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Artigos Sábado, 24 de Junho de 2023, 15:09 - A | A

Sábado, 24 de Junho de 2023, 15h:09 - A | A

Luiz Henrique Lima*

Precisamos falar sobre etarismo

                                                                                                                                                                     Por Luiz Henrique Lima*

Em junho, o IBGE confirmou oficialmente um dado que pode ser constatado no nosso dia a dia: a população brasileira está envelhecendo. No intervalo de dez anos, o percentual de brasileiros com idade acima de sessenta anos cresceu 33,6%, enquanto os menores de trinta anos tiveram sua participação reduzida em 13%. À exceção da região Norte, em todo o país a faixa etária mais populosa é entre 40 e 59 anos.

Esse fenômeno demográfico tem múltiplas causas, como a maior longevidade, resultante de avanços na medicina e de melhores cuidados preventivos, e a redução da taxa de natalidade, impulsionada por questões culturais e econômicas.

O envelhecimento dos brasileiros também tem várias consequências para a formulação e execução das políticas públicas, com destaque para os impactos no mercado de trabalho e na previdência pública e privada.

Em paralelo, observa-se o surgimento e o acelerado crescimento do preconceito contra os idosos, o etarismo.

O etarismo é real. Assim como o machismo e o racismo, o etarismo frequentemente é dissimulado ou se camufla na forma de “brincadeiras” ou “piadas”. Mas está presente. Assim como o racista crê na supremacia étnica, o etarista considera o idoso um ser de segunda categoria, de limitada condição física e compreensão cognitiva, alguém “cujo tempo já passou” e que “já deu o que tinha que dar”, não sendo, portanto, de grande serventia, pois não tem futuro.

O etarismo é múltiplo. É público e é privado. Manifesta-se nas famílias, quando se trata o idoso como uma criança incapaz de tomar suas próprias decisões.

Ocorre nos mais diversos ambientes sociais quando se pressupõe que a pessoa com mais idade necessariamente tem menor compreensão ou capacidade de utilização de equipamentos tecnológicos de ponta, embora muitos desses equipamentos tenham sido inventados ou desenvolvidos por pessoas dessa mesma idade.

O etarismo é crescente. A cada dia tenho notícias de suas manifestações: colegas discriminados em um processo de seleção profissional; amigos magoados com o distanciamento de familiares; clientes desrespeitados em relações de negócios; idosos com solidão e depressão etc.

O etarismo é cruel. O idoso que procura um trabalho raras vezes o faz por ambição, vaidade ou ganância, mas amiúde porque necessita oferecer amparo financeiro a filhos ou netos com necessidades especiais ou em situações de vulnerabilidade, como a dependência química.

O etarismo é burro de uma burrice singular. Aquele que o pratica parece ignorar o óbvio: amanhã, inexoravelmente, chegará a sua vez de ser vítima do mesmo preconceito que hoje exerce e dissemina.

O etarismo provoca um grande prejuízo humano e econômico. Desperdiça a sabedoria e a experiência e desconhece o enorme potencial dessas pessoas para o amor e a vida.

Luiz Henrique Lima é professor e escritor.

Brasil unido pelo Rio Grande do Sul

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