Numa das campanhas mais patéticas já feitas pela mídia brasileira, lobistas que defendem a alta dos juros transformaram o tomate no grande emblema da inflação. Tudo começou quando Ana Maria Braga, apresentadora da Globo, pendurou um colar de tomates no pescoço e disse estar usando uma "joia". Auto-referente, a Globo usou a "sacada" de Ana Maria para dedicar a capa da revista Época da última semana ao tomatinho. Foi também acompanhada por Veja, que disse que a presidente Dilma havia "pisado no tomate".
Pois bem: o produto, que havia subido 122% em um ano, em razão da quebra da última safra, caiu nada menos que 75% nas últimas semanas. O quilo, antes vendido a R$ 10, agora sai a R$ 2,50. Supermercados, como Carrefour e Pão de Açúcar, hoje fazem guerras de preços para liquidar seus estoques.
Apesar disso, no entanto, o Banco Central, comandado por Alexandre Tombini, decidiu ontem se submeter a pressão do mercado financeiro, sempre influente nos meios de comunicação, e elevou a taxa de juros Selic em 0,25 ponto, num movimento que foi percebido como início de um novo ciclo de aperto monetário. É possível que o BC, diante de uma inflação menor, logo volte atrás. Mas o que fará Ana Maria Braga com sua joia desvalorizada?
Leia, abaixo, noticiário da Agência Estado sobre a queda no preço do tomate:
Apontado como o vilão da inflação, o preço do tomate começou a perder força e agora virou alvo de guerra de promoções entre os supermercados. Na quarta-feira, 17, duas grandes redes vendiam o tomate entre R$ 2,48 e R$ 2,50 o quilo. É uma queda de aproximadamente 75% em relação ao preço de três semanas atrás, quando o quilo do tomate valia R$ 10. Em 12 meses até março o preço do tomate subiu 122,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que apura a inflação oficial.
É bem verdade que quarta-feira normalmente é um dia de promoções para o varejo de hortifrutigranjeiros na maioria dos supermercados. Eles compram grandes lotes de produtos para fazer promoções. Mas o movimento de queda de preços do tomate foi constatado no atacado.
Entre o dia 28 de março, quando a cotação atingiu o nível mais alto, e a terça-feira, 17, o preço do tomate italiano de melhor qualidade no mercado atacadista de São Paulo (Ceagesp) caiu quase à metade, de R$ 7,88 para R$ 3,75. "O principal fator que contribuiu para a derrubada dos preços foi a atitude do consumidor, que reduziu as compras e substituiu o tomate pelo molho industrializado", afirma o economista da Ceagesp, Flávio Godas.
Ele pondera também que a oferta do produto aumentou em quase 15% nas últimas três semanas. "Hoje o mercado está sendo abastecido pelas safras de Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo e Sul de Minas Gerais", diz o economista. A situação é completamente diferente da de 20 dias atrás, quando o produto vinha só de Santa Catarina, cuja safra tinha tido uma quebra de 50%.
Promoções - Marcos de Freitas, gerente comercial de Frutas, Verduras e Legumes do Grupo Pão de Açúcar, ressalta que, tirando as promoções, o preço do tomate no varejo está em R$ 5,98, R$ 1 mais caro do que normalmente é cobrado pelo produto nesta época do ano. "Hoje (ontem), estamos vendendo o quilo do tomate por R$ 4,55 e, no domingo, teremos um preço menor", avisa o gerente. Mas essa redução, segundo ele, se deve a compra de volumes de grandes agricultores que têm de tirar o tomate do pé, sob risco de perder o produto.
Também fruto de uma promoção relâmpago, o tomate era vendido na quarta-feira, 17, na loja do Walmart de Bauru (SP) por R$ 2,50 0 quilo. A empresa informa que é uma promoção específica para essa loja. O preço regular do quilo do produto na rede varia entre R$ 4 e R$ 6 e deve se manter nesse nível nos próximos 15 dias.
O Carrefour também entrou na guerra de promoção e na quarta-feira, 17, vendia o produto por R$ 2,48.