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Artigos Segunda-feira, 05 de Junho de 2017, 13:43 - A | A

Segunda-feira, 05 de Junho de 2017, 13h:43 - A | A

opinião

Hiroshima em Sinop

                                                                                                                                                                             por Luiz Henrique Lima *

Em 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Em instantes, mais de 100 mil pessoas haviam morrido e inúmeras outras adquiriram sequelas gravíssimas pelo resto de suas vidas. Somente em 2016, um único inimigo matou 156 mil brasileiros, o equivalente a uma bomba de Hiroshima que destruísse toda a cidade de Sinop, exterminando cada um de seus 133 mil habitantes, e ainda toda a população de Chapada dos Guimarães. No século XXI, já foram mais de 2 milhões de vítimas desse inimigo no Brasil, mais do que todos os moradores das cidades de Curitiba, Recife ou Porto Alegre.

Esse inimigo matou pessoas amadas, muito próximas: familiares meus, colegas de trabalho e amigos de infância. Muito provavelmente, matou também pelo menos um conhecido de cada um dos leitores.

Em 2016, o inimigo atuou livremente no território brasileiro. Apesar da crise econômica, suas duas principais empresas lucraram muitos bilhões de reais. Seu resultado econômico é diretamente proporcional ao veneno que comercializa, ou seja, mais vendas e mais lucro no presente acarretam necessariamente mais doenças e mortes em futuro próximo.

O inimigo provoca efeitos devastadores sobre as redes de saúde, pública e privada, comprometidas em dezenas de bilhões de reais com custos de assistência, internação e medicamentos. A produtividade da economia nacional é impactada em milhões de dias de trabalho perdidos, em razão de consultas, licenças e aposentadorias precoces por invalidez.

No entanto, o inimigo recebeu financiamento do BNDES para continuar matando brasileiros. O inimigo mereceu discursos laudatórios no Congresso Nacional, de senadores e deputados federais, muitos dos quais foram por ele apoiados com doações em suas campanhas. O inimigo foi recebido em palácios por diversos governadores e prefeitos que lhes concederam pródigos incentivos fiscais. O inimigo contratou regiamente alguns dos melhores publicitários do país para fantasiar uma imagem que não é real.

O inimigo é cínico. Produz documentos em que abusa de expressões como ética e sustentabilidade. Em nome do que denomina liberdade individual, advoga a multiplicação da dependência química, desenvolvendo estratégias específicas para seduzir e viciar os jovens brasileiros.

O inimigo é insaciável. Além dos danos à saúde, provoca maciça destruição ambiental e opera em mercados oligopolizados que exploram pequenos produtores familiares.

O inimigo é traiçoeiro. Malgrado um sem-número de estudos científicos nacionais e internacionais que reportam as tragédias física, psicológica, econômica e ambiental por ele causadas, aposta na desinformação e nas "narrativas alternativas" para ludibriar principalmente as pessoas mais pobres e de menor escolaridade e para "acalmar a consciência" de agentes públicos coniventes ou omissos.

O inimigo é inteligente e zomba de nós, pacatos cidadãos. Alguns de nós, sequer conseguimos identificá-lo como tal.

Enquanto não reconhecermos esse inimigo como inimigo e enquanto não o combatermos com todas as armas possíveis - legais, econômicas, culturais e institucionais -, ele continuará dizimando nossas famílias e amizades, espalhando mortes e sofrimento em busca de mais lucro.

Com esse inimigo, não há trégua possível ou acordo de paz negociável. Ele se alimenta da doença e da morte e o poder público tem o dever indisponível, irrecusável e inadiável de defender a saúde e a vida dos brasileiros.

A exemplo da bomba de Hiroshima, que continuou produzindo mortes e deformações décadas após ter sido lançada, mesmo que interrompêssemos hoje as atividades desse inimigo, muitas dezenas de milhares de mortes ainda serão contabilizadas no macabro balanço da indústria tabagista.

Até quando, portanto, iremos tolerar a presença entre nós desse inimigo cruel?

* Luiz Henrique Lima é Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT.

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