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Artigos Sexta-feira, 04 de Agosto de 2023, 20:47 - A | A

Sexta-feira, 04 de Agosto de 2023, 20h:47 - A | A

Dra. Adriana Costa*

Associação de sintomas urinários e intestinais em crianças

por Dra. Adriana Costa*

A associação de sintomas urinários e intestinais é conhecida como disfunção vesical e intestinal (DVI). Engloba sintomas do trato urinário inferior (STUI), com pelo menos um sintoma intestinal, geralmente constipação intestinal e/ou encoprese, (vazamento de fezes na roupa ou até mesmo no chão que, na maioria das vezes, acontece sem que a criança perceba), em crianças neurologicamente normais.

É mais frequente em meninas, na faixa etária de seis e sete anos. As crianças deste grupo etário e que apresentem esses sintomas devem ser bem avaliadas, pois o diagnóstico e tratamento precoce da DVI pode evitar complicações futuras como incontinência urinária, infecção urinária (ITU), refluxo vesico ureteral (RVU) e cicatrizes renais. Apesar de raramente evoluir para doença renal crônica, as cicatrizes renais podem desencadear hipertensão arterial desde a infância.

Os fatores comportamentais, ambientais e de treinamento malsucedido do desfralde, têm sido apontados como possíveis fatores de risco para DVI. Por exemplo, crianças em idade escolar se queixam da falta de privacidade em banheiros públicos, fazendo com que retenham as fezes, tornando-as mais endurecidas, o que predispõe à constipação

Outro aspecto relevante no cuidado dessas crianças com DVI refere-se ao impacto negativo na qualidade de vida, tanto física quanto psicossocial. No que diz respeito aos sintomas urinários, sobretudo a presença de incontinência urinária ou fecal leva a sentimento de insegurança, diminuição do convívio social, angústia e baixa autoestima, enquanto nas famílias geram sentimento de culpa e impotência frente à dificuldade enfrentada no manejo e dos sintomas. Portanto, é necessário um suporte profissional especializado, a fim de diminuir problemas futuros.

A causa da DVI não está completamente compreendida, e possivelmente tem vários fatores envolvidos. Há estreita relação entre o trato urinário e o intestinal, e a alteração em um dos sistemas pode alterar o outro.

Manifestações clínicas

Os sintomas se apresentam com intensidade e frequência variáveis dependendo do tipo de disfunção predominante. A ocorrência de ITU recorrente é frequente, cuja origem está relacionada ao refluxo vesico-ureteral (RVU), e principalmente ao resíduo urinário pós-miccional que pode se agravar pela retenção fecal.

Os sintomas diurnos muitas vezes são pouco percebidos pelos familiares e cuidadores, considerados como distração, preguiça, transtorno de comportamento ou pouco relevantes.

A consulta deve ser dirigida em forma de questionário, a fim de definir os sintomas e sinais. É importante definir quantas vezes a criança vai ao banheiro, se consegue segurar o xixi quando a bexiga está cheia, ou se tem necessidade urgente de urinar, se faz manobras para segurar a urina (saltitar, cruzar as pernas, manipular genitais), escapes urinários, se perde urina durante o dia, presença de dor pélvica ou abdominal, se faz xixi na cama, como é o jato de urina, ou se tem a sensação de sempre estar com a bexiga cheia.

Importante também abordar sobre as evacuações, se o intestino é preso, avaliar as características das fezes, e se tem escapes das fezes amolecidas.

Após uma avaliação clínica, os exames que podem ser solicitados são:

1- Exames de urina

3. Ultrassonografia (US) renal e vesical: Pode evidenciar dilatação dos rins e/ou ureteral, espessamento de parede da bexiga, características dos rins, volume da bexiga antes e após urinar;

4. Uretrocistografia miccional (UCM);

5- Urodinâmica (UD): é o método padrão no diagnóstico e acompanhamento das disfunções vesicais;

6- USG dinâmico do trato urinário: Vem sendo utilizado como substituto da UD, por não ser invasivo e é bem tolerado pelas crianças

O tratamento deve levar em conta a estreita correlação entre trato urinário inferior, superior e trato gastrointestinal. Os tratamentos não medicamentosos têm passado a ser uma escolha de primeira linha nos últimos anos, com bons resultados. O tratamento não resulta em melhora imediata, é prolongado, requer colaboração da criança e familiares. Não resulta em cura, no entanto, cumpre os objetivos sociais, melhorando a qualidade de vida, previne agressões ao aparelho urinário superior, restabelece um padrão miccional e intestinal o mais próximo possível do normal, além de resgatar a autoestima das crianças que muitas vezes convivem durante anos com situações socialmente inaceitáveis.

O diagnóstico de DVI tem sido cada vez mais precoce, o que vai modificar o prognóstico.

*Dra. Adriana Costa é médica radiologista, especialista em radiologia pediátrica, integra as equipes do Hospital do Câncer, Instituto de Diagnóstico Avançado por Imagem (Idapi) e Cadim

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