Reportagem de A Gazeta deste domingo (12.01), mostra que buracos nas ruas utilizadas por motoristas para irem ou deixarem o Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande, têm facilitado a ação de criminosos que abordam e assaltam os condutores na madrugada. Quando os problemas nas vias não são suficientes, alguns deles chegam a colocar pedras e outros materiais, criando uma espécie de barricada, praticamente obrigando os carros a parar. Com a facilidade de saberem os horários de chegadas e partidas dos voos, sobretudo, os da madrugada, acabaram criando a modalidade do “assalto com hora marcada”.
Na última ocorrência do tipo, dois agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram vítimas dos criminosos, que levaram, além do carro, uma arma e um colete da corporação. O caso ocorreu na madrugada de 2 de janeiro e exemplifica bem a situação vivida por muitas pessoas que acessam o terminal de passageiros todas as madrugadas. O agente, que havia acabado de chegar de uma viagem, foi recebido por outro colega. Os dois agentes no carro entraram no bairro da Manga, local por onde passam condutores que precisam seguir para Cuiabá.
“De repente, ele viu um monte de pedras na pista e não teve outra escolha senão reduzir a velocidade para passar. Assim que ele reduziu, pelo menos três criminosos cercaram o carro e fizeram com que eles descessem”, conta um policial que participou da ocorrência.
Para os moradores da região, o relato do agente da PRF é algo comum, que eles acompanham das janelas de suas residências quase em todas as madrugadas. “Isso ocorre por dois motivos, ou eles colocam as pedras, madeiras, de forma muito rápida, ou são os próprios buracos da pista, somados com o desconhecimento do bairro que fazem com que os motoristas acabem sendo assaltados”, conta um morador que por questões de segurança não quer ser identificado. Salienta que a distribuição do bairro, com ruas estreitas e muitas curvas, favorece aos criminosos.
Isso ocorre porque os condutores têm, hoje, que obrigatoriamente que passar pelo bairro, por conta dos desvios para as obras de mobilidade urbana da Copa do Mundo. No caso do desvio oficial, são apenas duas ruas, mas muitos se aventuram a cruzar o bairro para acessar, rumo a Cuiabá, a avenida da FEB. “99% das pessoas que trafegam por aqui de madrugada estão só de passagem, não são moradoras do bairro. Quem mora, conhece e sabe onde dá para entrar e onde não dá”.
Dados da Empresa de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) mostram que, no período entre meia-noite e 6 horas da manhã, 16 voos chegam ou partem da pista do aeroporto. Tendo por base que cada aeronave comporta, em média, 150 passageiros, chegam-se-se a conta que são aproximadamente 2,4 mil pessoas por dia, todos são alvos em potenciais dos criminosos.
“Como tudo isso ocorre com certa pontualidade, fica fácil para os bandidos saberem quais os horários de maior movimentação, que são aqueles que antecedem e precedem os horários dos pousos e das decolagens. É quase como um roubo com hora marcada”, afirma um empresário que quase foi vítima dos criminosos há cerca de 3 meses. Um taxista que atende os passageiros do terminal conta que para evitar os roubos, sobretudo nas madrugadas, uma das saídas é uma constante comunicação entre os colegas, via rádio ou celular.
“Quando avistamos um grupinho de dois, três ou mais em alguma esquina passamos a informação, fazendo com que quem vem atrás tente desviar do lugar. Somos pais de família, fazemos essas corridas para ganharmos nosso sustento e temos que nos proteger”. Além dos buracos e obstáculos, outros fatores ajudam os criminosos no momento de abordarem suas vítimas. “Aqui na Manga tem muito terreno baldio, com mato bem alto, que os esconde com tranquilidade. Como as ruas são muito escuras, não dá bem para perceber que eles estão lá. Daí, na hora em que os carros passam, eles chegam e abordam. Quem não parar corre o risco de morrer”, revela outra moradora do bairro, que cobra do Poder Público a solução para o problema.
No caso dos agentes da PRF citados no começo da reportagem, duas pessoas foram detidas no final desta semana, acusadas do crime. Um terceiro suspeito já foi identificado e é procurado pela Polícia. Desde o crime, agentes do Núcleo de Operações Especiais (NOE) da PRF procuravam informações que pudessem levar aos autores do crime. Uma denúncia anônima resultou na localização de Uden Gleidson da Silva Ferreira, 18. Ele foi localizado na residência em que mora, no bairro São Simão. Diante da chegada dos policiais, ele tentou fugir, mas foi preso ao pular um muro.
No quintal da residência, os agentes encontraram a pistola roubada no assalto, o colete, a mala e outros pertences do policial. Um dia depois da ação, a Polícia Militar já tinha localizado o carro levado. Em conversas, ele confessou a participação e ainda indicou os demais integrantes do assalto, entre eles um dos dois assaltantes que tentaram roubar a casa de um agente prisional, nesta semana e que acabaram baleados. O suspeito foi localizado no Pronto-Socorro Municipal de Várzea Grande (PSMVG), onde está internado.
Pontuais - Para a Polícia Militar, os problemas verificados no bairro da Manga são pontuais e a corporação desconhece a colocação de obstáculos para a prática de roubos.
“De fato, quando o motorista reduz a velocidade fica mais vulnerável para a ação dos criminosos, mas não temos conhecimento de que isso ocorra com frequência por lá. O que consta nos nossos registros são roubos a moradores do bairro, quando chegam ou saem das casas”, destaca o tenente coronel Victor Paulo Fortes, comandante do 25º Batalhão da PM em Várzea Grande.
Após o roubo cometido contra os agentes, a PM implantou um novo sistema de patrulhamento no local, voltado especificamente para dar segurança aos usuários do aeroporto.
“Já temos nosso trabalho de rondas na Manga, para dar segurança aos moradores. Agora, uma hora antes dos voos, quando aumenta o fluxo de carros, intensificamos o patrulhamento, abordando pessoas suspeitas e atentas a qualquer atitude que possa resultar na prática de um crime. Nosso trabalho se concentra na repressão e, sobretudo, na prevenção”.
A Prefeitura de Várzea Grande foi procurada para falar sobre os problemas de infraestrutura, mas não respondeu as perguntas até o fechamento desta reportagem. (Reportagem A Gazeta).
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