A reputação do economista Armínio Fraga não corresponde exatamente aos números que ele entregou ao País. Presidente do Banco Central entre 1999 e 2002, ele implantou o regime de metas de inflação, mas errou o alvo em três das quatro oportunidades. Em 1999, o índice foi de 8,94%, seguido por 5,97% em 2000, 7,67% em 2001 e perigosos 12,53% em 2002.
Os péssimos resultados no tocante à inflação foram também acompanhados de um desempenho medíocre do PIB – reflexo, em grande parte, da política monetária extremamente recessiva implantada por Fraga. Na sua gestão, a taxa Selic chegou a ser fixada em 45%. No fim de 2002, estava em quase 25%. E como o Brasil tinha uma altíssima dívida cambial, indexada ao dólar, o Brasil se tornava o paraíso dos especuladores a cada vencimento de títulos do governo.
Fora do governo, Armínio se tornou gestor de fundos, com sua Gávea Investimentos, e passou a comercializar produtos cuja rentabilidade depende, em grande medida, da taxa de juros paga pelo governo em seus papéis. Portanto, sua análise sobre a política monetária no Brasil não é absolutamente neutra.
Nesta sexta (24.05), no jornal Valor Econômico, Armínio pede explicitamente que o Banco Central eleve a taxa de juros, a uma semana da reunião do Comitê de Política Monetária. Ele nega, inclusive, que tenha havido uma queda estrutural dos juros no Brasil – como se os 7,5% de Alexandre Tombini fossem parecidos com os seus 25%.
Segundo ele, os juros atuais "parecem bem baixos" e seriam incompatíveis com uma economia "com inflação perto de 8%" – detalhe: a inflação está em 6,5% e em queda. "O governo vem trabalhando com o pé no acelerador na área fiscal, monetária e creditícia", disse Armínio". Sobre a queda estrutural das taxas, ele a nega. "Toda vez que ouço isso, começo a me coçar".
Armínio falou também sobre suas conversas com o presidenciável tucano Aécio Neves. "Tenho tido algumas conversas com ele, não muitas, mas boas. E volta e meia outros políticos me procuram." Ele também está aberto a dialogar com Eduardo Campos, do PSB. "Ainda não tive a chance de falar com ele. Mas amigos em comum já comentaram que, eventualmente, seria muito interessante bater um papo. Certamente teria o maior prazer."
Sobre inflação, ele fez uma crítica dura ao governo Dilma e pediu "liberdade" ao Banco Central para elevar os juros. "O governo vem trabalhando com o pé no acelerador na área fiscal, monetária e creditícia. Isso nos trouxe à inflação alta. Há sempre uma certa tendência de atribuir a inflação alta a um dado preço ou outro, mas o fato é que há uma alta mais generalizada de preços. Seria preciso segurar as três frentes. Segurar o fiscal, dar liberdade para o Banco Central trabalhar a política de juros sem grandes constrangimentos e tomar cuidado do lado do crédito."
Ele afirma ainda que o presidente do BC, Alexandre Tombini, demorou a agir. "Houve, sim, uma demora [em agir]. Conheço muito bem o Tombini, um profissional de mão cheia, muito equilibrado. Então tenho que atribuir ao ambiente [de falta de liberdade para o Banco Central agir] pelo menos parte dessa situação que temos hoje de inflação bastante alta. Essa inflação, sem as intervenções pontuais que o governo tem promovido, provavelmente está mais próxima de 8%. O Banco Central, em tese, deveria desconsiderar essas intervenções. Então, com uma inflação próxima de 8% e a economia em pleno emprego, os juros em 7,5% ao ano parecem bem baixos. Normalmente não entro nesse detalhe sobre política monetária. Mas é o que penso", diz o economista. "Melhor encarar logo isso, resolver de uma vez. Torço para que isso ocorra."
Assim como o economista Alexandre Schwartsman, que prega desemprego para conter uma inflação já em queda, Fraga segue pelo mesmo caminho. "Não é uma proposta razoável do ponto de vista macroeconômico ficar esperando a oferta reagir em vez de fazer um ajuste na demanda. É preciso ajustar a demanda ao longo do caminho, sob pena de a inflação ficar alta e a economia se reindexar."
Em outras palavras, Armínio prega um garrote na economia. Portanto, se Aécio Neves ou Eduardo Campos quiserem mesmo ter alguma chance de sucesso em 2014, deveriam ficar longe desse receituário que já se mostrou ineficaz até mesmo no combate à inflação. Armínio, nunca é demais lembrar, errou a meta em três das quatro oportunidades que teve.