por Geraldo Araújo*

A Justiça tarda, mas não falha. Expressão verdadeira criada na fé e crença das pessoas, que acreditam e se reconfortam na Justiça Divina, diante da demora e da falta de Justiça dos homens.

No entanto, a justiça tardia provoca resultados devastadores que prejudica a população causando falhas irreparáveis.

Vejamos o caso do lento processo judicial por uso de caixa dois e abuso de poder econômico que culminou com a anulação do registro de candidatura do então prefeito de Várzea Grande, Wallace Guimarães.

Já no início da campanha, o então candidato a prefeito Wallace, que exercia o cargo de deputado estadual pelo PMDB, aparecia nos programas eleitorais da TV ao lado do então governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, prometendo se eleito resolveria todos os problemas da cidade. Prometendo um alinhamento político e administrativo com o governo do Estado e governo Federal, porque pertencia ao partido do governador e tinha em sua coligação o partido da presidente Dilma Rousseff.

Em sua propaganda eleitoral, vários ministros, secretários de Estado e outras personalidades ligadas à administração estadual e federal apareceram prometendo solução para qualquer problema que existisse em Várzea Grande. No entanto, nenhum deles apareceu para ajudar a cidade, pelo contrário, temos notícia de que alguns políticos apareceram com empresários a tiracolo para firmar contratos milionários com a prefeitura.

Mas, voltando ao tema proposto, lentidão da Justiça. Lembro que a brilhante sentença proferida em 05 de maio, pelo juiz eleitoral José Luiz Leite Lindote Lima,  demorou mais de dois anos e cinco meses para ser prolatada, pois a eleição foi em 07/10/2012.

Culpa de uma legislação eleitoral que permite todo e qualquer tipo de ato para que o processo demore - e neste ínterim gestores mal- intencionados podem praticar atos que dilapidem erário e prejudiquem as pessoas que precisam do serviço público.

Ao que tudo indica, é o caso em tela, porque parece que o grupo do prefeito destituído e seu grupo político fizeram de tudo para a Justiça tardar e, talvez até acreditassem que ela ia falhar.

Walace fez uma administração com poucos amigos e voltada para estes amigos que financiaram o caixa dois em sua campanha eleitoral.

Sem dúvida nenhuma, agiram como uma associação criminosa e resolveram correr o risco de serem descobertos a qualquer momento, praticaram todo tipo de rapinagem possível e com uma voracidade incrível.

Empresas foram criadas, transformadas para contratar com a prefeitura obtendo lucros que desafiam qualquer análise séria de mercado e concorrência. Basta lembrar o caso investigado pelo GAECO da empresa que vendia sapato e calcinhas na avenida Júlio Campos e que se transformou em uma milionária construtora, com ganhos também milionários da contratante Prefeitura Municipal de Várzea Grande.

Também podemos citar o caso do proprietário de uma pequena gráfica no bairro Cristo Rei, que montou uma empresa de máquinas e transporte e se tornou um fenômeno em vencer licitações e contratos com o Paço Couto Magalhães. Neste caso, a empresa não tinha nenhum veiculo registrado em seu nome e tornou-se a maior locadora de automóveis, caminhões e máquinas para o poder publico municipal.

Ficamos por aqui, com apenas estes dois exemplos, mas, poderíamos fazer uma relação de outros empresários e empresas que participaram deste milagre econômico promovido pelo prefeito Wallace Guimarães e seu grupo.

Aliás, oportunamente o prefeito até tentou explicar o fenômeno de ajudar estes poucos amigos, na maioria envolvida no processo de caixa, quando afirmou: “Quem ajuda a ganhar ajuda a governar”.

Então o prefeito e seus amigos enquanto esperavam o desenrolar do processo judicial praticaram desmandos e injustiça social.

Saúde uma lástima, gente que sofreu com a perda de entes queridos, por falta de medicamentos e mau atendimento no Pronto-Socorro municipal.

Sofrimento e constrangimento dos pacientes e familiares nos corredores imundos da unidade de saúde. Sofrimento dos servidores da saúde que na maioria das vezes não conseguiam fazer nada por falta de condições de trabalho provocada pelo colega Wallace, médico, concursado na saúde municipal, que na condição de prefeito não cumpriu nada do que prometeu.

Na educação, as creches e escolas municipais não recebiam nenhuma atenção e, se não fossem os servidores dedicados já teria falido totalmente o sistema. Esse tratamento com falta de alimentação e deficiência nas condições de estudo provocam atraso no aprendizado dos alunos que, certamente, terão dificuldade na sequência do ensino.

Situação bem diferente das empresas que foram contratadas para reformar as unidades escolares e fornecerem alimentos. Estas sim, de propriedade de amigos de Wallace foram altamente lucrativas.

Isso tudo é a comprovação da necessidade da celeridade no julgamento de ações judiciais que envolvam a coletividade. A população não pode esperar e sofrer com processos lentos e recursos demorados.

A prometida reforma política proposta pela presidente da república tem que promover a agilidade da Justiça Eleitoral, para evitar o sofrimento do povo, para que ele não pereça como aconteceu aqui em Várzea Grande.

Recordando que Wallace teve 47.338 votos, o que equivale a 35,14% dos votos válidos; a segunda colocada que agora tomou posse Lucimar Campos teve 44.286, que corresponde a 32,87% dos votos e o terceiro colocado Tião da Zaeli 41.272 votos (30,63%). Portanto, a maioria da população demonstrou já na eleição, que não era favorável ao prefeito eleito, que a legislação eleitoral não observa.

Ao longo do processo de caixa dois e da administração de Wallace e seus amigos, o índice de reprovação aumentou para 90% conforme pesquisas.

Por tudo isso, nosso processo eleitoral necessita não só de urnas eletrônicas de última geração, mas de normas eleitorais e processuais correspondentes.

Quanto à administração que se inicia com a cassação do prefeito, espero que façam tudo diferente do que Wallace e seus amigos fizeram, pois a população não pode continuar sofrendo a espera da Justiça do céu. Que promovam diligências para apuração e responsabilização dos atos ímprobos que foram praticados na gestão do peemedebista.

Para finalizar, não tardiamente, fazemos justiça aos magistrados, promotores, advogados, testemunhas e serventuários da Justiça e do Ministério Público, que mesmo com leis que permitem a lentidão da justiça conseguiram realizá-la, dando o melhor presente à população de Várzea Grande, uma nova administração, no mês de seu aniversário de 148 anos!

*Geraldo Araújo é advogado e jornalista