Em entrevista ao oticias, o especialista em medicina de família e comunidade, pós-graduado em Psiquiatria, Werley Peres, afirmou que Mato Grosso é “campeão” no número de casos de hanseníase no Brasil, e que grande parte das pessoas não buscam diagnóstico da doença devido ao preconceito social.
“O Estado de Mato Grosso é campeão no número de hanseníase no Brasil. O número aqui é muito maior que a OMS. A gente acredita que os números de casos em Mato Grosso é bem maior do que os registrados”, declarou.
Para ele, os gestores sempre colocaram para debaixo do tapete os casos de hanseníase no Estado. "Fazer o diagnóstico da hanseníase é bom para sociedade. Pode-se combater a transmissão da doença com o diagnóstico. Os gestores têm que entender que fazer o diagnóstico é prevenir sequelas” destacou.
Segundo o médico, existe um grande preconceito da sociedade com as pessoas que tem sequelas da hanseníase. “As pessoas com sequelas da guerra, a sociedade até abraça, mas aquelas com sequelas da hanseníase ninguém quer passar perto”, disse.
Peres enfatizou que as pessoas que tratam a doença têm menos risco de as transmitir, e que aquelas que nunca fizeram o diagnóstico, e talvez não saibam que são portadoras de hanseníase, estão mais sujeitas a fazer a transmissão.
“Daí a importância de as escolas médicas capacitarem os seus alunos para que quando eles forem atuar, fazerem esse diagnóstico preciso e encaminhar para rede pública, porque somente a rede pública que trata”, explicou.
Conforme o médico, pessoas que moram em bairros periféricos tem mais chances de contrair a doença, por meio de transmissão, por morarem muitas vezes em ambiente insalubre, com pouco ventilação, e que grande parte dos casos, moram em residências com grande número de pessoas. “As pessoas com nível econômico baixo estão mais propicias a construir a doença. Sem falar que pessoas mais pobres não têm, as vezes, boa alimentação, saneamento básico. A condição social facilita a transmissão da doença. Apesar que a doença não tem divisão de classe social, mas, infelizmente as classes mais pobres estão mais sujeitas a pegar a doença” relatou.
Sobre a diagnóstico, o médico contou que a população pode procurar qualquer unidade de saúde para fazer o diagnóstico da doença. “90% dos diagnósticos precisam apenas de uma avaliação médica, não necessitando exames complementares. Existem casos de exames complementares, mas é pequeno esse número”.
Em relação a doença, Werley disse que muitas pessoas deixam de procurar unidade de saúde para fazer o diagnóstico porque tem a “crendice” que elas estão com a hanseníase somente quando percebem alguma mancha pelo corpo. “As pessoas esperam manchas na hanseníase. Mas, nem todos os casos são assim. Existem casos de perda do movimento muscular, entre outros”.
Ele destacou que em 31 de janeiro deste ano foi lançado um projeto para combate a hanseníase em Mato Grosso. “O projeto foi construído por muitas mãos. Ele terá um prazo de 3 anos para fazer o combate da doença nos municípios de Mato Grosso”.
O médico afirmou que os grandes responsáveis pelo combate à doença são os agentes comunitários de saúde. “Eles são os responsáveis por incentivar e encaminhar as pessoas ao combate da doença. Eles cuidam de muitas famílias”.
Peres explicou ainda, que o primeiro passo para combater a doença é acabar com o preconceito. “Temos que acabar com o preconceito. A hanseníase tem cura. Não existe problema de contato com pessoas que tratam a doença, mas sim com aquelas centenas e milhares que não realizaram diagnóstico e podem fazer a transmissão da doença”.
Hanseníase - A hanseníase, comumente conhecida como lepra, é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, que lesiona os nervos periféricos e diminui a sensibilidade da pele. Geralmente, o distúrbio ocasiona manchas esbranquiçadas em áreas como mãos, pés e olhos, mas também podem afetar o rosto, as orelhas, nádegas, braços, pernas e costas.
A doença tem cura, porém exige tratamento prolongado para não desencadear problemas ao paciente ou a transmissão da bactéria para indivíduos de convívio próximo. Nos dias de hoje, sabe-se que não há necessidade do isolamento dos indivíduos, pois o SUS fornece a medicação gratuita e necessária para recuperação dos portadores da hanseníase.