"Nunca ninguém pensou de modo tão tortuoso como nós"
Estamos progredindo, insinuaram os senadores ao cassar o mandato do colega Demóstenes Torres. E nem mesmo eles acreditaram. Os parlamentares que expulsaram Demóstenes sabem muito bem que, hoje, nenhum deles tem qualquer motivo para estar ali.
É fim de partida. Restam poucas peças se mexendo no tabuleiro, mas o jogo não termina. O relator, o revisor, e o autor do pedido de cassação encenaram à perfeição seus papéis, levando parte do público a acreditar que o mais importante para o Senado, naquele momento, era o que ocorria no palco, e não o que rola atrás da cortina.
Antes os males do parlamento se resumissem a tentativas de burlar as regras, pois ao menos seria possível dizer que alguns senadores cumprem seu papel. Mas, vítima das próprias limitações e do estrangulamento do Executivo, o Senado se transformou em mero aprovador de medidas provisórias – menor até que a Câmara, onde as bancadas ruralista e evangélica ainda fazem seu barulho.
É a decadência total, e nem uma cassação foi capaz de mascará-la. Poucas vezes as palavras de abertura do Fim de partida, do Samuel Beckett, fizeram tanto sentido: "Acabou, está acabado, quase acabando, deve estar quase acabando".