Os americanos vão escolher nesta terça-feira (6) quem será o próximo presidente dos Estados Unidos. O atual mandatário e candidato à reeleição, o democrata Barack Obama, enfrenta nas urnas o republicano Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts. Praticamente empatados segundo as muitas pesquisas de intenção de voto divulgadas nos últimos dias, o vencedor do duelo entre Obama e Romney sairá do desempenho deles nos Estados em que os eleitores estão indecisos e não é possível prever se haverá vitória democrata ou republicana (veja o mapa abaixo).
Com uma campanha pautada pela crise econômica, o próximo líder americano terá o desafio de diminuir o deficit e gerar emprego e renda. Enquanto Obama tentou durante a campanha equilibrar o desencanto de um número de eleitores que depositaram nele sua confiança em 2008 e seu desejo de seguir representando a mudança, Romney colocou-se como uma opção às políticas econômicas dos últimos quatro anos.
"O progresso é difícil. A mudança pode ser lenta", repetiu Obama em seus discursos, enquanto resistia aos ataques de seu rival republicano, que o acusa de ter descumprido sua promessa de colocar em ordem os Estados Unidos e sua economia.
Obama foi eleito em 2008 usando os temas da "esperança" e da "mudança", que agradaram a um eleitorado cansado das políticas do republicano George W. Bush, então presidente. Neste ano, o slogan de Obama é "Para Frente", mas sua mensagem e dos seus aliados têm incluído duros ataques a Romney, ex-executivo do setor privado. Os republicanos dizem que Obama optou pela campanha negativa porque tem poucas realizações a mostrar no campo econômico. Os democratas argumentam que Romney, que também usou munição pesada contra o presidente, distorceu a verdade sobre a atuação do atual governo, e escondeu os fatos a respeito de si próprio.
Porém, o exercício do poder resultou ser, por vezes, frustrante para este democrata, advogado e professor de Direito Constitucional graduado em Harvard, sobretudo desde que a Câmara de Representantes foi conquistada no fim de 2010 pelos republicanos, defensores dos cortes de gastos sem aumento de impostos. As disputas com os republicanos provocaram incessantes batalhas, o que custou ao país uma inédita degradação da nota de sua dívida soberana.
Ao pedir novamente os votos de seus compatriotas, Obama consegue mostrar um balanço respeitável, que inclui uma reforma do sistema de saúde, promulgada em 2010 e validada dois anos mais tarde pela Suprema Corte.
Após sua chegada ao poder, Obama lançou um plano massivo para reviver a economia, mas os republicanos afirmam que o desemprego, apesar de mostrar uma queda nos últimos meses, ainda é mais alto que no início da crise, enquanto a dívida federal continua aumentando.
Embora tenha se convertido no primeiro presidente americano a apoiar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e tenha colocado fim ao "tabu homossexual" no Exército, não alcançou uma reforma migratória no país onde vivem mais de 11 milhões de ilegais, nem uma transição para as energias "verdes".
Em política externa, Obama cumpriu em 2011 com sua promessa de retirar os soldados americanos do Iraque. Em várias ocasiões, tentou estabelecer um diálogo com os muçulmanos, meta não alcançada.
No Afeganistão, por sua vez, triplicou em menos de um ano o contingente militar, em uma tentativa de relançar a luta contra a Al Qaeda, um esforço que também perseguiu no Paquistão, onde obteve sua vitória mais importante: a eliminação de Osama Bin Laden em maio de 2011.
Mas não conseguiu avançar no conflito entre israelenses e palestinos no contexto de uma "primavera árabe", que buscou encarar à distância, e de um aumento das tensões com o Irã por seu programa nuclear.
Romney
Ao criticar as estratégias econômicas do democrata nos últimos quatro anos, Romney citou seu “Plano de Cinco Pontos”, que consistem em diminuir a tributação, ter independência energética, abrir o comércio para América Latina, defender as pequenas empresas e ter as melhores escolas.
Apesar de ter lembrado o fato de o país ter enfrentado uma grande crise financeira e ter ficado "à beira do colapso", Obama diz ter conseguido reagir com a criação de 5 milhões de empregos em 30 meses. Mas disse que a tarefa pela frente é de "reconstruir" o país, e reconheceu que falta muito a ser feito.
Romney acusou Obama em várias ocasiões durante a campanha de fomentar políticas econômicas que, em sua opinião, levarão os EUA rumo à mesma grave crise que afeta a Europa.
Além de economia, neste ano eleitoral temas relevantes e polêmicos fizeram manchetes: desemprego, imigração, casamento gay, aborto e direitos das mulheres, política externa, Oriente Médio e Líbia.
Tempestade Sandy
Uma turbulência chamada Sandy veio agitar a última semana da campanha eleitoral americana. O furacão, rebaixado para "ciclone pós-tropical" pouco antes de atingir o território norte-americano na noite do dia 29 de outubro, levou os candidatos à Casa Branca a cancelarem eventos de campanha e só retomarem comícios e viagens na quinta-feira (1º), a menos de uma semana da decisão.
A tempestade de fato ofuscou Romney e colocou os holofotes sobre Obama, cuja capacidade de líder da nação foi observada de perto pelos eleitores. Trata-se de uma plataforma bastante desigual e Romney foi quase apagado da mídia enquanto o drama se desdobrava.
A rápida reação de Obama e os movimentos de Romney fugiram das atitudes que o ex-presidente George W. Bush teve em relação ao furacão Katrina, que devastou a cidade de Nova Orleans, em 2005.
O democrata não podia se dar ao luxo de dar a mais leve impressão de querer lucrar politicamente com a crise. O republicano pediu a seus correligionários que fizessem doações para as vítimas de Sandy.
Ele também “renomeou” uma aparição no importante campo de batalha do Estado de Ohio. Em vez de “comício da vitória”, o evento passou a se chamado de “evento de auxílio aos afetados pela tempestade”, que ajudou a arrecadar dinheiro para as vítimas. Romney agiu de modo “presidencial” e tentou alcançar o meio termo.
Como funciona a eleição
Além do presidente, os americanos fazem a renovação parcial do Congresso, dos governos estaduais, das assembleias legislativas estaduais e municipais, assim como referendos para diversos temas que são organizados em alguns Estados.
Para se ter uma ideia, em Los Angeles, na Califórnia, a população decidirá se ator pornô deve usar camisinha. No total, os americanos vão votar sim ou não em 174 propostas em 38 Estados, além de diversos outros plebiscitos municipais. Casamento gay e taxa de refrigerante estão entre os temas.
Os eleitores que decidiram votar --uma vez que não é obrigatório-- tiveram que se registrar ao longo dos últimos meses nas seções eleitorais do país. A identificação do eleitor é feita de modo eletrônico e é necessário apresentar apenas um documento de identidade no momento da votação.
Para sair vencedor, o próximo presidente americano deverá somar 270 votos de colégios eleitorais espalhados pelo país, dos 538 possíveis. Nos EUA, o voto é direto, mas a eleição é indireta, o que significa que, mesmo aquele que sair vencedor pelo voto popular, pode não ser o eleito. A quantidade de delegados por Estado se baseia no tamanho de sua população.
Porém, o nome do futuro presidente americano depende de uma dezena de Estados-chave, espalhados por todo o país, que já votaram no candidato republicano ou democrata em eleições passadas e que, portanto, são considerados indecisos e decisivos: Carolina do Norte, Colorado, Flórida, Iowa, Nevada, New Hampshire, Ohio, Pensilvânia, Virgínia e Wisconsin.
Em 2008, estes Estados votaram em Barack Obama. O republicano Mitt Romney espera mudar o cenário. O presidente tem vantagem em outros Estados que coletivamente representam 217 colégios eleitorais. Obama precisa, portanto, de mais 53 votos divididos nestes Estados. (Com agências internacionais e “The New York Times”).