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Economia Sexta-feira, 09 de Maio de 2014, 08:49 - A | A

Sexta-feira, 09 de Maio de 2014, 08h:49 - A | A

Luto

Corpo de Jair Rodrigues chega a cemitério após velório

Cantor foi velado na Assembleia Legislativa; enterro está marcado para 11h

g1

O corpo de Jair Rodrigues chegou na às 9h15 desta sexta-feira (9) ao Cemitério Gethsêmani, no Morumbi, em São Paulo. Por volta das 8h20, o caixão deixou o saguão principal da Assembleia Legislativa, onde foi velado, sob aplausos. O enterro está marcado para as 11h, apenas para familiares e amigos.

Com mais de 50 anos de carreira e conhecido por sucessos como "Disparada" e "Deixa isso pra lá", música que rendeu o título de "pai do rap brasileiro", Jair foi encontrado morto na sauna de sua casa em Cotia (SP), na manhã desta quinta-feira (8). A causa da morte foi infarto agudo do miocárdio, informou a assessoria de imprensa do cantor, que tinha 75 anos.

O velório teve início da noite desta quinta. Família e amigos do artista pediram privacidade e ficaram sozinhos, antes que a cerimônia fosse aberta ao público.

A viúva Claudine Mello; os filhos Jair Oliveira e Luciana Mello; e a nora Tania Khalill homenagearam Jair. "É uma responsabilidade muito grande cuidar do legado que meu pai deixou. Ele tinha muita leveza e minha principal lembrança é o sorriso", disse o filho do cantor. Jairzinho lembrou que o pai costumava dizer que era "o homem mais feliz do mundo".

Amparada pelo filho, Claudine chorou em frente ao caixão. Ele disse que com o tempo a mãe vai conseguir sorrir de novo. "Ela vai se lembrar do sorriso do meu pai e vai sorrir também", comentou.

O rapper Rapin Hood, a atriz Angelina Muniz e o cantor Max de Castro também estiveram na Assembleia Legislativa. "É inacreditável, mas quando o cara lá de cima decide a gente tem que ir. Ele jamais vai sair do meu coração. E que minha Silvinha receba ele lá em cima", disse o cantor Eduardo Araújo.

O apresentador da TV Globo Serginho Groisman disse que fará uma homenagem em seu programa "Altas Horas". "É uma pequena homenagem frente à alegria e à generosidade que ele sempre teve", disse.

"É dificil acreditar que ele morreu, não pela idade, mas pela vitalidade", acrescentou. Apesar da tristeza, o cantor deve ser lembrado com um sorriso. "Um homem que nessa idade ainfa ficava plantando bananeira é para a gente lembrar sorrindo mesmo."

O publicitário Washington Olivetto comentou que teve privilégio de conhecer Jair e seus filhos. "Foi uma surpresa imensa, porque ele estava saudabilíssimo. Vi recentemente e estava exuberante. Jair é síntese da alegria do povo brasileiro", resumiu Olivetto. "Era um cara muito humilde, um exemplo para os artistas", elogiou Rapin Hood.

Chorando muito, a cantora Roberta Miranda diz que Jair Rodrigues era uma pessoa a quem dava muito valor e por quem tinha gratidão. "Grata a Jair por ter jogado Roberta Miranda no mercado musical e em uma posição digna", afirmou, citando a gravação de “A Majestade, O Sabiá”.

O músico Juca Chaves disse estar “muito triste, muito triste mesmo”. “Quando se morre de amor, não se morre. E ele era uma pessoa tão querida. Mais do que um grande artista, era um grande homem."

A cantora Simoni, que participava da Turma do Balão Mágico ao lado de Jairzinho quando os dois eram crianças, lembrou da convivência com o cantor.

“Eu o conhecia desde pequena, sempre convivi com a família dele. Era querido demais, uma pessoa incrível e um palhaço também”, diz.

Por volta das 22h30, o apresentador Raul Gil chegou à Assembleia Legislativa ao lado de Ary Toledo. Foram recebidos pelo cantor Juca Chaves.

"Eu e Jair crescemos juntos na vida artística. Eu tinha 23 e ele 22. Ele frequentava minha casa e quem inventou o apelido de Cachorrão fui eu. Tinha por ele o carinho de um irmão. Há pouco tempo fui ao aniversário dele,  cantamos juntos e eu ainda disse, 'Olha a gente ai, firme com essa idade", afirmou Raul Gil. Com voz trêmula, quase chorando, finalizou: "É uma tristeza muito grande. O Brasil perdeu seu cara mais alegre. Olha que eu o conheço há mais de 50 anos e nunca o vi triste".

Ary Toledo elogiou o cantor: "Se enganam as pessoas que acham que ele viveu 75 anos. Ele morreu com 75, mas viveu 500. Era o eterno moleque. O maior intérprete e o artista mais eclético que o Brasil já conheceu".

Acompanhada do músico Júnior Lima, a dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó também foi ao velório. Júnior disse que se sentia órfão de Jair Rodrigues. "O Jair era o nosso James Brown." "Sempre pensei que ele fosse viver uns 100 anos, estava sempre impecável, sempre bem cuidado", afirmou Xororó.

Foram ainda ao velório de Jair Rodrigues a atriz Lúcia Veríssimo, o apresentador Leão Lobo e os cantores Luiza Possi, Agnaldo Rayol e Roberto Leal, que chorou ao se aproximar do caixão.

Começo nos anos 60
Jair Rodrigues de Oliveira nasceu em Igarapava (SP), em 6 de fevereiro de 1939. Pai dos também cantores Jair de Oliveira e Luciana Mello, ele começou sua carreira nos anos 1960, em programas de calouros. Três anos antes, foi crooner em casas no interior de São Paulo.

O primeiro LP é "Vou de samba com você" (1964), que tinha "Deixa isso pra lá". A canção fez Jair ser considerado pioneiro do rap no Brasil. Com versos mais falados do que cantados, a música, originalmente um samba, ganhou popularidade também graças à coreografia feita com as mãos. Em 1999, foi gravada em parceria com o grupo Camorra.

O registro de estreia do cantor, no entanto, é de 1962. Trata-se de um disco de 78 rotações com as canções "Brasil sensacional" e "Marechal da vitória", que tinham como tema a Copa do Mundo daquele ano, no Chile, vencida pela seleção brasileira.

Jair Rodrigues também ficou conhecido pelo trabalho ao lado de Elis Regina. Os dois iniciaram a parceria em 1965 e lançaram o disco ao vivo "Dois na bossa". A boa repercussão do LP rendeu o convite para apresentar o programa O Fino da Bossa, que estreou em maio daquele ano na TV Record. Com Elis, o cantor lançou em 1966 e 1967 outros dois volumes da série "Dois na bossa".

A vitória no II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966, foi outro ponto marcante da trajetória de Jair Rodrigues. Ele concorreu com "Disparada", escrita por Geraldo Vandré e Teo de Barros. Na final, dividiu o primeiro lugar com "A banda", composição de Chico Buarque interpretada na ocasião por Nara Leão.

No IV Festival de Música Popular Brasileira, em 1968, Jair Rodrigues também se destacou. Com "A família", de Chico Anysio e Ari Toledo, ficou em terceiro lugar segundo o júri popular.

Já na década seguinte, o cantor dedicou-se mais intensamente ao samba. Em 1971, saiu o LP "Festa para um rei negro". Uma das canções era o samba-enredo que deu título ao trabalho, defendido pela escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. A música era conhecida pelo refrão "Ô lê lê, ô lá lá/ pega no ganzê/ pega no ganzá".

Outros álbuns do período são "Orgulho de um sambista", "Ao vivo no Olympia de Paris", "Eu sou o samba", "Estou com o samba e não abro" e "Couro comendo" (1979). Durante esse período, o cantor se tornou pai. Em 1975, nasceu seu filho Jair Oliveira, o Jairzinho, estrela do grupo infantil Balão Mágico e depois passou a cantar MPB. Quatro anos depois, nasceu Luciana Mello. Influenciada pelo pai e pelo irmão, também seguiu a carreira musical. Jair deixa os filhos e a mulher, Clodine.

Na década de 1980, vieram álbuns de temática mais popular e por vezes romântica, caso de "Estou lhe devendo um sorriso", "Alegria de um povo", "Jair Rodrigues de Oliveira" e "Carinhoso". Na década de 1990, houve uma predileção pela música sertaneja e caipira e por uma revisão de gêneros desde o seu início como artista.

Os nomes dos discos do período são autoexplicativos: "Lamento sertanejo", "Viva meu samba", "Eu sou… Jair Rodrigues", "De todas as bossas" e "500 anos de folia – 100% ao vivo". Em 2012, participou de eventos que lembraram os 30 anos de morte da cantora e antiga parceira. Nos últimos anos, Jair Rodrigues seguia na ativa em projetos com os filhos, em discos lançados por ele e também ao participar de homenagens para Elis Regina.

Ele seguia em turnê para divulgar seu disco mais recente, "Samba mesmo", que teve dois volumes lançados em março deste ano. Jair tinha apresentações marcadas para os próximos dias em Florianópolis e Contagem (MG). O cantor se despediu dos palcos e da música na última terça-feira (6) durante uma apresentação no Hotel Guanabara, em São Lourenço (MG). Segundo o organizador do show,  Daniel Moura, Jair cantou e dançou por mais de uma hora demonstrando a típica alegria e vitalidade.

Ele plantou bananeira no palco e fez uma homenagem para Elis Regina. Segundo Moura, antes de "Romaria", conversava com a cantora como se ela estivesse no palco: "Olha Pimentinha, manda um abraço para São Pedro porque eu não estou com pressa".

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