Apesar das promessas do governo de que o evento geraria milhares de empregos e ajudaria a impulsionar a economia, ainda não está claro qual será seu impacto geral nesta área.
Consultorias sondadas pela BBC Brasil, como a Tendência e a Capital Economics, preveem um efeito nulo ou insignificante sobre o PIB.
Mas se o saldo total do torneio ainda é incerto, está cada vez mais evidente que alguns setores devem comemorar a "taça" das vendas, enquanto outros amargarão resultados mais fracos.
Entre os mais beneficiados, segundo o economista Juan Jensen, da Tendências, estão negócios ligados a segmentos de lazer e turismo, como bares e os hotéis das cidades-sede.
Produtores de cerveja e fabricantes de televisores também saíram ganhando.
E ainda na fase de preparação para os Jogos, grandes empreiteiras lucraram com as obras ligadas ao Mundial.
Do lado dos perdedores parecem estar a indústria em geral e o varejo não ligado ao torneio - que sofreram com os feriados e paralisações provocados pelos Jogos.
Os restaurantes também reclamam da falta de movimento no mês da Copa e do perfil dos turistas que vieram para ver as partidas.
Entre os segmentos que lucraram com o evento, os bares se destacam.
"Antes da Copa, estávamos preocupados: pela mídia, a impressão que se tinha era que os estádios podiam cair e correria sangue nas ruas", diz Percival Maricato, da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
"Ainda bem que esse pessimismo não afastou os turistas e a atmosfera de festa tomou conta do país. Como resultado, tivemos um aumento do movimento nos bares de até 30%, comparável ao das festas de fim de ano."
Nos dias de jogos do Brasil, teria havido uma alta de até 70% no movimento segundo a Abrasel.
Como resultado, o segmento deve faturar R$ 12 bilhões no mês do Mundial, contra R$9 bilhões do mesmo mês do ano passado.
Impacto geral
O governo brasileiro sempre exaltou o potencial da Copa para movimentar a economia e gerar empregos.
"O Mundial é uma oportunidade histórica para promovermos desenvolvimento socioeconômico no âmbito local e nacional", disse em maio à BBC Brasil Joel Benin, assessor para Grandes Eventos do Ministério dos Esportes.
A promessa, feita com base em um estudo de 2010 da Fundação Getúlio Vargas e da Ernst & Young, era que o Mundial geraria 3,6 milhões de empregos e movimentaria R$ 142 bilhões até 2014.
"A Copa vai produzir um efeito cascata surpreendente nos investimentos no país", dizia o estudo. "A economia deslanchará como uma bola de neve, sendo capaz de quintuplicar o total de aportes aplicados diretamente no evento e impactar diversos setores."
Desde o início do torneio, porém, analistas têm advertido que a competição pode decepcionar quem espera um efeito econômico amplo significativo, embora alguns setores específicos devam de fato ser beneficiados.
Eles apontam que a essa altura os efeitos dos investimentos em infraestrutura já deveriam ter sido sentidos.
Alguns estudos também sustentam que essas previsões iniciais estavam superestimadas. Um trabalho do professor da Unicamp Marcelo Proni, por exemplo, diz que os cenários iniciais não consideraram o desaquecimento econômico e seus efeitos sobre os investimentos.
Além disso, a agência Moody's e consultorias como a Capital Economics e a Tendências têm enfatizado o pequeno peso em relação ao PIB dos gastos dos turistas e investimentos ligados ao evento.
"Como sai caro sediar eventos esportivos como Copa e Olimpíadas, antes que eles ocorram sempre temos estimativas oficiais infladas sobre seu possível impacto econômico que mais tarde têm de ser revisadas", diz Jensen, da Tendências.
"O Brasil está vivendo um momento de enfraquecimento da atividade econômica em função principalmente da queda dos investimentos, problemas de competitividade na indústria e incertezas ligadas às eleições. Nesse contexto, a Copa pode até ajudar alguns setores mas não deve fazer muita diferença para a economia como um todo."
Longo prazo
O ministro do turismo, Vinícius Lages, admite que o Mundial não vai salvar a economia, mas exalta o potencial do evento para atrair turistas e investimentos no longo prazo.
Segundo o ministro, o Brasil projetou uma imagem positiva durante os jogos e o torneio foi um sucesso do ponto de vista organizacional.
"Nossa tarefa agora é trabalhar para capitalizar essa boa imagem para atrair mais turistas para destinos variados no país", diz ele.
João Augusto de Castro Neves, do Eurasia Group, é mais cético sobre essa possibilidade.
"É verdade que agora está havendo uma leitura positiva do torneio e ele parece ter sido bem-sucedido do ponto de vista organizacional", ele avalia.
"Mas no médio e longo prazo essa percepção pode acabar sendo afetada em duas situações: se os estádios construídos para a Copa virarem 'elefantes brancos' ou se as obras de mobilidade urbana que não ficaram prontas para o Mundial não forem retomadas."