Lázaro Donizete da Silva e Andressa Correa Bernardon*
Uma estrada é muito mais que uma direção, nela trafegam vidas e sonhos. O valor e significado de uma estrada, considerando o que e quem faz uso dela, é extraordinário. As estradas que serpenteiam o Estado de Mato Grosso são como veias e artérias, tal o significado vital que possuem para as pessoas e para a economia, ainda mais, quando o produto é o Turismo. Pensar que Chapada dos Guimarães dista a poucos quilômetros de Cuiabá e Várzea Grande, cidades de grande concentração humana que buscam lazer e qualidade de vida, sobretudo, de um clima menos “calorento”. O fato é que a visita e fruição de todo o conjunto de atrativos se tornou no decorrer do tempo, ano após ano, cada vez mais difícil. Obras na rodovia parece interminável, embora ajam inaugurações e placas alusivas.
A engenharia possui condições técnicas e científicas de executar obras e proteger o meio ambiente, quer pelo uso de materiais menos impactantes, quer pelo projeto menos invasivo, enfim, é possível conciliar interesses econômicos e preservacionistas. Não se trata de apenas impedir que turistas se desloquem, é muito mais, o significado social dessa decisão, podem ter comprometido o seu emprego e renda. A redução do fluxo de pessoas leva, direta ou indiretamente, a demissões, ao fechamento de estabelecimentos e a perda do valor dos imóveis. É ruim para todo mundo. Desde que choveu na Terra alguns fenômenos ocorrem, alguns com grau maior de previsibilidade, outros não. A ciência cada vez mais possibilita antever problemas relacionados as condições climáticas e ao tempo e uso. Uma rodovia tem desgaste pelo tempo, pelo uso e pelas condições climáticas, mas, existem meios e técnicas adequadas que prolongam e otimizam a sua utilização, além de adoção de medidas preventivas ou reparadoras para que não seja necessário fechá-la, ou que se imponha riscos evitáveis aos usuários. A rota Cuiabá-Chapada dos Guimarães não é uma descoberta tão recente que o gestor público venha a ser surpreendido por algumas circunstâncias, tais como as mais recentes e que levaram a interdição. Nem devem as pessoas se assustarem com a denominação de “Portão do Inferno”, pois seria um paradoxo, vez que se trata de uma visão paradisíaca, aliás, como toda a região do entorno. É caro adotar medidas emergenciais necessárias? Sim e não. O sim se explica pelo volume de recursos que serão destinados a fazer a contenção e reparos capazes de impedir um desastre ambiental e o não, pelo significado social que a rodovia e todo o conjunto “Chapada” possui para a sociedade local, uma vez que não existe turismo sem fluxo de pessoas. Isso, significa apenas, que a responsabilidade do Gestor Público Estadual é cada vez maior.
Acredita-se que, chegou o momento de se promover um estudo de alternativas, tanto para reformar a MT 251, quando para buscar outro caminho, outra solução e quem deve dar esse indicativo são os estudos técnicos. É evidente que pesa sobre a decisão o componente político. Prefeitos das cidades, Governador do Estado, é agora, reúnam-se, designem seus técnicos, para em conjunto, resolver a questão da interdição, em caráter emergencial e elaborarem propostas que equacionem o problema para os anos seguintes. De posse dessas informações, deputados e senadores, se esforcem para carrear recursos viabilizadores de solução para permitir que as pessoas possam ao conjunto de bens e serviços, que incrementem o turismo e gerem a melhoria da qualidade de vida da população local e dos visitantes. Apenas para recordar no ano de 2008, tinha-se a “MT-251 inaugurada como corredor turístico e de desenvolvimento” (SEFAZ/MT); no ano de 2016 tinha-se “GOVERNO ENTREGA 7 KM RECONSTRUÍDOS DA MT-251” (Brasilagro), ou seja, uma simples busca na internet demonstra que o problema na MT 251 é histórico, tanto quanto as personagens que falam em soluções paliativas, sem se preocuparem com o custo social de uma interdição e de trafegar em rodovia sem acostamento, e que pode desmoronar toda vez que se tem chuvas mais intensas.
A MT 251 é uma rodovia onde a segurança foi abandonada desde muito tempo. Sendo voltada ao turismo e ao desenvolvimento das cidades a ela conectadas, não foi previsto na sua execução áreas para acostamento. Imagine, o veículo, na ida ou no retorno, apresenta um problema, não tendo área de escape. Precisa torcer para ser visto e não causar um acidente, tudo por “erro de engenharia” que não executou a obra como deveria. Nessas medidas emergências que irão ser tomadas, há que se incluir, portanto, acostamento nos dois sentidos, com áreas de escape em distâncias razoáveis, sinalizadas. Além disso, em ambos os lados da rodovia têm-se propriedades e deslocamento de pedestres, ou seja, sem acostamento, algumas vezes, precisam adentrar a pista e correr riscos. Planejar pensando nas pessoas é tão importante quanto executar uma obra em tempo recorde. O crescimento do interesse turístico irá aumentar o número de atividades margeando a pista, que aos poucos, por analogia, irá se tornar uma rua de grande fluxo, sem calçada. Cortar gastos, nem sempre é sinônimo de economia, pois reduzem a capacidade de investimentos produtivos, além de comprometer a vida das pessoas. A interdição da MT 251 significa prejuízo ao comércio que sem os turistas tem reduzida a procura por seus produtos e serviços. Os mato-grossenses não podem usufruir de lazer porque não tem como chegar até lá e mais, a imagem que se dissemina para os visitantes de outras regiões é que aqui é um Estado do improviso.
Lázaro Donizete da Silva, Historiador e graduado em Serviço Social (UFMT), especialista em Gestão Pública Municipal (UAB/UFMT). Andressa Correa Bernardon, Assistente Social, Mestre e Doutora pela PUCRS; pesquisadora na área de Políticas Públicas, Direitos Humanos, Migração e Refúgio.
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