Parlamentares conservadores que apoiam Jair Bolsonaro (PL) criticaram a opinião da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) de que o ex-presidente deveria estar no Brasil para liderar a oposição e de que o foco dos conservadores deve ser o presidente Lula (PT), e não mais o STF (Supremo Tribunal Federal).
"Tenho dito que, como deputada, minha briga não pode ser a mesma da legislatura passada. Eu tinha o papel de defender Bolsonaro e o governo, qualquer um que os atacasse tinha que virar um alvo meu. Nesta legislatura, Bolsonaro não é mais presidente, então nosso alvo tem que ser Lula, seus feitos e desfeitos", disse Zambelli em entrevista à Folha de S.Paulo.
"A gente está em outro patamar, agora não é hora de bater no STF", completou a deputada.
Na mesma entrevista, Zambelli fez outra crítica a Bolsonaro. "Na live que Bolsonaro fez em 30 de dezembro, ele tinha que ter deixado claro o que pensava. Ele seria um remédio [contra o golpismo] se tivesse dito que era para as pessoas saírem dos quartéis", disse ainda a deputada.
Como revelou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Bolsonaro disse a aliados acreditar que a parlamentar fez um acordo com o ministro Alexandre de Moraes, do STF, para retornar às redes sociais e se ver livre da ameaça de ser presa.
Na entrevista, a deputada afirma que achou que seria presa e diz que procurou o gabinete do ministro para distensionar a relação.
Nesta quinta-feira, em suas redes, Zambelli diz que não criticou Bolsonaro na entrevista e pede que seus seguidores leiam a entrevista completa.
Nos bastidores, deputados bolsonaristas que já eram críticos à deputada dizem que ela não era fiel ao ex-presidente e queria apenas se promover. No círculo de Bolsonaro, Zambelli vem sendo chamada de "nova Joice", em referência à ex-deputada Joice Hasselmann, que era fiel aliada do ex-presidente, mas passou a ser uma opositora.
Para esses deputados, Zambelli está aderindo ao pragmatismo político pelo medo de ser presa e, atualmente, é consenso que os ataques têm que ser concentrados em Lula em vez do STF.
No PL, parte dos parlamentares faz pressão para que Bolsonaro volte ao Brasil mesmo sob o risco de ser preso, enquanto parte acredita que ele deve se preservar, descansar e esfriar a cabeça na Flórida, onde está desde o fim de dezembro.
O vereador Fernando Holiday (Republicanos), ex-MBL agora convertido ao bolsonarismo, afirmou nas redes que "é fácil criticar Bolsonaro agora que o cerco apertou".
"Mas para conseguir votos eram só sorrisos e fotos. Carla Zambelli é deputada graças a Bolsonaro e ajudou a detonar sua campanha na reta final", disse no Twitter.
À reportagem ele classificou a entrevista de Zambelli como "covardia" e "traição". "É dever da direita que ainda preserva o seu caráter defender o legado do único governo de direita das últimas décadas", disse.
Em relação ao gesto de Zambelli ao STF, Holiday afirmou que outros parlamentares também tiveram redes sociais bloqueadas, como Nikolas Ferreira (PL-MG), e não agiram da mesma maneira.
"Acredito que a grande maioria vai continuar defendendo não só o legado do presidente [Bolsonaro] como seguirá na direita mais conservadora. É um grupo consistente e foi o único capaz de fazer frente ao Lula", disse ele.
O comentarista Caio Coppolla, ligado à direita, criticou a posição da deputada a respeito das concentrações bolsonaristas nos quartéis.
"Era só o que faltava! O povo ficou mais de dois meses pacificamente em frente aos QGs, tudo dentro da lei. Então o povo não pode questionar o processo eleitoral, deputada?", escreveu no Telegram.
Questionado sobre o foco da oposição com Lula na Presidência, o deputado federal Junio Amaral (PL-MG) disse discordar da deputada. "Acho que os ataques têm que ser direcionados a tudo que estiver errado, seja Lula, seja o STF, até à oposição, se agir de maneira errada", afirmou.
"Para que a gente seja o mais correto possível e corresponda à expectativa dos nossos eleitores, temos que ser fiel aos nossos valores. Não estou dizendo que vale a pena continuar os ataques ao STF, mas não dá para se pautar em estratégia e não manter a nossa essência, que é lutar contra tudo que esteja em oposição aos nossos valores", completou.
Amaral diz ainda que só Bolsonaro pode avaliar se é melhor estar no Brasil ou nos Estados Unidos e que não vê outros nomes com a mesma capacidade de representação que o ex-presidente para os eleitores conservadores em 2026 --Zambelli afirma que a direita deve trabalhar em outras opções em 2026, caso o ex-presidente esteja inelegível.
A deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB-SP), que mantém independência em relação a Bolsonaro e faz críticas a ele e a seus aliados, diz que as declarações de Zambelli vão na direção de problemas do bolsonarismo que ela aponta há muito tempo.
Janaina já repudiou a postura beligerante e disse que a derrota para o PT foi, em parte, culpa do ex-presidente e de apoiadores radicais.
"Tudo que ela [Zambelli] diz ter percebido agora, eu alertei", afirma a deputada. "Alertei em plenário, alertei nas redes, alertei diretamente a ela e fui tratada por ela feito um cão sarnento. Eu alertei o próprio presidente, que preferiu mandar seus apoiadores não votarem em mim", segue ela, que concorreu ao Senado em 2022.
"Sou uma pobre deputada em final de mandato. Ela disse o que era preciso para se eleger. E agora diz o que é preciso para se manter no poder. E assim caminha o Brasil."
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