A audiência que teve início às 13h40 desta sexta-feira (27.07), terminou às 05h17min. Depois de uma exaustiva sessão que durou quase 15 horas, o juiz 11ª Vara Criminal de Cuiabá, Murilo Moura Mesquita, encerrou as oitivas com o cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Correa Junior, apontado como o principal operador do esquema de grampos ilegais no Estado. As revelações bombásticas do cabo atingem o governador Pedro Taques (PSDB) e o seu primo, ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, preso por conta de susposto esquema no Detran/MT.
O cabo Gerson assumiu os crimes e citou os supostos comparsas, foi o depoimento mais impactante e deixou o governador Pedro Taques (PSDB) e pré-candidato a reeleição em “mãos lençóis”.
Diante das declarações que fez durante a madrugada, apontando como principais beneficiários dos grampos ilegais, o governador Pedro Taques e o ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques, o cabo Gerson pediu proteção policial e diz temer ser morto. Os demais réus negaram qualquer participação no suposto esquema de grampos ilegais.
O cabo disse que foi preso sob a suspeita de que estaria com o sistema, mas afirmou que está com Marilson. Segundo ele, queriam o HD, mas teria recebido ordens do coronel Zaqueu para destrui-lo.
Ele salientou que nunca falou com Lesco das escutas indevidas, mas que não sabe se Zaqueu teria comentado. O cabo disse que suspeita que tenham copiados dados do seu computador, mas não pode afirmar para não ser leviano. No entanto, uma de suas suspeitas é sobre o policial Rafael Menguine, que atua no Gaeco, e que foi testemunha na ação.
A defesa de Lesco questionaou o cabo sobre a nota fiscal. Ele respondeu que o sistema Sentinela era lícito e um investimento.
Questionado se ele tinha entregue documentos ao promotor Mauro Zaque, Gerson nega que os documentos que estavam no computador dele foram encaminhados por ele a Mauro Zaque.
A defesa de Zaqueu questionou porque o promotor Mauro Zaque não falou sobre as declarações de Gerson nesta madrugada. Gerson disse que não poderia estar na cabeça do Zaqueu. "Se o Zaqueu não falou, é um problema dele", argumentou. O advogado retrucou queé a palavra de Zaqueu contra a de Gerson. O cabo rebate: "o depoimento dos outros não é problema meu. Eu tenho minha consciência tranquila. Eu falei a verdade". Gerson diz que ninguém tinha acesso ao seu computador no Gaeco.
O cabo Gerson disse desconhecer a razão de o coronel Januário, Barros e Soler serem denunciados no esquema, já que nenhum deles não deve nada. Ele considerou o depoimento de Zaqueu no inquérito militar como "infeliz". Terminam as perguntas do MPE e iniciam as perguntas dos advogados de defesa dos réus.
O cabo segue o depoimento com explicações operacionais dos grampos. O próximo a perguntar é o promotor Alan. Gerson chorou no depoimento e desabafou: "Fiquei 10 meses preso. Se eu pudesse fazer de novo, faria tudo diferente. Tenho que lamentar e pedir minhas sinceras desculpas à Polícia Militar. A instituição não tem nada a ver com isso. Ela é muito maior que isso. Fiz parte deste sofrimento e perdi muito com tudo isso. Tenho dívida com muita gente, mas graças a Deus tenho uma esposa maravilhosa e um filho maravilhoso. Quando forem dosar a pena, lembrem desse dia e dessa data", declarou.
Gerson apontou o governador Pedro Taques como principal beneficiário dos grampos ilegais. "Tudo que está acontecendo aqui é decisão minha e não de advogado porque quero honrar minha dignidade e de minha família. Quero a busca da verdade real. Desde o início, estou aqui brigando com o doutor Alan para colocar as mesmas 14 testemunhas, entre elas o governador. Quem colocou o governador não foi Ministério Público. Fui eu porque na minha convicção o dono disso aqui é ele", afirmou.
Terminam as perguntas do juiz para Gerson. Agora, serão os juízes militares. O coronel Barbosa pergunta ao cabo se o coronel Zaqueu assumiu o comando geral da PM na gestão de Taques por fazer gravações telefônicas ilegais. Ele diz que não pode fazer esta análise, já que o histórico do oficial o credenciava para a função. Barbosa contradiz Gerson e diz entender que Zaqueu só virou comandante da PM pelos grampos. Gerson detalhou que pediu a suspeição dos coronéis por ter sido mantido preso e Zaqueu colocado em liberdade meses atrás.
Correa atribui toda culpa pelos grampos ilegais ao ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques. "Longe de querer defender o coronel Zaqueu, mas o dono disso aqui não é nem ele, nem eu, mas sim o Paulo Taques", dispara. Juiz questiona se alguém do Executivo tinha conhecimento do esquema de barriga de aluguel. Correa responde: "Pra mim, os donos disso aqui são o Paulo Taques e o governador Pedro Taques".
Sobre o grampo no desembargador José Ferreira Leite, Correa considerou engano já que o número era parecido com de Tatiane Sangalli, ex-amante de Paulo Taques. "O coronel Zaqueu foi usado e eu, por tabela, por interesses escusos". O cabo afirmou que o coronel Mendes foi incluído nos grampos por interesse de Zaqueu e não dele.” Segundo eles, o coronel Mendes teria uma maleta de grampos que estaria gravando o governador Pedro Taques e Riva era o mentor intelectual disso", diz ao recordar da campanha de 2014.
Em relação ao grampo na deputada estadual Janaína Riva, ele diz que recebeu de Zaqueu num pedido de Paulo Taques. "Os números não eram usados pela deputada e não tinha nenhum áudio. Eu não sabia que era da deputada e nem foi falado que era dela. Só fiquei sabendo depois. Isso já em agosto de 2015", revela.
Questionado se teria grampeado a própria esposa, Correa diz que foi uma falha. "Nunca ouvi minha esposa. Confundi e inseri o dela. Quando identifiquei o erro, encaminhei um ofício para a operadora pedindo para encerrar a escuta. Não ouvi nada", contou. Revela que a jornalista Laryssa Malheiros teve seu telefone incluído nos grampos a mando de Paulo Taques. "Era jornalista e trabalhava na Casa Civil. O Zaqueu me passou o nome e telefone", frisou.
Correa assume que ele próprio incluiu o telefone da major nos grampos. "Investigação é oportunidade, e em oportunidade não cabe vaidade. O nome da major foi eu que incluí. Ninguém me pediu. Minha intenção era saber o que ela estava aprontando comigo. Fiquei com medo", contou.
O cabo contou que ouviu uma conversa do presidente Michel Temer com o ex-governador Silval Barbosa para agilizar a soltura da ex-primeira dama Roseli Barbosa. "Foi aí que teve uma ligação do Silval com o Temer, falando sobre agilizar o HC no STJ. Minha função era levar essa informação para meu superior imediato, que era ela, mas ela estava num salão de beleza. Quebrei minha cadeia de comando e acionei o promotor responsável, no caso o Marco Aurélio. Isso causou inveja e dor de cotovelo da major de uma forma absurda. Tive que sair do setor por conta de uma questão que levei direto para o promotor", afirmou.
O juiz Murilo Mesquita pergunta nome a nome as pessoas interceptadas ilegalmente ao cabo Gerson. Tendência é que audiência termina por volta das 6h00 deste sábado. Correa conta que teve problemas com a major Fleck. Assume que incluiu os telefones da oficial nos grampos para ouvi-la, mas não chegou a gravá-la porque justamente no dia Zaqueu mandou parar com tudo. Segundo Correa, o problema com a major foi na Operação Arqueiro 2. "Tivemos uma discussão ríspida. Eu ficava online com os alvos da Arqueiro 2. Se ligava, eu ouvia em tempo real", disse.
O cabo comenta que a testemunha Mário Edmundo foi ouvido como testemunha e mentiu em seu depoimento. "Ele era meu amigo. Eu inclui o número dele. Ninguém me pediu e a responsabilidade é minha. Ele tinha uma empresa que estava quebrando e eu tinha um dinheiro na minha poupança. Cerca de R$ 47 mil e transferi para conta dele. Era meu amigo, parceiro. Perdi minha cabeça porque ele pagava todo mundo menos a mim. Queria saber se ele estava pagando aos outros, menos a mim. Mas não ouvi os áudios porque ele desabilitou os dois telefones", assumiu. O promotor Alan do Ó chama cabo Correa de cabo Hércules e pede desculpas. Ao mesmo tempo, o promotor propõe publicamente um acordo de colaboração premiada ao cabo. O juiz pergunta a Correa sobre nomes de pessoas grampeadas ilegalmente.
Gerson desmente Zaqueu sobre a suposta utilização do e-mail do coronel para pedir escutas ilegais. "Eu tinha acesso ao e-mail dele para ter acesso as decisões de quebra de sigilo, mas nunca encaminhei nenhum e-mail do endereço dele. Nunca enviei um e-mail sequer para promotor. Se ele falou isso, mentiu", desabafou. Correa explica as assinaturas nos relatórios e como os nomes eram inseridos. "Eu nunca inventei nomes. Já vinham pronto", disse.
Já são mais de 12 horas de audiência e ela acaba de ser retomada no Fórum de Cuiabá. Correa garante que nenhum dos carimbos do suposto Núcleo de Inteligência é dele.
O cabo explica que nunca soube de nenhuma armação contra o governador para se justificar os grampos. "Depois que fui saber das supostas ameaças que a Kelly Arcanjo e Tatiane Sangalli estariam armando contra o governador, segundo o Zaqueu. A Polícia Civil só interceptou essas pessoas nas operações Forti e Querubim em virtude desses fatos. Se foi de maneira lícita ou barriga de aluguel o que eles fizeram, eu não sei. Nunca escutei esses áudios", assume. A oitiva é parcialmente paralisada para que Correa converse com seus advogados.
Gerson revela que entregou um pen drive com as gravações das ligações telefônicas de Tatiane Sangalli nas mãos de Paulo Taques dentro do Palácio Paiaguás. "A Tatiane trocava mensagens com uma servidora da Casa Civil, Caroline, e com Kelly Arcanjo. Foi aí que ele pediu o apoio da Polícia Civil. Não fiquei um minuto com Paulo Taques. Entreguei e fui embora", afirmou.
O cabo começa a explicar cada grampo ilegal em várias pessoas. Cita que um policial, Marcelo Costa, era administrador de uma OSS que tinha interesse em desviar dinheiro do hospital de Alta Floresta e a investigação era de interesse da secretaria de Saúde. "Eu entreguei um pen drive com os áudios para um servidor da secretaria de Saúde do nome Meira a mando do Zaqueu", contou.
Correa cita um diálogo com o promotor Marco Aurélio. "Perguntei a ele se tinha algo contra mim e se poderia ajudá-lo em algo. Se ele tivesse me perguntado, eu teria falado tudo que estou falando hoje para ele naquele dia. O Mauro Zaque nunca me procurou, o que entendo que foi uma atitude correta", diz.
O cabo passa grande parte do seu depoimento elogiando a postura ética de Mauro Zaque. Conta que várias auditorias foram feitas no sistema de interceptações do Gaeco sob a coordenação do promotor Marco Aurélio de Castro. "Eu estava tranquilo porque nunca foi feita interceptação ilegal no Gaeco", garantiu.
Correa diz que aconselhou André e Dorileo a delataram todo esquema. Ele confessa que Zaqueu lhe disse antes do escândalo explodir publicamente que Mauro Zaque já sabia de tudo, inclusive com um dossiê pronto.
Gerson segue seu depoimento. Assinala que quando a ex-primeira dama Roseli Barbosa foi grampeada, outras pessoas de sua família também foram legalmente. "Você começa a perceber que os interesses não eram apenas do Zaqueu, mas sim do Paulo Taques e do governador do Estado, o senhor Pedro Taques. Não tenho a menor dúvida disto. Nunca ninguém do MP ou Judiciário me pediu nada", desabafa.
O cabo Correa explica que o Sentinela ainda permitia acesso ao sistema do Gaeco. Somente ele e o cabo Euclides Torezan sabiam disso. Porém, ele nega ter feito qualquer atividade ilícita ou barriga de aluguel pelo Gaeco.
Sobre os R$ 34 mil para o sistema Sentinela, Correa diz que quem pagou foi Paulo Taques, quando já estava na Casa Civil. "Fui na casa dele. Não perguntei nada, foi no carro, peguei o dinheiro e pronto", assinalou.
Ele ainda confirmou que pegou R$ 24 mil com Evandro Lesco para montar a sala, mas nem sabia que a nota ia para o nome dele. Segundo ele, foi por causa do cheque. "Se o Lesco levou isso como empréstimo, levou cano, porque nunca paguei, nem vou pagar. Era de interesse comercial do Sentinela", assinalou.
Gerson explica que quem financiou o Sentinela foi Paulo Taques ao preço de R$ 34 mil. "O dinheiro foi transferido da minha conta para a do Marilson, que mentiu dizendo que não paguei". Com o Sentinela instalado, o cabo diz que os alvos eram colocados nos dois sistemas para não perder os áudios. O Sentinela foi testado até março.
Ele contou que pediu ajuda para o Coronel Ronelson Barros para aprimorar o sistema e que ele também só tinha acesso aos áudios dos militares. "Ele nem sabia que estava acontecendo barriga de aluguel e não sabia da sala", contou. Segundo o cabo, ele disse para Barros que a máquina funcionava dentro do comando da PM e era fiscalizado por Zaqueu.
Com andamento das interceptações, Gerson conta que houve interesse comercial na plataforma por parte dele, do cabo Torezan e do empresário José Marilson. "Marilson disse que nunca teve interesse, mas ele mentiu em juízo. Ele tinha interesse em comercializar e me procurou junto com o Torezan para saber a viabilidade. Foi quando surgiu a plataforma Sentinela", detalhou.
O interesse comercial pela plataforma surgiu entre novembro e dezembro de 2014, quando a placa Wytron queimou. Segundo ele, Marilson elaborou o projeto e o apresentou dentro do Gaeco. Em um ou dois meses, a plataforma ficou pronta.
Gerson continua, falando que em outubro de 2014, o coronel Zaqueu Barbosa lhe apresentou a 3º sargento Andrea e o cabo Cleiton Dorileo. Ele passou a ensinar o procedimento aos dois. "Eu indicava os números que eles deviam ouvir e excluía os outros". Gerson afirma que, com o trabalho dos dois policiais, diversas operações contra policiais ocorreram. "Tivemos resultados positivos e eficientes sim".
Correa explicou que os policiais alvos foram ouvidos por Dorileo e Andrea. Eles realizavam as escutas e resumiam o que era importante. Porém, segundo o cabo, o relatório era sempre de sua responsabilidade.
O cabo Correa conta que Zaqueu lhe contou sobre o grampo na amante do ex-secretário Paulo Taques. Segundo ele, Tatiane Sangalli foi ouvida porque recebia informações privilegiadas de dentro da casa do ex-secretário, apesar de não ser mais amante dele. Além disso, ela ameaçava o ex-secretário.
Gerson reafirmou que não ouvia as interceptações com conotação política. "Nem conheço a voz do José Rosa ou do José do Patrocínio. Eles, se não me falha a memória, só foram ouvidos durante o período eleitoral", assim como outros advogados e vereadores.
O cabo afirmou que não ouvia as conversas gravadas com conotação política. Segundo ele, as conversas eram gravas num pen drive e entregues nas mãos de Zaqueu. Na sexta-feira antes da eleição, disse ter entregado três pen drives a Zaqueu. "Eu já imaginava que alguém ia ouvir, mas não sei quem. Se era algum PM, Zaqueu, Pedro ou Paulo Taques".
Gerson diz ainda que todos os pedidos eram assinados pelo juiz da comarca de Cáceres. Ele diz ainda que não conhecia o termo "barriga de aluguel". "Fui saber pelo Fábio Galindo". Ele diz ainda que nunca falou com o coronel Lesco sobre os números a serem interceptados. Seu contato sobre isso era o coronel Zaqueu.
Em conversa, Gerson questionou Zaqueu sobre os motivos de pedir para ele fazer isso. O coronel respondeu que confiava nele. "Naquela noite eu não dormi. Na minha história, nunca entrei em nenhum serviço sem terminar e nunca disse não. Meu maior erro foi não ter falado não para o Zaqueu".
Sobre a publicitária Tatiane Sangalli, o cabo afirma que não constava na primeira "leva" de interceptações, assim como a deputada Janaina Riva ou algum desembargador. Gerson passou a se preocupar quando viu que o jornalista Muvuca estava entre os alvos dos grampos. "Lá, tomei conhecimento do pano de fundo, com informações de cada um dos alvos", completou Gerson.
Gerson conta que Zaqueu contou que Muvuca era uma "ameaça real" ao governador Pedro Taques, porque "batia" nele e tinha fontes dentro do Palácio Paiaguas. Além disso, falou que o coronel contou que o objetivo também era flagrar algum crime eleitoral das coligações adversárias.
Na semana da eleição, Zaqueu lhe apresentou uma nova "leva de números" para serem interceptados. Ele teve que fazer um novo relatório para pedir a liberação das interceptações. "Para minha surpresa, quando iniciou as interceptações, ele me explicou a inclusão de novos números de pessoas ligadas a campanha política de 2014, seja do Lúdio Cabral ou do Riva".
O cabo disse que todos os números estavam disfarçados de apelidos. Um dos alvos, segundo ele, era o jornalista José Marcondes "Muvuca", candidato ao Governo do Estado. Outro alvo teria sido o vereador de Cuiabá, Chico 2000 (PR). "Do jeito que veio, eu coloquei no papel. Nesse dia, o Zaqueu me revelou quem eram as pessoas", disse se referindo a advogados, assessores de vereadores, entre outros.
Após esse relatório, Gerson conta que foi chamado por Zaqueu para ir ao Comando Geral da PM. Ele disse que não sabia que o relatório seria usado para pedir interceptação, mas nisso veio uma decisão do juiz de Cáceres deferindo o pedido de escutas baseado no relatório de duas laudas. "Eu escutei e tentava atualizar, mas não dava conta sozinho", explica.
O cabo relata agora como começaram as interceptações. Segundo ele, pouco antes do dia 15 de setembro de 2014, o coronel Zaqueu apresentou números de telefones de policiais de Cáceres que estariam envolvido com tráfico. O primeiro relatório tinha duas laudas, mas não assinou. Segundo ele, "esse relatório foi o que iniciou tudo". Gerson diz ainda que este relatório não tinha barriga de aluguel.
Correa afirma que quem buscou o dinheiro foi o coronel Lesco, mas que ele acompanhou como "segurança". Todavia, reafirma que era Zaqueu quem conhecia Paulo Taques. Após o pagamento, ele afirma que começou a juntar peças para o CPU e assim instalar a placa de interceptações. O cabo Torezan, segundo Gérson, ajudou no projeto, mas não sabia do encontro com Paulo Taques. "Estava cumprindo ordens do superior dele".
Gerson afirma que em setembro de 2014 o sistema já estava pronto e instalado na sala comercial alugada. Segundo ele, a sala ficou repleta de cabos e o sistema tinha capacidade para 16 interceptações.
O cabo da PM volta a falar sobre seu encontro com Paulo Taques. Ele afirma que no restaurante na estrada de Chapada ficou sabendo que a conotação das escutas seria política. "Como tinha entrado no jogo, não recuei", disse. Ele diz ainda que não sabe se o dinheiro falado por Paulo Taques era do "bolso dele" ou da campanha do primo. Ele conta que, depois do primeiro encontro, buscou R$ 50 mil com o ex-secretário. O dinheiro foi entregue em "espécie" num escritório que não sabe dizer que é de Paulo Taques ou num comitê de campanha.
Gerson Correa Junior passa a comentar sobre os boatos que surgiram durante sua prisão. "Durante todo tempo que fiquei preso e o tempo em que estou em liberdade, muito se falou que eu me calei porque tinha recebido R$ 4 milhões para permanecer calado". Ele nega e afirma que sua situação financeira é "precária". "Vivo do meu salário e do salário da minha esposa".
O cabo diz que até amigos próximos acham que ele recebeu dinheiro, mas que irá esclarecer a situação. Ele nega ter feito delação premiada, mas vai contar o que sabe. "Se errei, vai ser esclarecido", diz o militar, que chora.
Em seguida, Correa passa a contar quem passou a pagar as despesas do núcleo. Segundo ele, dias depois de alugar a sala, Zaqueu lhe ligou falando para encontrar uma pessoa que iria pagar as despesas. Ele, então, foi com o coronel Evandro Lesco ao restaurante Reserva, na estrada de Chapada. No estabelecimento, estava o advogado Paulo Taques.
Gerson afirmou que percebeu que Lesco também não conhecia Paulo Taques e que também foi lá por ordem de Zaqueu. No local, o advogado - que a época coordenava o jurídico da campanha de Pedro Taques ao Governo - afirmou que iria arcar com as despesas e tinha conhecimento do que seria gravado.
Gerson Correa Junior fala sobre a sala alugada num prédio comercial na região central de Cuiabá. Segundo ele, o local foi criado para abrigar o núcleo de interceptações da PM e não uma sala de estudos, como falou o coronel Zaqueu. "Tudo que fiz foi por ordem do 03 da PM, que era o subchefe de Estado Maior, Zaqueu Barbosa. Gerson afirma que criou a história de sala de estudos porque não poderia criar despesas em nome da PM. "Como ia criar uma sala para a PM sem passar por processe licitatório", questionou.
O cabo detalha que, das duas placas, uma era para telefonia fixa e outra para móvel. Segundo ele, a destinada a telefonia fixa nunca foi usada.
Correa explica que as placas eram da marca Wytron e vinham junto um "hard lock", que é uma espécie de pen drive que liberava a placa para interceptações. Ele afirma que não conhece nada de TI (Tecnologia de Informação) e sugeriu que o cabo Euclies Torezan o ajudasse. Na ocasião, Zaqueu Barbosa pediu para ele escrever um projeto de interceptação no âmbito da PM.
Correa explica que em julho de 2014 recebeu um telefonema do coronel Zaqueu Barbosa, então sub chefe do Estado maior da PM. O coronel afirmou ao cabo que queria fazer um "limpa" na PM para retirar militares que praticavam condutas criminosas. Na ocasião, o oficial lhe apresentou duas placas e falou que queria implementar o sistema de interceptações na PM. Gerson pegou as placas e ficou de analisar a viabilidade delas.
O cabo começa falando que ingressou na Polícia Militar em 2003 e, já em 2004 passou a atuar junto ao Gaeco, onde atuava no setor de interceptações. Ele ficou no órgão ligado ao Ministério Público até 2016. “São 12 anos de serviço, sempre no setor de interceptações. Posso afirmar que participei de mais de 200 operações”.
A oitiva começa com Gerson Correa reflexivo e sinaliza que vai colaborar com a Justiça. "A busca da verdade real perfaz alguns caminhos que passam pelos esclarecimentos feito pela minha pessoa", disse. Para trazer a verdade, Gerson diz que arrolou o máximo de testemunhas, entre elas ex-secretários e até o governador Pedro Taques (PSDB). Ele ainda diz que compreende o fato das testemunhas que são investigadas no processo que tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça) não terem colaborado. "Se errei ou não, não me cabe julgar, mas vossas excelências", colocou. (Com informações do jornalista Leonardo Heitor).
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