O enfermeiro Amauri dos Santos de Arruda, 53 anos, não resistiu às complicações da Covid-19, e teve uma parada cardíaca, na manhã desta quinta-feira (25.03), no Pronto-Socorro de Várzea Grande (PS/VG).
A reportagem do VGN conversou com o agente da Guarda Municipal, Amarildo, irmão do enfermeiro, que relatou que o irmão chegou à Unidade com todos os traços de Covid-19, e foi feito o exame de sangue e constatou o vírus, no entanto, ele precisava ainda fazer o teste PCR – o do cotonete para confirmar a doença.
Com familiares profissionais da saúde, no Hospital São Benedito, eles tentaram regular Amauri para ser transferido. O administrativo informou que o enfermeiro já estava regulado e aguardava uma vaga.
Porém, durante a madrugada a família ficou sabendo que Amauri estava regulado, mas não como Covid-19, o que impossibilitou celeridade na transferência.
Amarildo contou ainda, que hoje pela manhã foi até o Pronto-Socorro, e o médico relatou que ontem (24), Amauri passou a noite bem, assim como acordou bem, “mas de repente teve uma parada cardíaca”, disse o agente.
“Eu perguntei se tinha morrido de Covid-19 e o médico confirmou, então eu falei: Porque não colocou na regulação Covid, pois se tivesse colocado tínhamos conseguido transferir ele. Fora que nós compramos ontem, remédio [injeção] para o tratamento, pagamos caro, R$ 7 mil, esperando a regulação, e não fizeram nada, não regularam, não achavam o prontuário dele, foi uma bagunça danada, e isso ajudou, pois demorou muito tempo, mas agora também não é hora de culpar ninguém, só precisamos resolver para não acontecer de novo, e não fazer mais famílias chorarem”, desabafou Amarildo.
Atualmente o enfermeiro morava em Cuiabá, e prestava serviço para a Prefeitura de Poconé (a 102 km de Cuiabá), trabalhando no Posto de Saúde da Família, em Cangas, Distrito de Poconé (a 102 km de Cuiabá).
O presidente do Conselho Indígena, representante de 10 povos indígenas de Mato Grosso, Valdomiro Rodrigues, que também representa os trabalhadores da saúde nas aldeias, disse ao VGN que os indígenas receberam a notícia da morte de Amauri com muita tristeza, pois o enfermeiro era uma pessoa muito querida pelos povos das aldeias por onde passou. Segundo o representante indígena, Amauri trabalhou por mais de 20 anos em pró da saúde indígena, cuidando, atendendo e levando a saúde para dentro das aldeias.
“Onde ele estiver que Deus o coloque em um bom lugar. Como bom profissional, respeitador, como bom pai de família, Amauri foi irmão para tudo e para todos, com ou sem dificuldade ele levava saúde para dentro das aldeias. Meu coração está muito triste, de todos nós, pois ele era um bom parceiro e irmão”, declarou Valdomiro.
A reportagem também conversou com uma colega do profissional da saúde, Cinara, que contou com muita emoção, que falar do Amauri seria falar de alguém que tinha um dos corações mais lindos que conheceu.
“Enquanto enfermeiro se doou ao próximo sempre como se fosse um familiar seu, pois foi assim que o via na aldeia cuidando dos povos indígenas. Nunca vi o Amauri reclamar do trabalho... mesmo na folga estava sempre em busca de melhorias para o povo pelo qual trabalhava”, contou ela.
Cinara disse ainda, que em suas idas às aldeias onde ele dava assistência, ele sempre estava cuidado de todos, independente da hora ou situação.
“Para mim foi um exemplo de ser humano e profissional! Não parava nunca de pensar nos povos com que trabalhava mesmo nas folgas...Minha gratidão por ter tido o prazer de ter dividido minha jornada profissional com um ser humano tão lindo quanto ele!”, concluiu Cinara em relação ao colega que faleceu na manhã desta quinta (25).
Mensagem dos amigos profissionais da saúde indígena:
“O Enfermeiro Amauri, tinha como característica principal, além da sua atuação como enfermeiro, a preocupação com o bem estar das pessoas que precisavam de seus préstimos. Conseguiu com apoio de organizações governamentais e não governamentais estabelecer parcerias como programa Mesa Brasil, SMS, dentre outros, o que ajudou a amenizar o sofrimento das pessoas. Ao despedir deste amigo que hoje retornou a Pátria Espiritual, quero agradecer pelo aprendizado que tive com o mesmo á mais de 10 anos na saúde indígena, pedindo aos benfeitores espirituais que o acolha, acompanhe e ilumine nessa nova caminhada e aos familiares e amigos, os meus sentimentos”.
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