Renan, o velho Renan, na presidência do Senado. A notícia gera um alarido formidável no circuito político das redes sociais.
Acho, pessoalmente, cômico. Tínhamos Sarney, que entregou o cargo em lágrimas, e agora temos Renan.
O que é pior, o riso de Renan ou o choro de Sarney?
Bem, o pior de tudo é o embate no Twitter e no Facebook entre defensores do PT e do PSDB em torno da eleição de Renan.
É quando o cinismo se encontra com a hipocrisia. Os tucanos acusam o PT de abrir a porta da presidência do Senado a um aliado sobre o qual pesam acusações de corrupção. (O acusador, o procurador-geral Roberto Gurgel, é alvo também de acusações, aliás.)
Os petistas se defendem lembrando que este mesmo Renan foi ministro da Justiça da FHC. Já era um homem desgastado, depois da tumultuada passagem pelo Planalto de seu conterrâneo Collor, de quem foi líder no Congresso.
Mas FHC não enfrentou críticas pela escolha de Renan. (Olhando para trás, FHC raras vezes foi atacado por nada que tenha feito. Foi um presidente mimado, sob este ângulo.)
Não é edificante a troca de acusações, pelo oportunismo dos acusadores, e pela baixa qualidade da defesa dos acusados. Se há um desgaste de imagem para o PT na eleição de Renan, e tenho sinceramente dúvidas sobre isso, ele não se desfaz simplesmente apontando o dedo para o cargo que FHC deu a ele no passado.
Mas sigamos, e tentemos buscar um pouco de racionalidade na discussão.
Primeiro, e antes de tudo, é preciso que se prove a culpa de Renan. Não basta acusar.
Depois, é talvez a oportunidade de discutir o funcionamento da política brasileira. No modelo de hoje, alianças complicadas são imperiosas, e em todas as esferas. Haddad teve que se compor com Maluf recentemente na luta pela prefeitura, e ele e seu mentor Lula foram duramente atacados por aqueles mesmos que, sabemos todos, silenciariam se Maluf optasse por Serra, como este gostaria.
O moralismo calculado tem pouco efeito prático hoje nos eleitores. Eles percebem o farisaísmo de cartapácios como os editoriais do Estadão, ou coisa do gênero.
Renan na presidência do Senado muda pouco as coisas no Brasil, a rigor. As decisões fundamentais dependem muito mais de Dilma, e até o Supremo é mais influente que o Senado.
E ele é inocente até que se prove o contrário, bem como Gurgel, aliás.
Que se reforme a política, até para que o país se livre dos chamados imortais das urnas, aqueles de que só nos livramos pelo caixão, de Quércia a ACM, de Maluf a Sarney, de Suplicy a Serra.
Renovemos. É um primeiro passo.
Mas, enquanto a reforma não ocorre, que sejamos poupados de demonstrações de moralismo maroto de quem quer apenas voltar a desfrutar das mamatas que o Estado pode oferecer.