por Rafael Campos*
Após ter passado por Braga-POR, Grêmio-RS, Londrina-PR, etc., clubes que me proporcionaram experiências culturais personalíssimas me arrisco a opinar um pouco sobre o mundo do futebol, do qual fiz e faço parte, ainda que, hoje, de outro lugar.
Confesso que me senti incomodado com alguns comentários após a eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, principalmente com frases como: “Com esse técnico também...”, “Esse técnico é muito burro!”, “Não sabe nada de bola”, “Ninguém teme nossos jogadores de hoje”.
São opiniões que contrastam com os mais de 80% de aproveitamento em 6 anos que a Seleção esteve com a direção de um técnico estudioso, que entregou resultados expressivos e com jogadores respeitados em seus clubes, com projetos sociais entregues à sociedade, além de multicampeões nas ligas que disputam.
Aprendemos desde cedo a cultura da culpa. O culpado está errado e deve ser punido, ou, se não cabe punição, a culpa pode ser usada como desculpa. No primeiro caso, os pais punem os filhos quando fazem algo errado, já no segundo é um típico caso de colocar a culpa em algo/alguém para se livrar daquele problema.
Cultura instalada! O trabalho do treinador de futebol é criar alternativas melhores, a fim de potencializar as qualidades individuais de seus liderados. Esses recebem informações multifatoriais, dicas e o que é necessário para tomada de decisão durante a partida. Seguindo um padrão, cabe a eles dentro das quatro linhas definir qual a melhor opção.
Diante disto, poucas vezes uma seleção criou tantas chances como a nossa nesta Copa. Vinicius Jr. (antes renegado), Martinelli, Richarlison, Rodrygo, tiveram suas qualidades individuais potencializadas na seleção, tendo cada um pelo menos 02 chances claras de gol por partida. Nomes que eram dúvidas, se tornaram esperança.
O técnico, assim como no mundo corporativo, para que possa entregar um resultado assertivo após estruturar seu grupo, precisa de setores sólidos no intuito do negócio evoluir. Liderança técnica (Neymar), Liderança por maturidade (Thiago Silva, Casemiro e Daniel Alves), Liderança Carismática (Richarlison) e a liderança que faltou no final do jogo contra a Croácia: Liderança Situacional (Fred).
Tomar a decisão errada pode ocasionar o desmoronamento de um trabalho que durara quase 06 anos para ser entregue, trazendo à tona a cultura da culpa e ignorando todo o processo válido de evolução.
Neste ponto, ignoramos que a pessoa ser bem sucedida financeiramente/profissionalmente, não significa que é forte emocionalmente. E é exatamente neste momento que ocorrem as falhas. “Todo mundo falha. ‘No pasa nada’. Você vai voltar mais forte. Te amo, filho. Te amo.” – Luka Modric, para seu companheiro de Real Madrid Rodrygo, após o jogo.
Não temos o direito de ferir as pessoas. Amanhã podem ser nossos filhos a ouvir as palavras que proferimos hoje. Ontem falávamos da nobreza em se colocar todos os jogadores para desfrutar uma Copa do Mundo, da recuperação da leveza do brasileiro em dançar com os liderados.
Hoje apontamos o dedo dizendo que não presta mais. Nunca houve tanta gente desinformada.
Também nunca se soube tão pouco sobre tanta coisa. Somos Doutores do Nada. Mestres em coisa alguma. Hoje especialistas em psicologia esportiva e ao mesmo tempo referência nas táticas de futebol, ignorando todas as vertentes do dia a dia que o profissional da área convive, reproduzindo a nossa cultura da culpa.
Que possamos evoluir culturalmente e que o trabalho comprovado com números nos dê mais resultado do que foi entregue nesta copa. 2026 é logo ali!
*Rafael Campos é sócio-proprietário da BDL Sports, empresa de intermediação de atletas, negócios desportivos e do entretenimento. Já atuou em clubes como Braga-POR, Grêmio-RS, Londrina-PR.
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