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Economia Terça-feira, 27 de Janeiro de 2015, 09:42 - A | A

Terça-feira, 27 de Janeiro de 2015, 09h:42 - A | A

Falta de concorrência faz Apple cobrar mais caro no Brasil

Fábrica local ainda trabalha com 98% de componentes importados, diz funcionário

brasileconomico

O consumidor que tentou comprar produtos da Apple nesse início do ano levou um susto. Isso porque a empresa aumentou — mais uma vez — os preços de todos os modelos de iPhone vendidos no Brasil, em cerca de R$ 300. O reajuste também atingiu os computadores da marca, os iMacs.

A comparação com outros países mostra que o brasileiro é o que paga mais caro pelos smartphones da Apple. Por aqui, o novo iPhone 6 não sai por menos de R$ 3.499 na loja oficial da empresa, mais do que o dobro do cobrado nos Estados Unidos, US$ 649 (cerca de R$ 1.680). Em outros países, como Rússia, Austrália, Japão e Reino Unido, o mesmo modelo também sai por menos de R$ 1.800.

Parte do valor pode ser creditado à alta carga tributária no país, diz o presidente do Conselho do Provar/FIA, Claudio Felisoni. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), mais de 63% do preço dos iPhones vêm dos impostos. Mas não é só isso.

“Temos ainda questões associadas à produtividade e altos custos de movimentação de mercadorias e do preço dos seguros. Ou seja, o custo Brasil”, diz ele, completando que como a economia brasileira não é competitiva nesse setor, as empresas costumam procurar também maiores margens por aqui. “O mesmo acontece com outros produtos como os carros. Um Camaro, que custa US$ 23.700 nos Estados Unidos, sai por US$ 91.098 aqui, quase três vezes mais”.

Professor de Gestão Estratégica do Ibmec/RJ e especialista em precificação, Marcelo Gaudioso concorda e diz que a Apple, como outras grandes empresas, escolhem seus preços também em função dos atributos valorizados pelo cliente de cada local, como tecnologia e status que confere a várias classes, principalmente as que estão em ascensão.

“O incentivo fiscal não seria uma boa estratégia para reduzir preços. Ser competitivo, com componentes nacionais, seria uma ação mais enérgica do governo. Por enquanto, reduzir preços não vai aumentar a demanda da Apple aqui, apenas reduzir a margem. Os brasileiros vão continuar a comprar os produtos da marca, independente do preço”, diz ele.

A promessa de redução nos preços, com a montagem local de iPhones e iPads na fábrica da Foxconn em Jundiaí (SP), também ainda não se concretizou. A produção na planta começou em outubro de 2012.

Na época, o então ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, chegou a dizer que a redução do preço dos tablets poderia chegar a 30%. Mas a realidade é que um iPad Air é vendido por preços a partir de R$ 1.599, na Apple Store, valor que não mudou muito desde 2012.

Segundo um funcionário que trabalha na planta da Foxconn de Jundiaí, e que pediu sigilo sobre sua identidade, atualmente as unidades de produção trabalham com apenas cerca de 40% de sua capacidade total.

“Hoje, em uma planta, trabalhamos com dois projetos [que seriam dois modelos de iPhone] e estamos recebendo equipamentos para um terceiro projeto. Na fábrica, há duas plantas, uma de iPad e outra de iPhone, mas a do tablet está bem decadente. O que sustenta o site é a planta do smartphone”, declara a fonte. “Não montamos todos os modelos vendidos no Brasil”, completa.

Outro ponto também aumenta a fatura do brasileiro. A promessa em 2012 era que 50% dos componentes fossem nacionais em 2015, o que baratearia os custos de produção. Mas a realidade, ressalta a fonte, está bem longe disso. “Funcionamos apenas como montagem, e entre 97% e 98% dos componentes ainda vêm de fora. Já foi pior, com 100% importado, mas estamos muito longe dos 50%. Apenas o pack [embalagem final do produto] é produzida aqui”.

Procurada, a Apple não retornou às solicitações de entrevista.

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