Michael Palin, ex-integrante do Monty Python, grupo de comédia surrealista responsável por um famoso programa de TV britânico dos anos 70, depois de passar 25 anos viajando pelo planeta a serviço da BBC, terminou por chegar ao Brasil, "o quinto maior país do planeta", como a BBC nos informa obsequiosamente.
Michael Palin se define como "um heterossexual de 69 anos". Coisa estranha de dizer na introdução de um programa de TV. Ainda que talvez nem tanto se considerarmos o evidente problema da BBC com pedófilos envelhecidos como Jimmy Savile, morto em 2011.
Confesso que gostei bastante dos dois primeiros episódios de "Brazil with Michael Palin", que também será publicado pela BBC como livro ilustrado, com lançamento previsto para antes do Natal.
O primeiro episódio tratou do Nordeste, e o segundo, da Amazônia e de Brasília. Anthony Andrews, em artigo para o jornal "Observer", definiu a série de Palin como "uma parada de clichês culturais cuja repetição de maneira alguma requereria sua presença".
O terceiro episódio, nesta semana, mostra Palin no Rio, participando de uma parada de orgulho gay à bordo de um carro alegórico tripulado por travestis. O que pelo menos explica a declaração de heterossexualidade do apresentador.
Palin, em seguida, visita o Sul e São Paulo, onde conversa com FHC. A mensagem de Palin é a de que o Brasil é grande, diversificado e divertido.
E o país é, de fato, todas essas coisas. Mas o desafio da Copa e da Olimpíada será determinar se o Brasil é aquilo que o general De Gaulle declarou não ser: "um país sério".
Os críticos concordam com Andrews. O Brasil continua desconhecido do público em geral. O que se sabe são histórias de tráfico de drogas e esforços policiais de "pacificação".
Mas isso pode mudar em alguns anos, como demonstrou uma fascinante conferência realizada pela British Library nesta semana. A conclusão de "From London to Rio: Social Change and Sporting Mega-Events" é a de que a Copa promete impacto nacional muito maior que a Olimpíada. As estatísticas demonstram que os benefícios da Olimpíada de 2012 se concentraram de modo desproporcional em Londres. Escócia, País de Gales e as demais regiões da Inglaterra ganharam pouco.
O futebol tem escopo verdadeiramente nacional, envolve times com apoio local apaixonado e constante, e espantosos 61,1% dos brasileiros se declaram torcedores de futebol.
O Rio, como Londres, se beneficiará da Olimpíada. Mas o futebol tem o poder de transformar. Uma Copa do Mundo bem-sucedida no Brasil poderia até persuadir os jogadores brasileiros que saíram para fazer fortuna no exterior a retornarem ao seu país de origem.
Kenneth Maxwell é historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). Referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro, foi diretor dos estudos latino-americanos no Conselho de Relações Exteriores (NYC) e diretor de Estudos Brasileiros na Universidade Harvard (EUA).