Era uma vez um partido pobre, visto com desconfiança pelas elites, que tentava, pela quarta vez, conquistar o poder pelo voto. O momento decisivo, na construção desse projeto político, foi a aliança entre o operário Luiz Inácio Lula da Silva e o empresário José Alencar, que, a um só tempo, uniu capital e trabalho e quebrou a resistência ao PT nos grotões e recantos mais conservadores do País.
Lula chegou ao poder graças à tenacidade de José Dirceu, à capacidade de articulação de José Genoino e à dedicação de Delúbio Soares, três personagens hoje condenados pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa. Na construção das alianças e no esforço para garantir a governabilidade, partidos de aluguel foram cooptados – como sempre se fez e ainda se faz no Brasil – seja com recursos, seja com cargos.
Ocorre que, no meio do caminho, havia um Roberto Jefferson. Um camicase que cobrava uma conta cada vez mais alta pelo seu apoio e que, ao ser alvejado pelas primeiras denúncias, decidiu colocar a boca no trombone, acrescentando ingredientes de ficção ao enredo. Assim, a tradicional cooptação de aliados se transformou em “mensalão”, uma expressão que caiu no gosto do povo, mesmo que seu significado real não seja exatamente o que a palavra sugere.
Em paralelo, o governo do operário Lula e do empresário Alencar produziu uma transformação social inédita na história do País. Em oito anos, o Brasil saiu do colo do FMI e acumulou mais de US$ 250 bilhões em reservas, redistribuindo renda, retirando uma “Argentina” da situação de pobreza e conquistando respeito dentro e fora do País.
De agremiação pobre, o PT se transformou em partido rico, aprovado e apoiado pela grande plutocracia nacional. Nas eleições seguintes, de 2006, com Lula, e 2010, com Dilma, o terreno já estava aplainado. Arrecadar já não era mais um problema. E mesmo agora, nas disputas municipais, o PT dispôs dos recursos necessários para tocar campanhas políticas profissionais em todo o País.
Não por acaso, o PT foi o partido mais votado nas eleições municipais deste ano e está a um passo de conquistar São Paulo – o que pode ser decisivo para, daqui a dois anos, chegar também ao sonhado Palácio dos Bandeirantes, uma das máquinas políticas mais ricas e poderosas do País.
Esta é a natureza da guerra de vida ou morte que está em curso no Brasil. Dirceu, Genoino e Delúbio estão pagando caro pelo que fizeram no passado, mas se sentirão reconfortados se a recompensa vier a ser o fortalecimento do projeto político ao qual dedicaram suas vidas. Na verdade, não são senhores que, no poder, corromperam os sonhos da juventude. Os ideais dos três – certos ou não – continuam os mesmos. E todos estão prontos para a prisão.