por Edina Araújo*
A operação Escariotes, deflagrada pela Polícia Civil de Mato Grosso nesta quinta-feira (12.12), levanta um alerta importante: enquanto o governador Mauro Mendes defende a gravação dos atendimentos entre advogados e seus clientes, sob a justificativa de que esses profissionais estariam facilitando a entrada de celulares nos presídios, a operação expõe uma realidade preocupante no próprio sistema de segurança pública.
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Entre os investigados pela operação, que cumpriu 30 mandados judiciais, está o policial penal M.d.F., acusado de introduzir celulares camuflados em caixas de bombons e de cobrar uma "taxa do roteador" – uma porcentagem dos lucros obtidos pelos presos em crimes como estelionato. Esses aparelhos foram utilizados até para coordenar homicídios e atividades de tráfico de drogas dentro da unidade prisional de Várzea Grande.
O caso evidencia que focar exclusivamente nos advogados não apenas desvia a atenção das falhas internas do sistema penitenciário, mas também compromete a dignidade de uma categoria essencial à justiça. Atribuir responsabilidades sem provas concretas enfraquece o debate e desvia o foco do problema central: a corrupção dentro das instituições de segurança pública.
A operação Escariotes deixa claro que celulares, drogas e outros itens proibidos frequentemente entram nos presídios com a conivência de servidores públicos – agentes que deveriam zelar pela segurança, mas que, em alguns casos, tornam-se facilitadores de crimes. Este cenário exige uma postura firme do governo: combater a corrupção interna como prioridade absoluta.
A pergunta que fica é: o governo de Mato Grosso está disposto a adotar medidas reais para enfrentar esse problema, especialmente considerando sua resistência em inserir câmeras nas fardas? Não basta discurso; é necessário agir com estratégias consistentes para atacar a raiz da crise no sistema prisional.
Transferir a culpa para categorias externas, como os advogados, não resolve o problema. Enfrentar o crime organizado requer uma gestão transparente, investigações aprofundadas e um compromisso com mudanças estruturais. A solução não está em generalizações, mas em ações concretas que fortaleçam o sistema de segurança pública e restaurem a confiança da sociedade nas instituições do Estado.
Agora, governador, é hora de olhar para dentro, agir e parar de jogar para a plateia.
*Edina Araújo, jornalista e diretora do Portal VGNOTICIAS
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