*Wilson Pires
Sessenta e nove anos atrás, um jovem de 28 anos lançou mão de sua terra natal, Nossa Senhora do Livramento e veio para Várzea Grande, tentar a sorte. Manoel Bernardo de Barros recordava com orgulho e satisfação daquele tempo. Filho de João Norberto de Barros e Ana Francisca de Barros, “seo” Manoel nasceu em Livramento, no dia 20 de agosto de 1917. Permaneceu em sua terra natal até 1937, quando foi para o quartel. “Eu servi no Forte de Coimbra”, relembra. Cumpriu o serviço militar e tão logo, deu baixa, voltou para o município de Nossa Senhora do Livramento.
Iniciou atividades profissionais no comércio. “Era um bolicho, de propriedade do saudoso Honorato Pedroso, localizado no Buriti Escuro, município de Acorizal”. Lá, “seo” Manoel Bernardo de Barros trabalhou de 1938 até 1940.
Em 1941, procurando novas opções profissionais, seo Manoel deslocou-se para o município de Poconé. E foi nesta cidade, em 1942, que se casou com Maria do Carmo Pereira Barros. Desse relacionamento, surgiram oito filhos: Eli Sotero de Barros, Sebastião Norberto Batico de Barros, Terezinha Barros, Gonçalo Sávio de Barros, Lenir Barros Morais, Ivo Aparecido de Barros, Ana Vicência de Barros e Luiz Antonio de Barros.
CIDADE INDUSTRIAL
A vinda do casal para a terra de Couto Magalhães ocorreu em 1946. “Seo” Manoel, recordava até mesmo a data: “chegamos a Várzea Grande no dia 14 de setembro. A vinda para a Cidade Industrial, acrescenta, ocorreu devido um convite por parte do saudoso Honorato Pedroso de Barros. Aqui rapidamente, estabelecemos comércio”.
O primeiro empreendimento do casal, em Várzea Grande, foi à compra do armazém do senhor Francisco de Paula. Foi em 1948, desta vez na Av. Couto Magalhães, que “seo” Manoel partia para um investimento forte. O funcionamento principal ficava por conta de uma máquina de arroz. “Lá tinha de tudo, até mesmo leiteria”, conta. Nesse novo empreendimento, seo Manoel, ao lado da esposa, desenvolveu atividade por 20 anos.
O casal recordava que esse foi um dos melhores tempos vividos em Várzea Grande. “Era uma espécie de chácara, onde mexíamos com tudo, desde a criação de animais, aves, até a plantação”. Mas a atividade comercial não parou por aí. Em meados de 1970, seo Manoel optou pelo ramo do comércio, e ficou com as atividades profissionais por mais dez anos. Em 1980, se aposentou.
POLÍTICA DOMÉSTICA
A vida de seo Manoel Bernardo de Barros sempre esteve ligada de forma indireta, na política sucessória do município. “Sempre participei do processo, inclusive com vitórias”. Conforme recordava, seo Manoel nunca perdeu uma eleição na Cidade Industrial.
O melhor tempo vivido na terra de Couto Magalhães, relembrava, foi de 1946 a 1956. Apesar de não haver infraestrutura na cidade, “nós ganhamos muito dinheiro naquela época”.
A vitória profissional, conforme lembra, foi também graças ao apoio do empresário Murilo Domingos. “Ele foi muito bom comigo. Certa vez, sem nenhum dinheiro, procurei a Casa Domingos para comprar uma caixa de cada produto, visando à continuidade dos negócios. O Murilo Domingos dobrou o pedido, argumentando que poderia perder, mas iria junto comigo no novo investimento”.
Um detalhe interessante é que seo Manoel afirmou, que na cidade de Várzea Grande não havia diversão e nenhum tipo lazer, na época. “Pelo menos para mim, que trabalhava dia e noite”.
Das famílias tradicionais, ele recordava Júlio Domingos de Campos, João Elói, Manoel F. de Paula, Antonio Jacob, Os Monteiro e da Sarita Baracat. “Na época, a união entre os moradores era muito grande, e hoje, com o progresso, os contatos ficam mais difíceis”.
A CIDADE
Sobre o desenvolvimento de Várzea Grande, seo Manoel Bernardo de Barros fez questão de frisar que o progresso chegou, por aqui, durante a gestão dos Campos: Júlio e Jayme Campos à frente da Prefeitura Municipal. Questionado sobre qual a necessidade mais premente para Várzea Grande, seo Manoel foi categórico: “Aqui só falta mesmo é a construção e inauguração de um grande Estádio de Futebol”.
Torcedor assíduo do Clube Esportivo Operário, desde sua fundação, seo Manoel era fanático e acompanhava as partidas do Chicote da Fronteira. “Quando da fundação do clube, eu era, inclusive, sócio acionista. Nós participávamos com uma cota mensal visando às boas apresentações do Operário”.
POLÍTICA NA FAMÍLIA
Das pessoas que fazem parte da família de seo Manoel, apenas um filho, Sebastião Norberto Batico de Barros, decidiu partir efetivamente para a política partidária. Batico Barros, foi vereador, presidente da Câmara Municipal de Várzea Grande e deputado estadual. A projeção política, conforme conta seo Manoel, vem tradicionalmente por parte de familiares. “Eu fui convidado várias vezes para participar do processo eleitoral de forma direta, mas sempre indiquei alguém”. Ele recorda que certa época indicou Napoleão José da Costa, pai do ex-vereador Sebastião Fio da Costa, para disputar as eleições.
Com sua missão cumprida, como pai, avô e cidadão que faz parte da história dessa terra, seo Manoel Bernardo de Barros, morreu em Várzea Grande, aos 84 anos, no dia 16 de abril de 2002.
Wilson Pires de Andrade é jornalista em Mato Grosso.