Em um dos oito abrigos distribuídos na capital acreana, a aposentada Maria Valdecir dos Santos, de 52 anos, lamenta a perda da casa que tinha conseguido comprar há dois meses no bairro São Francisco, um dos atingidos pela cheia histórica do Rio Acre. Ainda abalada e doente, ela não sabe como será sua vida daqui para frente. Alojada na escola Armando Nogueira, que serve de abrigo em Rio Branco, ela diz que está sendo cobrada pela dívida e não sabe como vai pagar.
"Não tinha dado tempo nem de morar direito. A gente tinha combinado com a antiga dona que iria pagar aos poucos a casa, mas logo que mudamos teve o deslizamento. Agora ela está me cobrando, mas como vou pagar?", questiona.
Ao G1, ela diz não lembrar o valor total da dívida. Maria pagava a nova moradia aos poucos para a antiga proprietária e havia se mudado no início do ano para a casa. No dia 5 de março, teve que sair do local porque as águas invadiram o local e, com os desmoronamentos, acabaram perdendo a casa.
A aposentada conseguiu uma nova casa no bairro Vitória e deve receber o benefício do aluguel social, onde vai morar com o marido e os dois filhos. Com a saúde frágil, está preocupada com a situação financeira. "Conseguimos salvar algumas coisas, móveis, mas perdemos a casa. Não sei como vai ficar nossa situação", diz.
A dona de casa Delzuite Pereira dos Santos, de 33 anos, também precisou ser retirada às pressas do seu lar no bairro São Francisco. Há mais de três semanas no abrigo público, ela conta que perdeu a casa devido aos desbarrancamentos no local. "Minha casa desabou", lamenta.
Segundo ela, é a primeira vez que teve que lidar desta forma com o rio. A dona de casa conta que conseguiu salvar poucas coisas. "Conseguimos salvar uma geladeira, um fogão, duas camas e as roupas. Perdemos meu guarda roupa novo, armários e outros objetos pessoais", diz.
O marido conseguiu uma casa alugada no bairro Sobral e a família espera receber o benefício do aluguel social. “Informaram que a gente vai receber o benefício da prefeitura, mas, se não recebermos o aluguel social, não sei nem como vamos sobreviver", afirma.
O coordenador da Secretaria Municipal de Articulação Comunitária e Social, Raimundo Guerreiro, é um dos responsáveis pelo abrigo no Armando Nogueira. Segundo ele, as famílias devem ser todas retiradas do local até o final desta sexta-feira (20), para que as aulas possam começar na próxima semana. Segundo ele, a prioridade é que grávidas, mulheres com crianças de colo e deficientes físicos sejam retirados primeiro. "Depois as outras famílias vão sair, sendo que vai embora primeiro quem tiver o maior número de crianças da família. Eles já vão voltar para casa, quem não tiver para onde ir vai para outro abrigo", afirma. Na quinta-feira (19) eles fizeram a retirada de 16 famílias.
Cheia histórica
O Rio Acre atingiu a marca histórica de 18,40 metros em Rio Branco e desabrigou mais de 10,4 mil pessoas em 53 bairros. No total, em torno de 87 mil pessoas foram afetadas diretamente pela cheia. Na capital, 12 bairros ainda estão alagados.
A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil reconheceu no dia 4 deste mês o estado da calamidade pública por rito sumário para as cidades de Rio Branco e Brasileia. A portaria foi publicada no Diário Oficial da União. No último sábado (7), o estado de calamidade foi reconhecido em Xapuri. O anúncio foi feito durante a visita do ministro da Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas.
Mais de 70 mil alunos tiveram que ficar fora das salas de aula nos município de Rio Branco, Brasileia, Epitaciolândia, Xapuri, Cruzeiro do Sul, Feijó e parte de Tarauacá por conta da cheia do Rio Acre. A Secretaria Estadual de Educação chegou a informar na época que 40% deses alunos são moradores da capital.
Mais de 20.629 unidades consumidoras de Rio Branco tiveram o fornecimento de energia interrompido devido à cheia histórica do Rio Acre. Os bairros Cidade Nova, Habitasa, Seis de Agosto, Taquari e Baixada da Cadeia Velha foram os mais afetados. A Estação de Tratamento de Água (ETAII) também chegou a ser invadida pelas águas do Rio Acre com a cheia.
A presidente Dilma Rousseff veio ao Acre, no último dia 11, para entregar mais de 900 casas populares aos desabrigados da cheia em Rio Branco. Ela prometeu que até junho deste ano serão entregues mais 1.217 casas populares. Após a visita da presidente, desabrigados desencadearam uma série de manifestações exigindo receber também casas populares.
Mega operação
No último dia 9, foi lançada uma mega operação de limpeza nos 53 bairros atingidos pela enchente histórica. Integram o Plano Emergencial de Limpeza Pós-Alagação 30 equipes com 330 homens, 273 operadores e 280 equipamentos. Os trabalhos são coordenados pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur). Por causa da ação de limpeza nos locais atingidos, alguns bairros de Rio Branco tiveram que passar por um sistema de rodízio de água.
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