Com a inflação ainda elevada e os sinais claros do Banco Central de que pode elevar a Selic, o mercado passou a ver que a taxa básica de juros do país terminará 2012 a 8 por cento ao ano, depois de passar os últimos 4 meses acreditando que ela ficaria na atual mínima histórica de 7,25 por cento ao ano.
Pesquisa Focus do BC divulgada nesta segunda-feira mostrou que, pela mediana dos agentes consultados, a autoridade monetária começaria o aperto em outubro, mas as atenções estão concentradas na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgada na quinta-feira, de onde podem vir mais pistas sobre os próximos passos do BC.
"No comunicado, foram mais enfáticos de que pode haver reajustes (na Selic) e os dados que saíram de inflação acabaram corroborando essa idéia", avaliou o economista da Austin Rating Felipe Queiroz, citando o fato de a inflação em 12 meses ter chegado a 6,31 por cento em fevereiro.
Ele referiu-se ao comunicado feito pelo Copom na última quarta-feira, quando decidiu manter a Selic em 7,25 por cento, mas retirou a indicação de que ela ficaria em níveis baixos por um período "suficientemente prolongado".
De acordo com a pesquisa Focus, o mercado vê a Selic subindo a 7,75 em outubro e ganhando mais 0,25 ponto percentual em novembro. Entretanto, entre o Top 5 --instituições que mais acertam as projeções-- a aposta é de alta ainda maior este ano, para 8,50 por cento, ante 7,25 por cento na semana anterior.
E, neste caso, o ciclo de aperto monetário começaria mais cedo, em maio, com a Selic indo a 7,50 por cento ao ano. Ou seja, pelo menos por enquanto, os especialistas consultados pelo BC veem que o Copom não mexerá na taxa básica de juros em sua próxima reunião, em abril.
Para 2014 os analistas mantiveram a projeção de Selic a 8,25 por cento pela 11ª vez seguida, na mediana das estimativas.
"Depois de alterar sua comunicação, condicionando as próximas decisões de política monetária ao desempenho da atividade econômica e da inflação, o BC deverá trazer informações adicionais sobre sua avaliação do cenário doméstico, na ata de sua última reunião", destacou o diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, em nota.
Os analistas lembraram que na quinta-feira serão divulgados os dados de janeiro sobre o varejo, com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) do primeiro mês do ano esperado para sexta-feira.
INFLAÇÃO
Os analistas consultados no Focus voltaram a elevar a projeção para o IPCA em 2013, a 5,82 por cento, ante 5,70 por cento na semana anterior. Para 2014, a estimativa continua sendo de inflação de 5,50 por cento.
O cenário continua mostrando o indicador próximo ao teto da meta do governo, de 6,5 por cento, o que deixa a luz amarela acesa e sustentando as expectativas de que a Selic subirá neste ano.
Um sinal de alívio veio na noite da sexta-feira, com o anúncio do governo de retirar integralmente os tributos federais que incidem sobre os produtos da cesta básica, o que pode ajudar a controlar a inflação.
"Isso pode indicar que o governo vai usar todos os meios possíveis para evitar que os juros subam de forma mais forte... Mas a ata (do Copom) vai ser decisiva para consolidar as projeções", disse Queiroz, da Austin, que mantém desde o ano passado projeção de Selic a 8,75 no final de 2013.
Na sexta-feira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, mostrou desaceleração em fevereiro a 0,60 por cento, mas o resultado ficou acima das expectativas, chegando a 6,31 por cento em 12 meses.
Por enquanto, os analistas ainda fazem suas contas sobre o impacto da desoneração da cesta básica na inflação. A equipe do Itaú BBA, por exemplo, acredita que a medida vai impactar no IPCA em 0,12 ponto percentual, isso levando em consideração que apenas um quarto de toda a desoneração será repassada para os preços.
"Entretanto, nós vamos monitorar diariamente as pesquisas de preços para ter uma melhor percepção de quanto a medida afetará os preços", escreveu a equipe do banco.
CÂMBIO E PIB
Um aperto da política monetária tornaria o país mais atrativo para o capital estrangeiro. Diante disso, na sexta-feira, o dólar fechou abaixo de 1,95 real pela primeira vez em dez meses, sob a expectativa crescente de que o BC elevará a taxa básica de juros para conter pressões inflacionárias.
No Focus, os analistas mantiveram pela segunda semana seguida a perspectiva de que a moeda norte-americana encerrará 2013 a 2 reais.
Sobre a atividade econômica, a pesquisa mostrou que a projeção do mercado é de crescimento de 3,10 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, ligeiramente melhor do que os 3,09 por cento vistos anteriormente.
Para 2014, os analistas reduziram a expectativa de expansão a 3,50 por cento, ante 3,65 por cento na pesquisa anterior.
Por sua vez, a projeção para o crescimento da produção industrial neste ano foi elevada a 3,00 por cento, ante 2,86 por cento.