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Variedades Terça-feira, 27 de Janeiro de 2015, 09:25 - A | A

Terça-feira, 27 de Janeiro de 2015, 09h:25 - A | A

Internacional

'Não confio nos EUA', diz Fidel Castro sobre reaproximação de Cuba

Líder cubano falou pela 1ª vez sobre retomada diplomática entre os países. Em carta, porém, ele não criticou decisão tomada pelo irmão em dezembro.

g1.com

O líder cubano Fidel Castro, de 88 anos, disse nesta segunda-feira (26.01) que não confia nos EUA e que não conversou com Washington, rompendo, assim, o silêncio de mais de um mês sobre a histórica aproximação anunciada por seu irmão e sucessor Raúl Castro e pelo presidente Barack Obama em 17 de dezembro do ano passado.

A manifestação veio por meio de uma carta assinada por Fidel dirigida à Federação Estudantil Universitária e lida por líderes do movimento nesta segunda na TV estatal cubana. A última aparição pública de Fidel foi em 8 de janeiro de 2014, quando assistiu à inauguração de uma galeria do artista cubano Alexis Leyva 'Kcho'.

"Não confio na política dos Estados Unidos, nem troquei uma palavra com eles, sem que isso signifique, nem muito menos, uma rejeição a uma solução pacífica dos conflitos", disse Fidel, afastado do poder desde 2006. No entanto, ele não criticou o acordo anunciado por Raúl e Obama, quando os dois países normalizaram suas relações, um fato que foi visto com bons olhos pela comunidade internacional. "O presidente de Cuba tomou as medidas apropriadas de acordo com as suas prerrogativas e poderes conferidos pela Assembleia Nacional e do Partido Comunista de Cuba", escreveu Fidel Castro.

"Sempre defender a cooperação e amizade com todos os povos do mundo, incluindo os dos nossos adversários políticos. Isto é o que nós estamos pedindo para todo mundo", disse Fidel Castro, que tinha sido o grande ausente na reaproximação histórica entre países, depois de meio século de inimizade.

No longo texto, Fidel fala dos mais diversos tópicos, indo da Grécia Antiga à incursão militar cubana na África, nas décadas de 1970 e 1980, e encerra com seus comentários sobre a reaproximação com os Estados Unidos. O silêncio de Fidel voltou a alimentar rumores sobre sua saúde e sobre sua morte no início do mês, até que o ex-jogador de futebol argentino Diego Maradona, seu amigo pessoal e que estava de visita em Havana, anunciou há duas semanas ter recebido uma carta do líder cubano.

A Casa Branca e o governo de Cuba ainda não se posicionaram sobre a declaração do líder cubano.

Combinação de fotos mostra os presidentes Barak Obama e Raul Castro durante o anúncio da retomada das relações diplomáticas entre EUA e Cuba (Foto: Doug Mills/Pool/Reuters, Reprodução/Reuters)

Acordo diplomático

A retomada das relações diplomáticas foi anunciada por Barack Obama e Raul Castro, porém o embargo comercial ao país caribenho foi mantido. Em seu discurso no Congresso, Obama pediu rapidez aos parlamentares para a aprovação do fim do embargo a Cuba. Na prática, até agora, o acordo possibilitou a libertação de presos políticos que estavam sob poder de ambos os países.

Na última semana, representantes dos Estados Unidos foram até Havana e iniciaram as negociações abordando temas de cooperação bilateral no narcotráfico e no combate ao terrorismo. Quando o acordo foi anunciado, os Estados Unidos informaram que as seguintes medidas seriam tomadas:

- restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países;

- facilitar viagens de americanos a Cuba;

- autorização de vendas e exportações de bens e serviços dos EUA para Cuba;

- autorização para norte-americanos importarem bens de até US$ 400 de Cuba;

- início de novos esforços para melhorar o acesso de Cuba a telecomunicação e internet.

As medidas incluem ainda ações práticas como o restabelecimento de uma embaixada americana em Havana e a revisão da designação dada pelos EUA a Cuba de Estado que patrocina o terrorismo.

Embargo

Os dois países não se relacionavam desde 1962 - mantendo apenas contatos de interesse de nível menor desde 1977. O embargo que os EUA mantêm contra Cuba impede a maioria das trocas comerciais. Através de duas leis, uma de 1992 e outra de 1996, Washington proíbe envio de alimentos ao país caribenho (exceto em casos de ajuda humanitária) e torna passível de punição judicial empresas nacionais e estrangeiras que tenham relações financeiras com a ilha.

Há também uma exigência de uma licença de viagens para a ilha, embora o governo Obama tenha suavizado as restrições para programas acadêmicos, religiosos ou culturais a partir de 2009.

Desde então, uma média de 350 mil cubanos-americanos viajam a Havana a cada ano, segundo estimativas do setor turístico, enquanto 100 mil norte-americanos vão anualmente à ilha em grupos organizados com permissões especiais.

Outra proibição revista em 2009 foi o limite de envio de remessas de dinheiro a partir dos EUA para o país caribenho, o que permitiu uma injeção de dinheiro na ilha. Antes, os cubanos nos Estados Unidos podiam viajar a Cuba apenas uma vez por ano e mandar apenas US$ 1.200 por pessoa, em dinheiro, para parentes necessitados.

Segundo Havana, até 2010 as perdas pelo embargo já superavam os US$ 104 bilhões, mais que o triplo do Produto Interno Bruto (PIB) da ilha, e tem impacto em setores sensíveis como saúde, alimentação e educação.

O embargo econômico norte-americano a Cuba existe de forma ampla desde 1962. As primeiras medidas começaram antes mesmo, em 1960 - um ano após Fidel castro tomar o poder e um ano depois do nascimento de Barack Obama, segundo apontou a revista 'The Economist'.

O embargo é renovado anualmente por uma legislação que data de 1917 chamada Lei de Comércio com o Inimigo. Ela deu origem, em 1963, ao embargo contra a ilha comunista, conhecido oficialmente como "Regulação de Controle dos Bens Cubanos".

Os obstáculos ao comércio e às relações econômicas entre os dois países foram adotados pelos EUA após a adesão de Cuba ao comunismo.

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