por Roberto Boaventura *
Contrariando Vieira, que pedia ao orador do século 17 que desenvolvesse um tema por ocasião, tratarei de dois e ainda farei um convite no final.
O primeiro se refere a uma recente nota inserida no site da UFMT, reforçada em coletiva de sua reitora sobre a crise financeira da instituição, ora empreendida por Temer.
Na essência, exalto a atitude da magnífica. Falar de crise nas universidades é ato político legítimo. Todavia, respeitosamente, aponto itens esquecidos.
Embora seja dito na nota que, “De 2014 para cá, perdemos 50% dos recursos de capital e 20% de custeio, sem contar a inflação...”, nada é exposto sobre o comportamento político dos governos e reitorias anteriores. Tais comportamentos – compreendidos e denunciados pelo Sindicato Nacional da categoria (ANDES-SN) – não isentaram ninguém (de Collor a Dilma, e Temer poderá ser o próximo) de enfrentar greves das universidades. Nem Lula, para quem reitores serviram de tapete, escapou.
Aliás, de Lula – desdenhoso para com os servidores e sedento para se perpetuar no poder – se chamou a atenção para a expansão irresponsável que seu governo se nos impunha, subtraindo-nos a autonomia. Seu Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades (ReUni) e o Enem são exemplos cabais.
Pergunto: o que os reitorados e os reitoráveis da época fizeram para cuidar do futuro das instituições?
A maioria, além de apoiar aquele governo, golpeou/cooptou os conselhos superiores para impor tais expansões. Na UFMT, vários dos novos cursos e o campus de Várzea, vizinho da capital, são exemplos de expansão irresponsável.
Mais: o que fizeram os magníficos quando Lula e Dilma canalizaram recursos públicos aos cofres das privadas (ProUni, Fies etc.)?
Nesses casos, o requinte de maldade dos mandatários foi estupendo, pois todos sabemos que as instituições particulares, com raríssimas exceções, não trabalham com acadêmicos, mas com clientes. Isso diz tudo.
Mas em nome da inclusão, mesmo que falsa ou capenga, só “ouvimos o silêncio” dos magníficos, que agora precisarão gritar; e gritarão, afinal, Lula não está lá para ouvir.
Nem Dilma, para quem vários magníficos até posaram para foto de sua reeleição. Deu no que deu.
Portanto, apontemos legitimamente a crise. Democraticamente, condenemos Temer, mas não nos esqueçamos das outras farinhas...
O segundo tópico é sobre as impactantes imagens das notas de dinheiro em caixas, paletós e mochilas, recebidas por corruptos mato-grossenses durante o governo Silval Barbosa, o delator.
De seus delatados, há um que – além ex-deputado e procurador do Estado – é docente de Direito/UFMT.
Da parte da PGE, em nota, já foi admitida a gravidade das cenas, sinalizando com a abertura de Processo Administrativo Disciplinar contra aquele seu procurador.
No Rio, o professor que, nas redes sociais, incitou a violência, empunhando arma para comemorar a vitória de seu time, já recebeu punições; receberá outras.
E a UFMT?
Nosso silêncio não seria atestado de conivência?
Só para lembrar: esse colega foi liberado de suas funções acadêmicas para nos representar na Assembleia. Mas assim?
Agora, anota aí o convite para o “Acordes, Brasil”, show lítero-musical.
Nele, cantaremos (Sônia Moraes, Raul Fortes e eu) alegrias e agruras de nossa Pátria. Ainda teremos ainda a participação dos atores Bia Correa e Maurício Ricardo, e dos dançarinos Fernanda Madeira e Rodinei Barbosa. Os músicos serão alguns do antigo Chorinho.
“Acordes, Brasil” (06/set. – 20h – Teatro da UFMT) está composto de 16 pérolas da MPB e alguns poemas.
* Roberto Boaventura da Silva Sá é Dr.Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT.
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