O momento da explosão está se aproximando de forma rápida. A frase mais parece trecho de filme de ficção interestelar. Mas não é. Trata-se de parte do documento divulgado pela agência estatal de notícias KCNA comunicando oficialmente à Casa Branca e ao Pentágono que o Exército coreano aprovou um ataque contra o território americano, envolvendo possivelmente a utilização de armas nucleares.
Apesar de não haver perigo real de que mísseis nucleares coreanos atinjam a área continental americana, o governo dos EUA se preocupa com a possibilidade do jovem presidente norte coreano Kim Jong-un e seus generais causarem danos à Coréia do Sul, à ilha de Guam, uma das mais importantes bases militares dos Estados Unidos no Pacífico, e ao Japão, onde tropas americanas estão estacionadas.
A resposta do governo americano afirmando que vai proteger seus territórios e a de seus aliados na Ásia, apesar de já esperada, cria uma tensão na já complicada questão da paz no mundo. E nos faz pensar nas conseqüências das guerras vividas pela humanidade.
A freqüência e a intensidade delas no mundo deformaram a perspectiva de homens e mulheres comuns, além das de soldados e suas famílias. As guerras nos dois últimos séculos atingiram a maioria da população ao longo de várias gerações. O apelo às armas levou filhos, maridos, pais e irmãos para o campo de batalha, e milhões deles não retornaram a seus lares.
Segundo a revista World Watch, durante os séculos XX e XXI mais pessoas morreram em guerras do que em toda a história da civilização. Dados da ONU indicam que desde a criação das Nações Unidas, em 1945, mais de mil grandes conflitos ao redor do mundo, deixaram cerca de 20 milhões de mortos, isso sem considerar os mortos da segunda guerra mundial.
Nada pacíficos, os últimos 20 anos não foram diferentes, apenas acirraram conflitos anteriormente delineados. A ameaça coreana de utilização de energia nuclear, no entanto, vai além. Coloca em risco a vida de pessoas num outro patamar além dos tradicionalmente conhecidos. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que ameaças nucleares insuflam o medo e a instabilidade mundial.
As provocações do governo norte coreano, na visão do secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, não são apenas provocações mas representam um perigo claro e real. Mesmo à China, principal aliada da Coréia do Norte, não interessa insuflar o conflito. A participação chinesa tem sido a de apelar por calma e moderação as partes envolvidas no conflito.
Tudo indica, no entanto, que moderação não faz parte das atuais intenções do governo coreano, bom conhecedor de que diante do poderio americano as ameaças tem que estar calçadas. Segundo a agência sul-coreana Yonhap e o jornal japonês Asahi Shimbun, a Coréia do Norte parece ter instalado em sua costa oriental uma bateria de mísseis Musudan de médio alcance (3.000 km), suficientes para alcançar a capital sul coreana de Seul, assim como a base americana de Guam, e o Japão.
Fontes de inteligência militar citadas pela Yonhap, aventaram a idéia de que a Coréia do Norte poderia lançar um míssil no dia 15 de abril, aniversário do nascimento do fundador do regime comunista, Kim Il-Sung, falecido em 1994.
Pouco antes do anúncio do exército norte-coreano, o Pentágono informou na última quarta-feira sobre a mobilização de uma bateria antimísseis THAAD sobre a ilha de Guam, de onde decolam os B-52 que sobrevoaram a Coréia do Sul. Este sistema de defesa se soma à mobilização de dois destroieres Aegis antimísseis no Pacífico ocidental.
Em encontro no parlamento nos últimos dias, o ditador Kim Jong Un afirmou que "é com um forte poderio nuclear que a paz e a prosperidade podem existir" e informou que o país vai reativar todas as suas instalações nucleares, para produzir energia e para fins militares.
O anúncio recente da Coréia do Norte de que vai executar outro teste nuclear é um sinal de desafio às sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU, em represália pelo lançamento, dia 12 de dezembro de 2012, de um foguete que colocou um satélite em órbita. A acão foi vista por Washington como um teste de míssil balístico.
A multiplicação e o tom das ameaças coreanas inquieta a comunidade internacional.O vice-ministro russo das Relações Exteriores, Igor Morgulov, demonstrou preocupação pela situação explosiva perto de suas fronteiras no Extremo Oriente e a União Européia pediu à Coréia que se comprometa a favor da paz e da segurança renunciando à reativação de seu reator nuclear na central de Yongbyon.
"O problema é saber se o presidente Kim Jong Un, jovem e pouco experiente, é capaz de controlar a escalada contra os EUA dentro do Exército coreano ", declarou à imprensa Yun Duk-Min, professor da academia sul-coreana de diplomacia.
A despeito das reiteradas declarações de todos os países do globo em manter a paz mundial, vivemos sob a constante ameaça de que conflitos localizados, a maioria deles com a participação dos EUA, nos vários continentes, venham a se transformar numa guerra maior.
Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando morreram cerca de 9 milhões de pessoas, foi fundada a Liga das Nações, cujos princípios básicos eram "a proibição da guerra, a manutenção da justiça e o respeito ao direito internacional." Para o primeiro-ministro britânico à época, o galês David Lloyd George, ela "elevaria a humanidade a um plano superior de existência..." . Apenas vinte anos depois, eclodia a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que matou entre 40 e 52 milhões de pessoas.
E a história se repete. Terminada a Segunda Guerra, foi fundada a Organização das Nações Unidas e as esperanças de paz se renovaram. Esperanças que deram lugar a uma série infindável de guerras localizadas, tão numerosas que acabaram fazendo parte do nosso dia-a-dia.
O desmantelamento da União Soviética e o fim do comunismo no final da década de 80 trouxeram novamente a ilusão de um período de paz. Novos conflitos, porém, trataram de pulverizar a mais tênue esperança nesse sentido. O ataque de 11 de setembro as Torres Gêmeas, por exemplo, colocou em pauta outra polarização do poderio econômico mundial, embora muitos o enxerguem como questão religiosa.
Um dos aspectos mais assustadores das guerras é que suas conseqüências não tem data para terminar. Muitos civis continuam sofrendo e até morrendo mesmo após o conflito ser encerrado oficialmente. Mortes por explosões de minas não desativadas ao fim dos ataques é um destes aspectos macabros. O fato transforma a vida das pessoas em verdadeiras roletas russas.
No Camboja, não muito distante da Coréia do Norte, um de cada 236 habitantes do país já perdeu ao menos uma perna devido à explosão de uma mina. Quarenta e oito países do mundo exportam anualmente alguns milhões de unidades, dentre elas a categoria mais assassina chamada "mina antipessoal". Há cada vinte minutos em média uma pessoa é atingida por uma mina antipessoal em alguma parte do mundo.
Estas são cifras inconcebíveis, verdadeiras visões do horror. Isso, se tratando de guerras convencionais. Inimagináveis são para nós
conseqüências no caso de uma guerra nuclear. Atualmente 189 países fazem parte do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, vigor desde 1970, e do qual a Coréia do Norte se retirou em 1983.
O poeta e ensaísta alemão Hanz Magnus Enzensberger afirmou certa vez que o ser humano não se rege pelas leis naturais. Segundo ele, "os animais lutam, mas não fazem guerra, e o homem é o único primata que planeja o extermínio dentro de sua própria espécie e o executa entusiasticamente e em grandes dimensões".
Me vejo na obrigação de acrescentar que não é o ser humano que foge das leis naturais, mas sim alguns homens e mulheres que ao conquistarem o poder, abandonam as principais características humanas e se imaginam Deus. Com certeza, nestes momentos, estão mais tomados pela demência e a loucura do que pela divindade. Diante deste novo momento convoco a sociedade brasileira que se manifeste pela paz mundial.