por Teobaldo Witter*
A memória de vida de espiritualidades comemora, neste ano de 2017, os 500 anos da Reforma Protestante. No dia 31 de outubro de 1517, o doutor e professor de Teologia, Martim Lutero, afixou 95 teses sobre vida, fé, Deus, humanidades, sociedade, relacionamentos. Este fato desencadeou grandes movimentos de mudanças de mentalidade das pessoas e da sociedade.
A Reforma Protestante provocou muitas mudanças. Uma delas se refere ao relacionamento entre Deus e sua criação. Entre outras, me refiro a três. Com fundamentação bíblica, a reforma afirma que não há intermediário entre Deus e seu povo, exceto Jesus Cristo. E as pessoas, todas elas, podem se relacionar diretamente com Jesus.
Além disso, ao redescobrir na Bíblia sacerdócio de todas as pessoas, percebe-se que todas as pessoas são iguais em dignidade, compromissos e direitos. E entende a doutrina dos dois reinos. É mais complexo que isso, mas vale dizer que é a separação entre Igreja e Estado. Mas deve ser dito que, com os protestantes, a Política e a Economia devem estar sempre a serviço de todos e todas. “O que não está a serviço do povo, do bem comum, é roubo”, escreveu Martim Lutero.
São várias as consequências desta redescoberta luterana e estão presentes na sociedade atual. Para ter conhecimentos das coisas de Deus, as pessoas precisam ler e estudar as Sagradas Escrituras. Como mais de 90% do povo era analfabeto, uma das primeiras práticas protestante foi abrir escolas. Mas não eram escolas para formar religiosos. São escolas públicas, para moças e moços. E o Estado ficou com o compromisso de cuidar da educação pública. Por isso, Martim Lutero é considerado o pai da educação pública.
As comunidades luteranas, de todos os tempos e lugares, cuidam desta educação. Ao lado de uma igreja, precisa ter uma escola. Quando chegaram ao Brasil, em 1924, no Rio Grande do Sul, havia apenas uma escola. E era militar. A população luterana foi se fixando na terra, construindo escolas e comunidades. O mesmo aconteceu, quando vieram ao Mato Grosso.
Em muitos lugares, o Estado nem havia se preocupado com educação dos migrantes. Os protestantes, no seu protesto, construiram escolas em lugares como Canarana, Porto dos Guachos, Agua Boa, Santa Rita, Garapu e outros. Depois de organizadas e funcionando, entregaram estas escolas para serem assumidas pelo poder público, como Educação Pública.
As coisas foram mudando. Valores foram assumidas por muitos. Um deste tema é o direito universal, de todos e todas. Esse tema foi desenvolvido depois da reforma, também, no mundo secular, no que se refere à dignidade humana e ao direito que pertence às pessoas, não ao Estado ou à Igreja. A Constituição Federal, especialmente, no art. 5, traz em seu bojo ideias significativas das redescobertas protestantes há 500 anos.
Teobaldo Witter, Pastor e professor. Mestre em Teologia e doutorando em Educação, na UFMT.
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