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Artigos Terça-feira, 26 de Setembro de 2017, 12:58 - A | A

Terça-feira, 26 de Setembro de 2017, 12h:58 - A | A

Opinião

Perseguição implacável

por Jota Passarinho*

No início dos anos de 1980 eu era soldado da Polícia Militar de MT, e trabalhava no então Copom – Centro de Operações da Polícia Militar, hoje Ciosp – Centro Integrado de Operações de Segurança Pública. O Copom ficava no Quartel do Comando Geral da PM que funcionava em um prédio na avenida Tenente Coronel Duarte, a Praia, em frente ao Colégio São Gonçalo, área central da cidade.

Pois bem, nessa época eu vi, por muitas vezes, um caminhão descarregar, no quartel, dezenas de cesta de Natal, recheadas de produtos importados, inclusive vinho e champanhe, destinadas a cúpula da Corporação. Geralmente esse material era entregue após o expediente, por isso, ficava guardado justamente na sala do Copom até que os destinatários buscassem. Certa vez eu perguntei ao motorista, cujo nome não me interessei em saber, de onde vinha tudo aquilo, e ele respondeu que vinha do grupo..., que tinha como razão social ou era conhecido pelo nome de uma espécie de pássaro. Perguntei também pra onde seria levada a outra parte que ficara no caminhão, e que não era pouca, e ele respondeu que seria entregue na Assembleia Legislativa, à época na Praça Moreira Cabral, no centro da capital, e o restante seria levado para órgãos do Governo no CPA – Centro Político e Administrativo do Estado. Quis eu saber ainda porque não tinha cesta pra nós, militares de baixa ou sem nenhuma patente ou graduação, e o motorista respondeu: Isso é só pra ‘p...grosa’.

Mas além de uma simples cesta de Natal havia muito mais agrado e pedido de ajuda, apoio por parte da turma da época ao grupo voador.

Mas o que tem a ver tudo isso, todo esse ‘nariz de cera’, como diz no jargão jornalístico, com o título do artigo? Eu explico: Acontece que, como é sabido por todos, durante muitos anos, a alta cúpula dos Poderes em MT ‘mamou’, com voracidade, ganância e de forma esfomeada nas tetas do crime organizado que crescia a índices nunca visto antes.

Me lembro que pessoas aram barbaramente agredidas e espancadas quase até a morte, e seus bens – veículos, imóveis e joias eram sequestrados por não pagarem dívidas com agiotas.

Na primeira metade da década de 1990 comecei a colaborar com um programa de jornalismo policial em uma emissora de rádio muito conhecida e ouvida na Baixada Cuiabana. Me lembro que, por várias vezes, éramos orientados, eu e o âncora do programa, a não tecer comentários sobre determinadas ocorrências policiais e quando eu perguntava qual o motivo, a resposta era: é ordem da direção. E eu ficava sem entender o porquê. Tempos depois, muito depois eu descobri que aqueles crimes que não podíamos comentar eram praticados por membros do crime organizado, e a emissora divulgava duas vezes ao dia os resultados do jogo do bicho, e claro, devia lucrar muito com o trabalho.

O tempo foi se passando, e as jogatinas ilegais, proibidas se expandiam por todas as cidades mato-grossenses e os crimes relacionados às atividades da organização aumentavam na mesma proporção, até o dia em que um empresário da comunicação foi assassinado. Foi um tremendo alvoroço e por muitos dias, por todos os lugares, só se falava nisso.

Numa ação rápida a Polícia Militar identificou os assassinos que, por incrível que possa parecer, eram integrantes da Corporação, ou seja, bandidos travestidos de agentes da Lei, a serviço do crime. A partir desse assassinato e a identificação dos criminosos, o Ministério Público Federal, embora tardiamente, entrou em ação e em curto prazo identificou todos os envolvidos, e com isso, quebrou a coluna dorsal da organização criminosa em Mato Grosso.

Com desmantelamento do aparelho criminoso todas as autoridades, sempre do alto escalão dos Poderes e do Sistema de Segurança Pública, deixaram de mamar, perderam os benefícios que recebiam com a proteção dada às atividades ilícitas, e como era de esperar, não gostaram e claro, a mágoa, o rancor e o ódio ficaram encalacrados no íntimo de cada um, só no aguardo de uma oportunidade para vingar.

E o tempo, como é dinâmico, obviamente não para e alguns anos mais tarde o procurador responsável pelo esquartejamento da organização criminosa e prisão do líder, talvez por ironia do destino, chegou ao Poder.

E as hienas famintas por vingança nunca se esqueceram dos agrados que recebiam pra fazer vistas grossas ao crime e proteger os criminosos permaneciam na tocaia, a espera do momento ideal para dar o bote.

Somados a isso, tem o milionário duodécimo, recurso que Executivo, por lei, é obrigado a repassar aos Poderes e outros órgãos para manutenção e custeio das ações de cada um, e que por conta da crise financeira e econômica que assola o pais de ponta a ponta, todos tem conhecimento, não está sendo regularmente repassado a quem de direito, e o tal do RGA que pelo mesmo motivo, econômico e financeiro, está sendo pago aos servidores de forma parcelada.

Eu disse tudo isso pra dizer que os tais grampos ilegais realizados por policiais, ninguém tem dúvida que foi uma ação desastrosa e que é realmente grave. Porém, não feriu fisicamente e nem matou nenhuma pessoa. A exposição dos bisbilhotados foi causada pelos investigadores que divulgaram na imprensa, até então não se sabia quem teria sido monitorado pelos grampos. Então, a conclusão a que se chega, é que todo esse estardalhaço, todo esse circo que está se armando em torno do assunto, é desnecessário e não passa de vingança. Perseguição implacável.

*Jota Passarinho – Jornalista em MT
DRT/MT-1295

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