Um dos principais problemas da economia brasileira, e, por tabela, do governo Dilma Rousseff, hoje tem nome e sobrenome. Chama-se Eike Batista, rebaixado ontem pela agência de risco Standard & Poors para o nível B-, com perspectiva negativa, equivalente ao de um pré-calote. Eike prometia petróleo e entregou poços secos aos seus investidores. Prometia uma nova Vale e entregou morros inoperantes. Prometia o maior complexo industrial e portuário da América Latina e no seu porto do Açu há apenas um pier construído. Prometeu um grande estaleiro e, na prática, é ele quem começa a ficar a ver navios.
Aparentemente, este seria um problema de natureza apenas privada. Ocorre que Eike hoje deve mais de R$ 10 bilhões ao BNDES e outros bilhões a bancos como Itaú, BTG Pactual e Bradesco. Sua quebra poderia desencadear um risco de natureza sistêmica. No seu relatório, a Standard & Poors avisa que, se nada for feito, a OGX, principal empresa de Eike, queimará todo o seu caixa em 2013. Ou seja: não terá mais fôlego para rodar. E os bancos não parecem mais dispostos a colocar dinheiro nos projetos do empresário.
Como o risco é real, o bilionário e seu novo parceiro, o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, decidiram pedir a ajuda, é claro, ao governo federal. Receberam da presidente Dilma um rotundo não como resposta, como informa a jornalista Dora Kramer, na nota publicada nesta quinta-feira no Estado de S. Paulo:
Nem pensar. A presidente Dilma Rousseff ouviu, e negou socorro do governo ao empresário Eike Batista. Da reunião-apelo participaram representantes do BNDES, Itaú, Bradesco, BGT-Pactual e o próprio Eike, em dificuldades para honrar as dívidas com todos eles.
Dilma ainda alertou que se algo de pior vier a acontecer aos negócios do empresário símbolo (pelo jeito com pés de barro) da prosperidade nacional, isso afetará ainda mais a disposição interna e externa do setor privado para investir no Brasil.
Dilma tirou o time de campo e avisou a Eike e Esteves que eles devem se virar por conta própria, o que fará com que o bilionário comece a liquidar seus ativos e suas concessões. Até porque um envolvimento ainda maior do governo tem potencial para gerar grande confusão. Recentemente, o embaixador brasileiro em Cingapura disse ter sido pressionado pelo ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, a transferir um estaleiro do grupo Jurong, já em construção no Espírito Santo, para o Rio de Janeiro.
Ciente dos riscos, o governo Dilma parece querer distância de Eike, mas o problema é que a má experiência de investidores com o grupo EBX ameaça projetos de outras empresas. "O investidor simplesmente cansou de ser roubado", disse ao 247 um diretor de um grande banco de investimentos. Outro empresário, que pretendia captar recursos para projetos de infraestrutura, disse que a janela do mercado internacional se fechou. "Eike conseguiu contaminar o Brasil", afirma.
Leia, abaixo, um trecho de reportagem do Valor Econômico sobre o rebaixamento de Eike:
SÃO PAULO - A Standard & Poor’s rebaixou a nota de crédito da OGX de ‘B’ para ‘B-’, devido a preocupações com a maturação dos projetos da companhia e de seu perfil de liquidez restrito. A perspectiva é negativa, o que indica que a agência de classificação de risco vê possibilidade de novos rebaixamentos no médio prazo.
“Apesar de a companhia não ter vencimentos de dívida significativos até 2018, esperamos que ela queime todo seu caixa durante 2013”, afirmaram os analistas da S&P em nota. Ao fim do ano, a OGX tinha US$ 1,6 bilhão em caixa, valor que, na avaliação da agência, deve ser consumido em investimentos e pagamento de juros.
Com isso, alerta a S&P, a OGX precisará exercer o aumento de capital de US$ 1 bilhão mediante exercício de opção de compra do controlador Eike Batista, ou vender alguns ativos para reduzir a pressão sobre o caixa no próximo ano e manter seu nível atual de investimentos. “Não esperamos que a produção gere um fluxo de caixa operacional suficiente para continuar financiando os projetos e o pagamento de juros”, afirmam.