por Roberto de Barros *
Dizer que 2016 foi um ano singular é trivial, visto que cada ano carrega alguma peculiaridade. O que o faz despontar dos demais é o conjunto da obra.
Perdemos 2 presidentes, e quase um terceiro, Renan Calheiros, que só não caiu por um acordo obtuso: Dilma, presidente da república, sofreu o impeachment, e o Eduardo Cunha, presidente da Câmara, não só foi destituído do cargo, como acabou preso, o que resultou num certo prazer nacional.
Dilma que não era amada, deixou de ser temida, problema fatal para qualquer governante, o que fez com que fosse retirada de cena. Eduardo Cunha de tanto que fez de errado, deixando pequenos rastros por toda parte, a começar pela Suíça, acabou sucumbindo na sua arrogância e abuso do poder, acreditando que jamais seria atingido.
E o Renan, se ainda mantém a presidência do Senado, diminuindo muito a casa, pelo menos não pode assumir a presidência da república. O país, é verdade, não melhorou com a ausência dessas pessoas, mas pelos menos deixou de se prejudicar cada vez mais.
No pouco tempo que o governo Temer teve para mostrar serviço, mostrou-se incompetente, irresoluto, improvisado, perambulando pela política de favores, cedendo à pressão dos grupos menos importantes, e não dando a mínima importância para os grupos importantes, enfim, todos da classe média para baixo.
Para esses o ônus da crise, mais trabalho antes de se aposentar, menos recursos na educação e na saúde, menos segurança e acesso a justiça, menos direitos trabalhistas, mais sacrifícios.
Dos ricos, das fortunas, do sistema financeiro nada a cobrar ou fazer contribuir para a saída da crise, apenas garantias que a riqueza, as fortunas e o sistema financeiro não serão atingidos pelo esforço social pela melhora nacional.
O congresso deve ser lembrado pelo conjunto de maldades que realizou contra a população e o excesso de benesses que se deu. Num orçamento cheio de sacrifícios para as áreas vitais da vida social, aumentaram a verba do Fundo Partidário, triplicando seu valor.
Os deputados aprovaram tudo que recai no bolso ou no sacrifício do povo, tudo que beneficia a si ou aos seus negócios, e todo esforço da sociedade civil para fazer uma lei anticorrupção foi desfigurada pelos deputados, na calada da noite, para que continuem não apenas com a imunidade, mas com a impunidade, que é o que mais eles praticam.
A economia que foi uma lástima esse ano, tende a se manter assim, o que é um bom sinal, pois devido à incompetência dos governantes e políticos, poderia estar piorando ainda mais. Não há um alento no futuro, pois que tudo é instável, as leis, as regras, as decisões, enfim, é um tempo em que nada está garantido, e direitos estão a todo tempo sendo ameaçados pela sanha legislativa nacional, que muda leis quando deveria mudar a realidade.
Não há falta de leis, o que há é falta de garantia que as mesmas serão cumpridas, a começar pelas autoridades responsáveis pela sua manutenção e coação. Em termos legislativos somos bem criativos, principalmente na forma de burlá-las, pois que as leis são tão elásticas, e dependendo do advogado e do juiz toda interpretação é possível.
Pessoas famosas morreram, e ainda que a fama possa eternizar, para o bem e para o mal, o fato é que a eternidade está restrita aos poucos que são capazes de realizarem coisas extraordinárias. Dentro de alguns anos saberemos aqueles que continuarão lembrados. Acidentes fatais aos montes aconteceram, mas isso acontece todo ano, pois que os erros humanos, ainda que possam ser prevenidos, não podem de fato ser impedidos.
No mundo coisas estranhas ocorreram, a saída dos britânicos da Europa unificada, a eleição de Donald Trump, e o aumento de ações terroristas nos países mais ricos, revelam um mundo em transformação para pior, onde as nações se fecham, acreditando erroneamente que se isolando ficarão imunes as mudanças globais ou as populações que fogem dos conflitos.
O mundo que parecia caminhar para uma compreensão planetária, percebendo que o conflito de um lugar atinge a todos, mesmo aos distantes, agora parece caminhar para cada um se isolar no seu reduto, querendo deixar de fora os conflitos dos homens pelo mundo.
Por fim, para não dizerem que só mencionei desgraças, pode-se elogiar o fato da ocorrência das olimpíadas sem que tenhamos motivos para nos envergonhar. A única coisa vergonhosa nas olimpíadas foi a atuação do nadador norte-americano, desmascarado por uma polícia desacreditada, mas que no caso foi suficientemente eficiente para mostrar a arrogância dos nadadores, que acreditavam que num país sem lei, qualquer estória conta.
A polícia merecia ficar com a medalha do medalhista folgado, que zombou das leis e das autoridades nacionais.
No mais, um bom ano a todos.
Roberto de Barros Freire é professor do Departamento de Filosofia/UFMT