Cassou-se um senador. Episódio marcante no cotidiano político brasileiro.
Bem mais ao se observar que este é o segundo em toda a história da Câmara Alta, e em ambos os casos os parlamentares mereceram a dita punição.
Isso porque feriram o preceito regimental da Casa, agrediram a instituição, desrespeitaram o cargo para o qual foram eleitos e contrariaram o eleitorado, que lhes assinou os contratos de trabalho, via urna eletrônica.
A cassação, portanto, era algo esperado e necessário. Mas, definitivamente, não o suficiente para ‘passar a limpo‘ o Senado, conforme tenta vender parte da mídia.
A menos que se queira acreditar em conto de fada, ou se deixar conduzir pelos embalos do oba-oba, quando a situação vivida é a do ‘epa-epa‘.
Não se quer dizer, de forma alguma, que se deva abrir mão da esperança de dias melhores, de uma fase promissora.
A tal fase pode acontecer. Porém não necessariamente a partir da última quarta-feira (11/07), com a queda do ‘rei de ouros‘, ou ‘de espadas‘ ou ‘de paus‘ - rei que chegou a atrair a atenção da imprensa e da população por sua tenacidade em favor da ética, dos princípios republicanos, que somava à sua sabedoria jurídica. Perfeito demais para um retrato de menos.
O desencantamento de agora, no entanto, foi maior com o que se sofreu ao saber a respeito dos ‘anões do orçamento‘, de aditivos que possibilitam desvios de dinheiro público e do próprio
mensalão, uma vez que a ética jamais foi a bandeira de quem se fazia passar por guardião dela.
Caiu, então, apenas um dos reis, o de ouros. Mas os de espada, os de paus e tantos outros - ainda que reis não sejam - permanecem de pé no tabuleiro de xadrez da política. Firmes e seguros.
Diferentemente do Demóstenes, que se encontrava sozinho e sem partido algum para lhe dar a mão, o pé ou qualquer coisa que pudesse servir de esteio, de sustentação ou de agarramento.
Situação distinta de outros - a exemplo de deputados e governadores - que, aos poucos, vão se desvencilhando da teia que os unem ao senhor Cachoeira.
Até mesmo a CPMI - criada para abafar o caso mensalão - tende a se enfraquecer ou, como dizem, a ser transformada em pizza.
Nesse sentido, então, o senador goiano tinha certa razão ao dizer que era um ‘bode expiatório‘. Isso, entretanto, não subtrai o seu comprometimento, nem as verdades trazidas pelas gravações dos telefonemas.
Verdades que contrapõem às pregadas por seus pronunciamentos feitos da tribuna e dos apartes no plenário, e nesta espécie de parigatos de palavras, prevaleceram as já veiculadas pela imprensa.
Esta última, rapidamente, apagou os traços da fotografia que se tinha como real, ou com a qual servia de apresentação do agora ex-senador.
Quadro revelador. Revela uma imagem distinta. Não que esteja fora do foco. Era a primeira que se encontrava toda maquiada, e, portanto, bem longe do seu sentido verdadeiro.
Em volta do novo desenho - o real - figuras se misturavam e se entrelaçavam, sob a coordenação de José Sarney, e deixavam à mostra uma estampa que tinha como destaque Collor de Mello, Renan Calheiros e o grupo que defende a tese que o mensalão do PT é obra da imprensa sensacionalista.
Estampa que, na verdade, enfraquece a luz da esperança de que um dia o Congresso Nacional possa mudar.