Por Dr. Erik Bustamante*
Durante todo mês de julho, a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, juntamente com seus membros em todo país, promove o “Julho Verde”. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou para 2022 um número de 39.960 novos casos de Câncer de Cabeça e Pescoço entre os homens (sendo o segundo mais comum, atrás somente do Câncer de Próstata) e de 34.280 novos casos entre as mulheres (sendo o quinto mais comum).
Os tumores de Cabeça e Pescoço são as lesões compreendidas entre a base do crânio e as clavículas, não sendo considerada as lesões do cérebro, que é de competência do Neurocirurgião. Podem ser lesões de: lábios, cavidade oral (língua, gengivas, assoalho da boca, palato – também conhecido como “céu da boca”, garganta, pregas vocais ou laringe, pele da face e pescoço, cavidades nasais e seios da face, glândulas salivares, tireoide, nódulos cervicais primários ou metastáticos.
Dentre os fatores causais ou predisponentes, temos: tabagismo (cigarro, palheiro, charuto, cachimbo, narguilé, e atualmente estudos mostrando relacionado também aos cigarros eletrônicos), etilismo (principalmente destilados), próteses dentárias mal adaptadas, exposição excessiva ao sol e infecções por HPV. Existem casos também relacionados à predisposição genética.
Dentre os sinais e sintomas que devem servir de alerta para as pessoas, principalmente as que são tabagistas e/ou etilistas, estão: lesões esbranquiçadas ou avermelhadas em cavidade oral que não cicatrizam em até 15 dias, rouquidão progressiva que não melhora, sensação de “espinho de peixe” na garganta, dificuldade e/ou dor para mastigar ou engolir, nódulos ou caroços no pescoço, de aparecimento abrupto ou progressivo.
No estado de Mato Grosso, devido a grande extensão territorial, bem como a grande distância entre as cidades, há um grande número de pacientes que procuram atendimento médico em um estado avançado, o que leva a um prejuízo no tratamento, acompanhamento, bem como na sobrevida destes pacientes.
Há também a necessidade de profissionais da área de saúde (médicos, dentistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, enfermagem) sempre pensando na possibilidade de as queixas dos pacientes serem casos de cânceres de cabeça e pescoço, e com imediato encaminhamento a um serviço de referência em Cirurgia de Cabeça e Pescoço.
Como exames complementares, temos: Videolaringoscopia (onde será visualizado toda cavidade oral, garganta, pregas vocais, nasofaringe, e se necessário e se houver colaboração do paciente, realização de biópsias para diagnóstico); Ultrassom do pescoço ou tireoide; Tomografias computadorizadas ou Ressonâncias Magnéticas da face ou pescoço, Punção Aspirativa Guiada por US ou biópsias incisionais.
O tratamento do Câncer de Cabeça e Pescoço, depende de vários fatores: localização, tamanho da lesão, metástases já presentes ou não, estruturas adjacentes comprometidas, estado clínico do paciente (nutricional, cardiológico, imunológico). A maioria dos tumores são tratados primeiramente com a cirurgia, principalmente nas lesões iniciais ou de tamanhos onde a área de ressecção não acarretará sequelas muito acentuadas aos pacientes.
Porém quando temos lesões muito avançadas, com comprometimento de estruturas adjacentes (mandíbula, maxila, artérias e veias cervicofaciais), em que o procedimento cirúrgico levará a grandes sequelas funcionais e/ou estéticas, estes pacientes são encaminhados a tratamentos radio e/ou quimioterápicos, e posterior cirurgia de resgate, se possível.
Em relação aos tumores de tireoide, hoje há várias técnicas cirúrgicas minimamente invasivas. Uso de Laser de Diodo para tratamento de lesões de cavidade oral, laringe ou mesmo lesões cervicais metastáticas.
Como alerta geral a todos, ao notar qualquer dos sinais e sintomas relacionados anteriormente, como rouquidão persistente, dor ou dificuldade de engolir ou mastigar, lesões na boca que não cicatrizam, nódulos no pescoço com crescimento progressivo, deve-se procurar um Cirurgião de Cabeça e Pescoço para avaliação, diagnóstico e tratamento adequado, visto que quando são diagnosticados e tratados precocemente, a cirurgia e sobrevida dos pacientes aumentam significativamente, ao contrário de quando diagnosticadas tardiamente, onde as cirurgias são mais radicais e maiores, e a sobrevida cai drasticamente.
*Escrito pelo Vice-presidente e Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Mato Grosso, Dr. Erik Bustamante.
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