Se, para alguns pais, apresentar novos alimentos e diversificar o prato das crianças é uma dificuldade, na casa de Gabriela Muxagata e Gustavo Oliveira difícil é acompanhar todos os sabores que a pequena Sofia, filha do casal, já experimentou. Aos 2 anos de idade, a pequena se delicia comendo frutas como sapoti, ciriguela e longan, além de alimentos como língua de boi, rã, pé de galinha e frutos do mar variados — seus favoritos, segundo os pais.
As refeições de Sofia são um sucesso nas redes. No Instagram, uma conta administrada pelos pais já soma mais de 300 mil seguidores. No YouTube, são mais de 13 mil inscritos, e, no TikTok, 1 milhão de usuários acompanham a série de vídeos "alimentos chocantes que só a Sofia come".
Gabriela conta que o perfil surgiu no meio da pandemia, quando Sofia ainda era recém-nascida, como uma forma de compartilhar registros do dia a dia da filha com a família. "Quando ela fez seis meses, ela começou a comer e eu postava muito sobre esse assunto, introdução alimentar, ela comendo várias coisas. A gente viu que as pessoas foram se interessando por esse conteúdo, gostavam de ver ela comendo. Fomos postando cada vez mais sobre isso e vários vídeos viralizaram", disse a mãe em entrevista exclusiva à CRESCER.
A família, que já passou um ano morando em Portugal, voltou ao Brasil e atualmente mora em São Paulo. O casal conta que não é difícil encontrar tamanha variedade de alimentos na cidade. "As pessoas perguntam bastante: 'Nossa, onde vocês conseguem essas carnes, essas coisas diferentes, essas comidas exóticas?' Em São Paulo, se você vai ao Mercadão, você já encontra 90% de tudo que ela já comeu", relata Gustavo, pai de Sofia.
Introdução alimentar
Gabriela conta que ela e o marido sempre deixaram a filha muito livre para escolher a comida, desde a introdução alimentar, iniciada aos 6 meses. "Colocava os alimentos na frente dela e ela pegava com a mão, ela mesma experimentava. Nunca foi uma dor de cabeça essa questão alimentar com a Sofia", garante. Entretanto, apesar de gratificante, o processo foi trabalhoso, como explica o pai. "Para estimular essa variedade de alimentos que ela gosta de comer, tínhamos que sempre pensar em coisas diferentes, cardápios novos. Isso é uma das coisas que fez ela querer ser aberta a experimentar bastante coisa", destaca Gustavo.
Sofia teve a oportunidade de provar todo tipo de sabor nesse processo. "Hoje ela adora coisa azeda, pode dar até limão pra ela. Desde que ela tinha seis meses de idade, a gente dava isso para ela, para experimentar o limão puro. Vinha gente falar: 'Nossa, que maldoso', mas ela só estava experimentando", lembra o pai. Apesar de apostarem em um cardápio diversificado, os pais buscam evitar ultraprocessados na alimentação da filha e manter a oferta variada de alimentos, para que ela coma sempre de forma saudável.
Sabores e cuidados variados
Em meio a tanta variedade, Sofia já tem suas comidas favoritas. Segundo Gabriela, a filha tem uma preferência especial por alimentos com "sabor de mar", em especial o mexilhão. "Ela experimentou recentemente ouriço do mar, que tem um sabor de água salgada e ela amou. Também gosta muito de polvo, lula, ostra", adiciona.
Tanto no caso dos frutos do mar quanto no dos miúdos, Carla Massuia, nutricionista materno-infantil, reforça que não há problemas se eles forem consumidos nessa idade. "Comida é algo cultural. Vísceras e miúdos podem fazer parte da alimentação da criança se forem bem cozidos", ressalta. Da mesma forma, a recomendação é que os frutos do mar estejam bem cozidos — com esse cuidado, o próprio Guia Alimentar Para A População Brasileira Menor de Dois Anos, do Ministério da Saúde, diz que eles podem ser consumidos a partir dos 6 meses de idade. No caso de carnes, devem ser bem cozidas para minimizar risco de intoxicação alimentar.
"Às vezes, as pessoas acham que a gente está dando a comida crua, como a lula ou o polvo. Mas está sempre fervido, no sal, temperado", conta Gustavo.
Os pais são o exemplo
Por mais que cause espanto em vários seguidores do perfil, Gabriela e Gustavo contam que os alimentos que Sofia come não são nada incomuns na rotina deles. "Ela come muito do que a gente come. Fígado, por exemplo, eu amo, então, sempre comi e sempre estimulei ela a comer", diz o pai. Para ele, não tem segredo: a criança tem que comer com os pais e os pais têm que comer o que querem que os filhos comam. "Ela jamais comeria língua de boi, que ela ama de paixão, se ela não nos visse comendo", pontua. "As pessoas ficaram chocadas dela comer língua, que pra gente não é nada de mais. Minha avó fazia para mim, parece carne assada", completa Gabriela. Em um dos vídeos, Sofia aparece provando carne de rã, que, segundo a mãe, também foi parte regular de sua própria infância.
A nutricionista Carla Massuia também reforça que as crianças se espelham integralmente nos adultos, em especial naqueles que mais convivem. "A criança precisa se sentir pertencente e a comida tem o papel de identidade também. Logo, ao comer a mesma comida, a criança se sente integrante da família e, à medida em que cresce, tende a comer somente aquilo que os adultos estão comendo", ressalta. "Por isso é valioso que os hábitos alimentares da família sejam revisitados e organizados para que a criança aprenda a comer de forma feliz e saudável."
"Sempre perguntam para a gente como fazer as crianças comerem. Sentem numa mesa, comam com as suas crianças, mostrem para elas. Não adianta você querer que seu filho, sua filha coma brócolis se você nunca comeu um brócolis na sua vida. Se [a criança] te ver comendo brócolis no dia a dia, cenoura no dia a dia, frutas de maneira geral... elas vão ter interesse, vão querer comer", finaliza Gustavo.
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