por Mário Quirino*
Há mais de 300 mil anos, o Homo erectus descobriu que com a fricção de duas pedras entre si, conseguia controlar o fogo, não dependendo mais de raios ou incêndios naturais. Isso foi um grande salto evolutivo. Outro salto evolutivo foi a agricultura, mais ou menos 12 mil anos atrás. Com ela, os povos não precisavam mais ir em busca de outros lugares quando os recursos de uma área acabavam.
Mas, de todas estas histórias evolutivas, uma das que mais me chama a atenção foi a descoberta recente de um esqueleto na ilha de Bornéu, no Sudeste Asiático, sem a parte inferior da perna esquerda. Pesquisadores da Universidade Griffith, na Austrália, constataram que o motivo foi uma cirurgia feita e não um ataque de um animal. E mais, o esqueleto sobreviveu por mais ou menos 9 anos após a cirurgia e, pasmem, isso aconteceu a 31 mil anos atrás. Até então, a cirurgia mais antiga era datada de 7 mil anos atrás, de um agricultor encontrado na França.
Agora, quero que você entenda a dimensão disso: para a ferida não infeccionar, imagine o cuidado que essa pessoa teve que ter. A ferida tinha que ser limpa a todo momento para não infeccionar, essa pessoa não podia mais correr de animais perigosos. Ela teve que ser carregada, cuidada e alimentada por meses, ou até anos, e mesmo assim, pós-cirurgia, teve que viver com muitas limitações, tornando-se uma dependente.
Nem animais 10 vezes mais fortes, como um búfalo ou até mesmo um leão, sobreviveriam sem uma pata. A única coisa que fez aquela pessoa sobreviver a 31 mil anos atrás foi a capacidade do homem de colaborar entre si e foi cuidando um do outro que chegamos até aqui. É claro que também crescemos na dificuldade e passando por tristes situações, mas é indiscutível o poder e a sinergia quando um homem ou um país se une por um objetivo em comum. Foi assim que nasceu o comércio.
Olha o que fizemos com a energia, petróleo, carros e a tecnologia. Hoje, com o 5G, podemos fazer cirurgias com robótica, com um médico em outro país. Na pandemia, a vacina foi feita em um país, envazado em outro, distribuído por outro, com a matéria-prima de outro. O maior poder do ser humano está em sua capacidade de fazer conexões com pessoas, cultura e negócios. Estamos passando da fase do Know How (“saber como”) para o Know Who (“saber quem”). Hoje o mais valioso é saber quem vai te ajudar, quem vai te conectar com aquela pessoa.
Em 2018, Neymar fez uma cirurgia no quinto metatarso. Ele estava na França quando sofreu a fratura. A primeira coisa que ele fez foi o “Know Who” e a resposta foi o médico da seleção brasileira e do Atlético Mineiro à época, Rodrigo Lasmar. Neymar sabia da competência de Lasmar para a sua cirurgia, mas o PSG queria garantir que um médico de sua confiança o acompanhasse. E adivinha qual foi o Know Who do time? O médico Gerard Saillant, que operou o joelho do Ronaldo Fenômeno e a perna de Schumacher no acidente em Silverstone.
Vejo hoje muitos empresários que centralizam tudo pelo fato de se sentirem sozinhos. No fim das contas, quem ganha ou perde é ele, já que o risco de uma empresa é todo do empresário. Mas é preciso que ele entenda que este é o começo da empresa e não precisa ser o fim. Verdade seja dita: se a sua empresa depende exclusivamente de você, você não tem uma empresa e sim um emprego. O empresário não pode confundir teimosia com persistência, ou trabalhar muito com eficiência.
Vai chegar um momento em que será necessário refletir e se render ao velho instinto: a cooperação. Precisamos dos outros para nascer, para aprender, para crescer, inclusive para morrer. Confúcio um dia falou, “se quiseres prever o futuro, estude o passado”, se você quer sobreviver como pessoa, como empresário, você terá que desapegar do ego que só você sabe ou faz e perguntar Know Who.
A única forma de saber quem faz, é saindo do castelinho e conhecendo pessoas e a melhor forma de conhecer pessoas é fazendo um bom networking, fazendo boas conexões, fazendo boas amizades. E há 31 mil anos vem dando certo.
*Mário Quirino é especialista em desenvolvimento humano, e Diretor Executivo do BNI Brasil em Mato Grosso.
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