A delegada da Polícia Federal, Karoline Araújo Diniz, que conduziu em Mato Grosso a operação “ET CATERVA”, que investiga fraudes no auxílio emergencial e em precatórios judiciais, relatou como ocorreu a participação de dois servidores do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT) - um de Mato Grosso e outro servidor identificado pelas iniciais J.L.B., que atuou no Estado, mas foi transferido para o TRE do Ceará, em dezembro do ano passado.
“São dois servidores do TRE, os dois lavavam dinheiro, o valor sacado passava pelas contas deles para depois pulverizar em outras contas até chegar na liderança e na operação e na confecção do e-Título. As fotos dos estelionatários, que se dirigiam na agência da Caixa para sacar, eram incluídas no e-Título do beneficiário do precatório. Ainda, tinha um empregado do TRE que fazia o acompanhamento pessoal do estelionatário junto a agência da Caixa. Ele se identificava como servidor do TRE, se aproveitava dessa confiança e apresentava o estelionatário como um parente, um conhecido”, afirmou a delegada.
Ela explica que o esquema funcionava do seguinte modo: “O empregado cooptado pelos estelionatários, repassava informações dos precatórios para as lideranças da organização. Eram informados valores a disposição, tempo que estava disponível para saque, dados do beneficiário para que a liderança da organização confeccionasse os documentos (falsos) a fim de realizar o saque. Eles sacavam o valor em várias agências espalhadas pelo país e difundiam em várias contas”.
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A delegada apontou que foram feitos saques até de beneficiários já falecidos: “Tinham beneficiários já falecidos, tinham envolvimento de servidores da Caixa, incluindo gerentes, que faziam a consulta dos precatórios e repassava essas informações”, afirmou.
Contudo, após a suspensão de pagamento dos precatórios judiciais pelo Governo Federal, os estelionatários migravam para o auxílio emergencial. Segundo ela, foram identificados mais de 1570 saques de parcela do auxílio que totalizam um rombo de mais de R$ 1,3 milhão em parcela do auxílio.
“Somente de abril do ano passado até março deste ano. Com auxílio de Caixa, nós podemos comprovar a participação por meio de imagens de circuito de TV das agências. Eles tinham bancos de dados que eram compartilhados com empregados da Caixa, o empregado da Caixa autorizava o saque. Os saques eram feitos em lotes a cada minuto, com a diferença de poucos segundos o estelionatário sacava diversos valores de CPFs diferentes”, relatou.
Em Mato Grosso, foram identificadas a participação de 14 pessoas. Segundo a delegada, o advogado, identificado pelas iniciais O. S. D., atuava mediante a falsa procuração, para levantar informações sobre os precatórios.
“Em Mato Grosso tivemos uma prisão, identificamos a participação de empregados da Caixa, um advogado e servidores do TRE. A liderança atuava em Goiânia, no Estado foi apreendido R$ 849 mil em uma mala e encontramos mais de R$ 5 mil em Mato Grosso com um dos investigados, que se encontra em um leito de hospital internado com Covid-19”, relatou.
O TRE-MT enviou nota lamentando ter um servidor efetivo investigado por prática ilícita. Veja:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Considerando a Operação ET Caterva, deflagrada pela Polícia Federal no início desta quarta-feira (31.03), para investigar um grupo que promoveu fraudes em precatórios e no auxílio emergencial.
Considerando que um dos investigados, Ailton Lopes dos Santos Júnior, é servidor efetivo da Justiça Eleitoral de Mato Grosso, o TRE informa que:
1 - Nesta manhã, prestou total apoio a Polícia Federal no cumprimento de mandado nas dependências da Instituição, ocasião em que equipamentos e documentos foram apreendidos.
2 – Permanecerá à disposição da Polícia Federal para auxiliá-los com a entrega de novos documentos, informações, esclarecimentos ou qualquer outra medida que seja necessária para a eficácia da investigação e elucidação dos fatos.
3 – Que aguardará o desenrolar das investigações para adotar as providências legais e administrativas de sua competência, no entanto, por precaução, irá afastar o servidor investigado do cargo de chefe de seção que atualmente exerce. A medida temporária é necessária para garantir a lisura do processo.
4 - O TRE-MT lamenta ter um servidor efetivo investigado por prática ilícita, situação essa nunca vivenciada em toda a sua história. A Instituição sempre defendeu e exigiu que seus servidores tenham conduta compatível, não somente com a moralidade administrativa/funcional, mas também, com a moralidade social em sua vida particular, portanto, fará de tudo para garantir que esses princípios éticos sejam respeitados em nossa sociedade.
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