desvalorizar a qualidade e a sustentabilidade das carnes produzidas nos países do Mercosul, prejudica o diálogo e a parceria necessária para enfrentar desafios globais como a segurança alimentar.
O Brasil, por sua vez, é referência mundial na produção e exportação de proteínas animais. Somos líderes globais na exportação de carne bovina e de frango, e nossa produção é amplamente reconhecida pela excelência, sendo abastecida por rigorosos controles sanitários e padrões de qualidade que atendem a mais de 160 países, incluindo mercados exigentes como União Europeia, Estados Unidos, Japão e China.
Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, enquanto reduziu a área de pastagem em 16%. Esses avanços foram possíveis graças a um compromisso contínuo com a inovação, eficiência produtiva e práticas sustentáveis. Além disso, nossa legislação ambiental é uma das mais rigorosas do mundo, assegurando o equilíbrio entre produção agropecuária e preservação dos recursos naturais.
As áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo agro brasileiro somam 282,8 milhões de hectares, representando 33,2% do território do Brasil. Para se ter uma ideia, essa área equivale a um pouco mais de quatro vezes o território da França ou quase oito vezes o território da Alemanha. O Brasil preserva mais do que o dobro da área destinada à preservação ambiental em comparação com a França, um dado que questiona a postura crítica do Carrefour em relação à nossa produção.
A exclusão injustificada de produtos do Mercosul do mercado francês não apenas subestima a relevância de nossas exportações, mas também limita o acesso dos consumidores europeus a produtos de alta qualidade, mais seguros e sustentáveis. Além disso, tal atitude pode gerar inflação e aumentar as emissões de carbono devido ao transporte de mercadorias locais menos eficientes.
Se uma carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como ela poderia ser considerada adequada para abastecer qualquer outro mercado. Afinal, se o Brasil, com suas práticas sustentáveis, sua legislação ambiental rigorosa e sua vasta área de preservação, não atenderia aos critérios do Carrefour para o mercado francês, então, provavelmente, não atenderia aos critérios de nenhum outro país.
Reafirmamos nosso compromisso com a produção responsável, sustentável e orientada para atender às necessidades dos mercados globais. Consideramos que empresas globais como o Carrefour, que operam amplamente no Brasil e dependem de sua produção para abastecer mercados de todo o mundo, devem atuar com base em princípios de cooperação, transparência e respeito ao livre mercado.
Subscrevem o presente documento:
ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne
ABIFUMO – Associação Brasileira da Indústria do Fumo
ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
ABIOGÁS – Associação Brasileira do Biogás
ABIOVE – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais
ABISOLO – Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal
ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal
ABRAPA – Associação Brasileira dos Produtores de Algodão
ABRAFRIGO – Associação Brasileira de Frigoríficos
ABRAFRUTAS – Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados
ABRAMILHO – Associação Brasileira dos Produtores de Milho
ABRASEM – Associação Brasileira de Sementes e Mudas
ABRASS – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja
ABCS – Associação Brasileira dos Criadores de Suínos ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu
ACRIMAT – Associação dos Criadores de Mato Grosso
ADIAL – Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás AMA BRASIL – Associação dos Misturadores de Adubo do Brasil
ANAPA – Associação Nacional dos Produtores de Alho ANDAV – Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários
APROSOJA/MS – Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul APROSOJA/MT – Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso
AIPC – Associação das Indústrias Processadoras de Cacau BIOSUL – Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul C
ECAFÉ – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
CITRUSBR – Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos
CLB – CropLife Brasil
FAMASUL – Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul
FAEP – Federação da Agricultura do Estado do Paraná
FEPLANA – Federação dos Plantadores de Cana do Brasil
FIEMT – Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso
FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
SINDAG – Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola
SINDAN – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal
SINDIRAÇÕES – Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal
SINDIVEG – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal
SRB – Sociedade Rural Brasileira
SUCOS BR – Associação dos Fabricantes de Sucos do Brasil
UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar
VIVA LÁCTEOS – Associação Brasileira de Laticínios
OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras