Depois de percorrer 8,8 mil km entre as 12 cidades-sede da Copa, aventurar-se pelas rodovias do país de bicicleta, provar diferentes culinárias regionais, ver a Inglaterra ser eliminada do Mundial e até conhecer o Príncipe Harry, o inglês Andy Smith diz que, se tivesse que escolher, Manaus seria a cidade brasileira que mais gostou.
Smith, que era contador em Londres, começou sua viagem em janeiro deste ano em Porto Alegre. Após quase cinco meses de estrada, ele chegou a Manaus para ver a estreia da Inglaterra na Copa no dia 14 de junho. Acompanhou os outros dois jogos do seu país, em São Paulo e em Belo Horizonte - mas, com a derrota, se refugiou no Rio para um período de descanso antes de voltar para terras londrinas.
Questionado sobre a cidade que mais gostou, ele diz que é difícil responder. “Toda cidade que visitei era ótima de diferentes maneiras, todas são tão únicas. Mas talvez eu diria Manaus, pois foi tão excitante chegar lá ao final da minha jornada épica e sentir o clima da Copa do Mundo”, diz o inglês ao G1.
Além disso, Smith conta que ficou espantado com a localização geográfica de Manaus. “Depois de ficar seis dias em um barco no Rio Amazonas para chegar lá, foi fantástico pensar que essa cidade encantadora fica no meio da floresta.”
Belo Horizonte também foi uma das favoritas do inglês. “Achei ‘Beaga’ [uma cidade] agradável e ‘pé no chão’, com um clima interessante e, claro, ótima comida também”, comenta.
Foi na capital mineira que Smith conheceu um membro da realeza britânica, o Príncipe Harry, que veio ao Brasil por alguns dias durante o Mundial. Ele e o ciclista se encontraram em um evento beneficente e conversaram sobre a jornada de Andy. “Cara legal, Harry para rei!”, escreveu o inglês em seu blog, que conta os passos da viagem.
Já São Paulo parece com Londres, segundo Smith. “Eu me diverti passeando no Centro com ciclistas locais e vendo vários lugares legais. E nós fomos a um jogo do Corinthians”, diz, animado. (Veja em lista no final do texto o que ele achou de cada cidade-sede da Copa).
Culinária e comunicação
Apesar de não falar português - fato que o deixa “envergonhado”, segundo ele -, Smith diz que não teve grandes problemas de comunicação durante a viagem. “Eu aprendi algumas frases e palavras básicas e tudo correu bem, já que eu precisava falar mais com as pessoas sobre como comprar comida e bebida (...). Eu sempre começo com um educado ‘Desculpe, eu não falo português’”, diz.
Quanto à culinária, ele diz que não se intimidou com os pratos bem temperados e apimentados do Nordeste do país. “Eu achei tudo bem leve comparado com a comida asiática que nós comemos bastante na Inglaterra ultimamente”, comenta. “No geral, eu gostei de quase tudo que comi. A única exceção foi mandioca cozida”.
Estradas
Apesar de ter sido avisado de que as estradas do Brasil não eram muito boas, Smith diz que achou o percurso melhor do que esperava. “As rodovias são em sua maioria suaves e com acostamentos decentes para que eu possa andar de bicicleta de maneira segura”, diz, destacando os trechos entre Porto Alegre e Brasília.
Apesar disso, a jornada teve algumas dificuldades. “Algumas estradas em áreas rurais não são pavimentadas, o que é um problema grande, pois meus pneus não foram feitos para andar em areia e terra”, afirma. Por isso, em um trecho de 50 km na Bahia de “terra e lama”, ele teve que arrastar a bicicleta a pé.
Sendo os problemas com moradores apenas exceções em sua jornada, o inglês afirma que o que mais gostou do país foi o próprio povo. “Acho que você pode planejar qualquer viagem para visitar lugares especiais, mas uma grande jornada é definida pelas pessoas que você conhece. Então, o meu destaque vai para o fantástico e amigável povo do Brasil”.
Além da experiência de viajar por um país que não conhecia, a viagem de Smith pelo Brasil teve como objetivo ajudar duas entidades filantrópicas da Inglaterra que ajudam crianças a sair da pobreza através do esporte.
- Porto Alegre
“Eu recebi uma recepção tão fantástica e amigável aqui. Adorei a minha visita ao belo e primeiro estádio da minha jornada. Houve uma onda de calor em janeiro, por isso estava muito quente - no meu primeiro dia pedalando, meu termômetro estava marcando 48°C!”
- Curitiba
“Uma mistura fascinante de história, cultura e influências regionais. Foi uma alegria explorar essa cidade. Fiquei chocado com o quão inacabado o estádio estava, e até mesmo as ruas da região estavam bagunçadas, o que me surpreendeu em uma cidade tão organizada”
- São Paulo
“Lembrou-me de Londres. Eu me diverti passeando no Centro com ciclistas locais e vendo vários lugares legais. E nós fomos a um jogo do Corinthians. Mais uma vez o estado do estádio foi um choque, e eu podia ver o local em que o guindaste tragicamente desabou [e matou duas pessoas em novembro de 2013].”
- Rio de Janeiro
“Eu fiquei em Copacabana, pedalei até o Corcovado e fui a um jogo do Flamengo contra o Vasco, no Maracanã. Tudo foi fantástico! Fiquei muito doente por 24 horas no Rio. Acho que o primeiro mês extremamente cansativo da viagem pesou e o meu corpo teve um colapso.”
- Belo Horizonte
“Uma das minhas cidade favoritas, achei ‘Beaga’ agradável e ‘pé no chão’, com um clima interessante e, claro, ótima comida também. Eu adorei assistir o Cruzeiro jogar no Mineirão em sua partida de estreia na Copa Libertadores, e eles ganharam de 5 a 1! Eu estava cansado de pedalar nas belas montanhas do Rio. (...) Eu realmente precisava de uma pausa.”
- Brasília
“Foi uma revelação para mim. Que cidade impressionante. A ambição de planejá-la e construí-la foi impressionante. Apesar de todos os seus pontos positivos, faltam à cidade áreas residenciais e vida noturna, mas isso já está começando a se desenvolver.”
- Cuiabá
“Boa como base para visitar a Chapada dos Guimarães e o Pantanal. Tirando isso, não tinha muito para ver ou fazer na cidade. É a que menos gostei das 12 cidades-sede.”
- Salvador
Uma cidade bonita e cheia de personalidade. Eu realmente gostei de participar de um tour pelo centro histórico. Também era ótimo ver várias partidas de futebol sendo disputadas nas praias. Infelizmente, a Polícia Militar entrou em greve durante a minha estadia, e eu não fiquei feliz de ficar preso em casa por um dia por questões de segurança.”
- Recife
“Eu estava lá no dia 1º de Maio, e foi ótimo ver as comemorações do Dia do Trabalho com música ao vivo em vários palcos e muita gente pedalando entre o centro histórico e as praias. Choveu bastante e, à caminho do estádio, eu caí da bicicleta quando atingi um grande buraco escondido por uma poça de água.”
- Natal
“Uma agradável cidade pequena, onde o interessante centro histórico e prédios mais modernos são rodeados pela impressionante Ponte Newton Navarro e pelas enormes dunas de areia. As estradas ao redor do estádio estavam passando por obras e causando problemas no tráfego.”
- Fortaleza
“Orla impressionante, e gostei como o estádio faz parte da comunidade local. Por exemplo, estudantes fazem visitas guiadas todos os dias. Não tive muito tempo para explorar a cidade, mas não parecia ter muita coisa para fazer e ver além das praias.”
- Manaus
“Depois de ficar seis dias em um barco no Rio Amazonas para chegar lá, foi fantástico pensar que essa cidade encantadora fica no meio da floresta. Senti uma vibração incrível com o início da Copa do Mundo e com os moradores locais e turistas estrangeiros se divertindo juntos nas praças públicas. Eu não gostei de ouvir as torcidas locais vaiarem a Inglaterra no nosso jogo contra a Itália. Achei isso desnecessário, mas eles obviamente ainda não tinham perdoado [o técnico da Inglaterra] Roy Hodgson pelos comentários feitos no ano passado sobre não querer jogar aqui devido à distância da viagem e ao clima quente e úmido - comentários que, mais tarde, foram retificados.”
Entre no grupo do VGNotícias no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).