Um recente estudo científico revela que a ferrugem asiática, uma das doenças mais devastadoras para a soja, representa um risco climático significativo nas principais regiões produtoras do Brasil: Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná.
O levantamento, realizado por pesquisadores da Universidade Federal da Fronteira Sul e da Universidade Federal de Santa Maria, destaca a importância de entender como as condições climáticas influenciam a ocorrência dessa doença e alerta para a necessidade de medidas preventivas.
Ferrugem asiática: Um desafio para a produção de soja
A ferrugem asiática é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi e foi identificada pela primeira vez no Brasil em 2001. Desde então, tem sido uma das maiores preocupações para os produtores de soja, podendo reduzir a produtividade em até 90% em áreas onde as condições climáticas são favoráveis ao seu desenvolvimento. Com base em dados meteorológicos de 106 estações automáticas de Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná, coletados até dezembro de 2021, o estudo avaliou o risco climático de ocorrência da doença, levando em conta fatores como temperatura do ar e umidade relativa.
Mato Grosso: Maior risco durante a safra
O estado de Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, apresentou o maior risco climático médio anual de ocorrência da ferrugem asiática, com 44%. Os meses de dezembro a abril, que coincidem com o período de cultivo da soja, mostraram os maiores índices de risco, atingindo um pico de 64% em março. Embora a temperatura do ar seja favorável ao desenvolvimento do fungo durante todo o ano, a umidade relativa é um fator limitante nos meses de inverno, reduzindo o risco total nesse período.
Rio Grande do Sul e Paraná: Perigo mesmo fora da safra
No Rio Grande do Sul e no Paraná, estados do sul do Brasil, o risco climático médio anual foi menor, 30% e 36%, respectivamente. No entanto, o estudo chama a atenção para o fato de que, nesses estados, a umidade relativa do ar é elevada durante todo o ano, favorecendo a sobrevivência do fungo, mesmo fora da safra. Embora a temperatura seja um fator limitante durante o inverno, a presença de plantas voluntárias e hospedeiras alternativas, como o kudzu, pode permitir a sobrevivência do fungo, aumentando o risco de infecções futuras.
Implicações para o manejo agrícola
Os resultados do estudo têm importantes implicações para o manejo da ferrugem asiática no Brasil. Em Mato Grosso, práticas como a antecipação da data de semeadura e o uso de cultivares de ciclo curto podem ajudar a evitar os períodos de maior risco climático. Já no sul do país, a implementação rigorosa do vazio sanitário, período no qual é proibido o cultivo de soja para reduzir a presença do fungo, é fundamental para controlar a disseminação da doença.
Além disso, o estudo reforça a importância de sistemas de previsão climática para orientar os agricultores na tomada de decisões sobre o manejo da ferrugem asiática. Com base em previsões precisas, é possível reduzir o uso de fungicidas, economizando recursos e promovendo a sustentabilidade na produção agrícola.
Adaptação das práticas
A pesquisa destaca a necessidade urgente de adaptação das práticas agrícolas frente aos riscos climáticos associados à ferrugem asiática da soja. Em um cenário de mudanças climáticas e aumento da variabilidade climática, entender como o clima afeta a ocorrência de doenças é crucial para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade da produção de soja no Brasil.
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