Na tentativa de reduzir a pena de Marcos Valério, condenado por 6 crimes no mensalão, a defesa do empresário entregou memorial nesta segunda-feira (22) aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) enfatizando que ele não exercia "função de liderança" no núcleo publicitário (responsável pela captação de dinheiro para comprar parlamentares) e dividia "a três mãos" com seus dois sócios a administração da agência de publicidade SMP&B Comunicação.
Nesta terça, na primeira sessão para definir as penas dos condenados, Valério já acumulava mais de 11 anos de prisão e multa de R$ 978 mil. A punição pode aumentar, já que os ministros analisaram apenas 3 dos 9 delitos em que foi considerado culpado.
A estratégia é tentar demonstrar que as responsabilidades nos negócios eram compartilhadas por Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach. No documento, de oito páginas, o advogado de Valério, Marcelo Leonardo, afirmou que os três diretores da empresa de propaganda "sempre foram tratados no mesmo nível".
"Aliás, Marcos Valério jamais dirigiu a atividade de Cristiano Paz, que era fundador da SMP&B e seu 'Presidente', bem como jamais dirigiu a atividade de Ramon Hollerbach, que era sócio da empresa desde 1986 e seu diretor de operações. Duas pessoas que, por sua história na empresa e personalidades fortes, jamais seriam liderados pelo outro sócio e diretor, o acusado Marcos Valério", escreveu o advogado de Valério.
Marcelo Leonardo ressalta que, no episódio em que o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolatto recebeu cerca de R$ 300 mil do "valerioduto", quem assinou o cheque repassado ao ex-dirigente da instituição pública foi Cristiano Paz.
O criminalista também destacou aos ministros do STF que, no caso do contrato de publicidade da SMP&B com a Câmara dos Deputados, que culminou na condenação do trio mineiro e do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) por corrupção e peculato, foi Hollerbach quem teve contatos com o diretor-geral e com o diretor da secretaria de comunicação do Legislativo.
Tática 'tardia'
Surpreso com a nova estratégia de defesa de Valério, o advogado de Cristiano Paz, Castellar Modesto Guimarães Filho, afirmou ao G1 que a mudança de tática "é tardia". Ele lembra que o próprio Marcelo Leonardo sustentou, nas alegações finais, que em momento algum Cristiano Paz e Ramon Hollerbach tiveram qualquer participação na administração da agência.
"Ele deve ter visto a alternativa que restou. Chega um determinado momento que cada um tem de cuidar de seu quintal”, ironizou Guimarães Filho.
O advogado de Cristiano Paz explicou que a assinatura do cliente dele no cheque entregue a Pizzolatto provavelmente ocorreu devido a ausência de Valério e Hollerbach na empresa. Conforme o criminalista, isso ocorria, ocasionalmente, já que o banco exigia a assinatura de dois sócios para autorizar os pagamentos da agência.
"Se rotineira fosse [as assinaturas de Cristiano], ele não estaria absolvido por unanimidade pelos ministros do Supremo no crime de evasão de divisas. A participação dele não era constante. Se tudo fosse feito a três mãos, ele também estaria condenado por evasão", rebateu.
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