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Opinião Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2013, 09:13 - A | A

Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2013, 09h:13 - A | A

A política dos curativos

Tem se a impressão, a julgar pelo discurso oficial, que tudo vai às mil maravilhas no setor de energia, como se a hesitação dos investidores fosse mera questão de mau humor

JOSÉ ANÍBAL

 

As desconfianças em relação à capacidade do setor elétrico de prover o abastecimento de energia com segurança ajudam a explicar por que a expectativa de investimento do setor produtivo, revelado pela pesquisa da CNI na semana passada, é a mais baixa em quatro anos. Perigo de desabastecimento, atrasos em obras de infraestrutura descapitalização recente das empresas do setor, tudo colabora para que o tal instinto animal dos empresários siga hibernado.

Temos buscado oferecer contribuições e alternativas para o enfrentamento deste momento negativo. Afinal, os brasileiros precisam do crescimento econômico para consolidar suas conquistas sociais. No entanto, a falta de interlocução do governo federal e sua insistência em políticas equivocadas seguem ali mentando as projeções mais pessimistas quanto ao ambiente econômico do setor energético.

O governo federal perdeu também uma excelente oportunidade de cobrar contrapartidas do setor industrial.

Ninguém consegue explicar por que as bioenergias de cana permanecem sem uma política setorial estratégica. Com regras de mercado justas e estáveis, linhas de crédito adequadas e aperfeiçoamentos no modelo de leilões de energia, o setor sucroenergético poderia desanuviar a pressão sobre o mercado interno de combustíveis automotivos e contribuir decisivamente para a segurança energética no período de baixa nos reservatórios das usinas hidrelétricas. Falta estimular a oferta.

O governo federal perdeu também uma excelente oportunidade de cobrar contrapartidas do setor industrial, maior consumidor de energia e, teoricamente, principal beneficiário da MP 579. O governo poderia ter condicionado a proposta à garantias de investimento e manutenção de empregos, mas também fixa do metas de ganho em eficiência energética. O setor desperdiça 30% dos custos com energia. Para produzir um dólar, gastamos duas vezes mais energia do que a indústria britânica.

Ainda assim, mesmo com prejuízos crescentes na balança de combustíveis, pressões inflacionárias e riscos de desabasteci mento, a inflexibilidade do atual planejamento energético segue intocada. Como todos os apertos momentâneos são atribuídos a quimeras irrepetíveis, e como todos os problemas atuais já estarão solucionados no futuro, tem se a impressão, a julgar pelo discurso oficial, que tudo vai às mil maravilhas no setor, como se a hesitação dos investidores fosse mera questão de mau humor.

Há uma extensa agenda para o setor a ser implementada. No entanto, a imagem transmitida pelos órgãos da área energética do governo federal é de que não há verdadeiramente um plano ou uma linha de raciocínio clara, mas movimentos táticos quase sempre reativos e atrasados, a mercê da urgência do momento. Aos entes federativos e associações setoriais, que poderiam enriquecer sobremaneira o planejamento do setor, resta observar de longe esta política de curativos do governo federal. Sabe se lá onde ela ainda vai nos levar.

 

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