Roberto da Matta então decretou: Joaquim Barbosa ganha a eleição.
E ganha no primeiro turno.
É o que o grande frasista britânico Samuel Johnson definia como o triunfo da esperança sobre a experiência.
Da Matta quer que JB ganhe.
Mas daí a isso se tornar realidade vai uma distância simplesmente intransponível.
Presumo que da Matta tenha partido de uma premissa correta: o cansaço da sociedade com a vida política como ela é.
É um fenômeno mundial.
Na Itália, isso foi dar em Beppo Grillo, um comediante que entrou para a política e carregou milhões de votos para seu partido recém-fundado.
Basicamente, o que Grillo dizia é que a política como ela é já não faz sentido. Na Itália, você gira aqui, gira ali, e vai dar em Burlusconi.
Muita gente concordou com Grillo, jovens sobretudo.
Na Islândia, o prefeito da capital Reiquijavique se elegeu, saindo também do mundo da comédia, com uma plataforma em que prometia toalhas gratuitas depois dos banhos de piscina pública.
Cansaço, absoluto cansaço dos eleitores de Reiquijavique com os políticos levou o humorista a se eleger.
O Brasil já teve um caso parecido: Collor. Ele negou os partidos tradicionais, fundou o seu e acabou na presidência.
Existe no Brasil desencanto com a política? Claro que sim. Mesmo petistas convictos provavelmente não gostem de ver Lula e Haddad com Maluf, ou Dilma com Afif. (Afif idolatra Olavo de Carvalho, que chama Dilma de terrorista.)
Enquanto esses pactos são feitos em nome do pragmatismo político, o Brasil patina no avanço social.
Claro, esses pactos têm seu preço: dou meu espaço da tevê, dou meus votos, dou minha bancada – mas não mexe em mim e nem em meus amigos.
É mais ou menos assim que as coisas funcionam. Muitos privilégios – que traduzidos em dinheiro representariam ganhos sociais expressivos – se sustentam por causa dessas alianças.
Isso quer dizer o seguinte: é possível, sim, que o eleitor brasileiro abraçasse um fato novo, como Grillo. Quem sabe ele fosse para o segundo turno com Dilma, dadas as alternativas miseráveis que estão no cardápio da oposição hoje.
Mas este fato novo não é Joaquim Barbosa.
Veja Grillo falando dois minutos, e depois repita a experiência com JB.
Grillo tem charme, tem carisma, tem discurso – e não está atrelado ao 1% que comanda o mundo político.
Joaquim Barbosa é pedante, se expressa com gongorismo, não tem carisma, não tem charme – e acabou sendo tragado pelo 1%.
Quem acredita que JB não representa o 1% acredita em tudo, na frase magistral de Wellington.
JB é o homem da elite predadora, aquele grupo minúsculo que tomou o Estado de assalto, com o golpe de 1964, e fez do país o campeão mundial da desigualdade.
O povo brasileiro é melhor que o mundo político brasileiro, e muito melhor que essa elite que fez do Estado sua babá.
O povo acordou. Entendeu, enfim, que seus interesses não coincidem com os da Globo, com os da Veja, com os da Folha, com os dos Mesquitas etc etc. E tem repetidamente mostrado isso nas urnas.
Não vai ser enganado pelo velho que aparece como novo.
Se aparecer alguém com uma proposta nova – basicamente, uma que acelere os avanços sociais que sob o PT vão em velocidade irritantemente baixa – tem boas chances de surpreender.
Mas JB, definitivamente, não é esse cara.
Aliás, é o oposto