Agora, é oficial: o próprio governo federal já admite que a economia brasileira irá crescer menos de 2% em 2012, andando de lado assim como no primeiro ano do governo Dilma. Projeções de mercado, compiladas no boletim Focus, do Banco Central, apontam para uma taxa de 1,75%. Espera-se que, no fim do ano, com as medidas de estímulo anunciadas pelo governo, o Brasil atinja uma taxa anualizada ao redor de 4%.
Num mundo em crise, não é um desempenho tão ruim, especialmente quando se leva em conta que os níveis de emprego formal no setor privado vêm resistindo. De todo modo, os dados do PIB nesses dois primeiros anos não são troféus que possam ser colocados na parede pela presidente Dilma Rousseff.
Assim como a economia marcha devagar, quase parando, o mesmo ocorre no serviço público. Mais de 25 categorias entraram em greve, algumas infernizaram a vida da população com suas operações-padrão e alunos de universidades federais ainda correm o risco de perder o ano letivo. Diante do quadro de anarquia geral, a proposta que o governo oferece aos sindicatos – um aumento de 15,8% em três anos – é bastante conservadora.
São problemas distintos, mas que poderiam ser enfrentados com um mesmo remédio: uma política fiscal mais agressiva. Em resumo, o governo federal deveria abrir mão de alguns dogmas e perder o medo de gastar. Até porque a situação fiscal do País nunca foi tão confortável como agora. Em 2003, Lula assumiu o governo com a dívida interna acima de 62% do PIB. No ano passado, ela fechou em 36,5% e continua em trajetória de baixa, em razão da queda dos juros.
A política monetária de Dilma gera economias significativas nas contas públicas, mas não é a única janela que se abre para uma política fiscal mais expansiva. Outro fator que deveria estimular mais gastos públicos é o pacote de concessões anunciado na semana passada, em que o governo transferiu à iniciativa privada a oportunidade de investir em portos, estradas, ferrovias e aeroportos. Se o governo tirou o time de campo, em tese deveria ter mais capacidade de gastar em outras atividades.
Abrir a carteira, no entanto, não significa dar vazão à irresponsabilidade. Ocorre que desde a última ida do País ao Fundo Monetário Internacional, no fim do governo FHC, o Brasil tem adotado uma postura dogmática em matéria de política fiscal. Só se fala em superávit, superávit, superávit. Há momentos, no entanto, em que é preciso pensar diferente. E este talvez seja um deles.