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Política Segunda-feira, 21 de Dezembro de 2015, 15:47 - A | A

Segunda-feira, 21 de Dezembro de 2015, 15h:47 - A | A

Pedido de Afastamento

Janot aponta suspeita em anotações que citam Cunha

Pagamento de propina em troca da aprovação de projeto sairia de um fundo que conta com recursos do FGTS

Estadão

No pedido de afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do cargo de deputado federal apresentado ao Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que há indícios de que o peemedebista teria negociado o pagamento de propina em troca de aprovação preliminar de um aporte de R$ 571 milhões para a empresa de energia do Grupo Rialma, que pertence a Emival Caiado, primo do senador Roberto Caiado (DEM-GO). 

Segundo o pedido do procurador-geral ao Supremo, o pagamento de propina em troca da aprovação do aporte correspondente a 49% da usina sairia de um fundo que conta com recursos do FGTS.

A Procuradoria-Geral da República teve acesso a uma anotação encontrada na agenda de José Carlos Cordeiro Rocha, da 33 Consultoria, Assessoria e Intermediação Imobiliária, que atua como lobista junto a órgãos públicos. No procedimento de busca e apreensão realizado nessa empresa foi encontrada em uma agenda de 2014 uma anotação, na folha do dia 20 de março do ano passado, que mencionava a quantia de R$ 600 milhões para o “senhor Emival Caiado” junto com honorários de 3% do valor para Eduardo Cunha e o ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, e um registro denominado mensal de R$ 20 mil.

Segundo Janot, a anotação coloca Cleto e seu padrinho Cunha em situação “muito semelhante” aos fatos narrados pelos delatores Ricardo Pernambucano e Ricardo Pernambucano Junior.

Donos da Carioca Engenharia, eles disseram que pagaram R$ 52 milhões em propina para a liberação de uma operação com recursos do FGTS na Caixa. O pagamento foi feito em 36 prestações em contas na Suíça e em Israel. Esse caso foi revelado pela revista Época.

“Em outras palavras: a anotação indica que Eduardo Cunha e Fábio Cleto cobraram propina em troca de liberação de verbas do FI-FGTS”, afirma Janot, em referência ao fundo de investimento do FGTS. A anotação da agenda chegou à PGR no dia 9 de dezembro por meio de informações da Justiça do Rio de Janeiro em meio à Operação Alcateia Fluminense, que apura fraudes na Receita no Rio de Janeiro.

Reuniões fechadas. Janot cita reportagem do Estado de outubro do ano passado, quando houve o primeiro aval para o aporte do fundo na usina. O comitê de investimento do FI-FGTS faz reuniões fechadas, cujo teor não é divulgado à imprensa. O Estado já ressaltava a influência de Cleto no comitê, pedindo retirada de projetos de pauta e aprovações de outros itens como moeda de troca com o governo.

A propina no valor de R$ 52 milhões paga a Cunha tinha como finalidade a aprovação de uma operação que permitiu levantar recursos de uma vez só para a operação urbana Porto Maravilha, na cidade do Rio de Janeiro. O consórcio responsável pelas obras recebeu R$ 3,5 bilhões de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a poupança que todo trabalhador brasileiro é obrigado a fazer.

Cunha vendia “facilidades” na Caixa porque tinha o aliado Fábio Cleto como braço-direito no banco estatal. O ex-vice-presidente atuava de acordo com os interesses do parlamentar, mesmo quando esses iam de encontro ao que queria o governo. Foi o próprio presidente da Câmara, segundo o relato dos dois delatores, que acertou e cobrou a propina.

A Carioca Engenharia é sócia da Odebrecht e da OAS na concessionária Porto Novo, responsável pela revitalização da zona portuária do Rio. Em abril de 2011, um fundo imobiliário de gestão da Caixa comprou o lote todo de títulos da região portuária e desembolsou de uma vez R$ 3,5 bilhões de dinheiro do FGTS. A operação tinha como objetivo financiar as obras na região, estimadas em R$ 7,5 bilhões - o restante seria levantado pela Caixa com a revenda de papéis no mercado para os interessados nos imóveis comerciais da região.Com a desvalorização imobiliária, o FGTS precisou liberar mais R$ 1,5 bilhão para a conclusão das obras da revitalização.

Questionado, o presidente da Câmara Eduardo Cunha não havia comentado as afirmações do procurador-geral Rodrigo Janot até a conclusão desta edição.

Em nota, a Caixa informou que a operação com o consórcio Porto Novo seguiu “todos os ritos normativos e de governança corporativa” do banco, passando por diversos comitês internos. O banco diz que determinou à corregedoria da instituição a instauração de apuração de todas as operações realizadas no projeto de revitalização do Porto Maravilha. Sobre a operação com a usina de Emival Caiado não houve aprovação final e, portanto, desembolsos.

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