Ainda sob o choque da descoberta de que centenas de pessoas públicas tiveram seus sigilos telefônicos e de correspondência violados por um dos mais importantes tabloides ingleses, Lord Leveson foi designado pelo primeiro-ministro britânico, no ano passado, para investigar as relações entre a imprensa, a polícia e os políticos. A investigação tem o intuito de sugerir a regulação da mídia de forma a preservar a liberdade de imprensa no Reino Unido.
As investigações já duram pouco mais de um ano e elas têm revelado que a relação entre os grandes órgãos de imprensa e os governantes é muito mais próxima do que seria saudável supor. No caso brasileiro, há um debate ainda tímido a respeito do poder exercido pelos grandes conglomerados da mídia em moldar a opinião pública. Toda tentativa de regular a mídia deve ser vista e pensada com muita atenção, já que a liberdade de imprensa é um bem supremo de qualquer democracia.
Um problema central no Brasil é que os meios de comunicação não assumem claramente de que lado estão, quais são suas preferencias políticas. Temos uma segunda questão fundamental. O Estado em seus diferentes níveis é o maior financiador da mídia brasileira. Estima-se que cerca de R$ 3 bilhões sejam gastos pelos governos federal, estadual e municipal em publicidade e propaganda. E a tendência é de aumento.
Por exemplo, a Prefeitura de São Paulo aumentou 11 vezes os seus gastos de publicidade nos últimos sete anos. Isso sem falar dos gastos de empresas estatais. O Estado, como principal anunciante do País, tem poder decisivo em influenciar as redações dos diversos meios de comunicação, afinal é ele que paga a conta. A situação fica ainda mais dramática nos municípios. Na minha cidade, Jundiaí, o governo municipal gastou quase R$ 30 milhões no ano pré-eleitoral em publicidade e propaganda cujas atividades são coordenadas pelo agência de Duda Mendonça, ou seja, dinheiro público é usado para financiar um especialista em marketing político, o publicitário do mensalão.
Pelo Brasil a fora, muitas rádios e jornais municipais dependem pesadamente da propaganda das prefeituras para sobreviver. Com isso, prefeitos de todo o País conseguem influenciar decisivamente na cobertura da imprensa, transformando mídias locais em verdadeiros palanques dos donos do poder nas cidades. A situação se agrava ainda mais em ano eleitoral, como o que vivemos agora. Uma maior democratização da mídia brasileira passa necessariamente por uma diminuição do poder do Estado dentro dos meios de comunicação, cuja influência tende a ser nefasta, principalmente nas cidades de médio e pequeno porte.
A investigação conduzida pelo Lord Leveson indica no Reino Unido que quando políticos e barões da mídia se relacionam intimamente, a democracia pode ser maculada. No caso brasileiro, o Estado precisa sair das redações para o bem de uma efetiva liberdade de imprensa.