A rede social X, de propriedade do bilionário Elon Musk, voltou a funcionar no Brasil nesta quarta-feira (18.09) após uma manobra técnica, permitindo o acesso de alguns usuários sem a necessidade de VPNs. A plataforma estava bloqueada desde o fim de agosto, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), mas uma mudança nos servidores dificultou o bloqueio imposto pelas operadoras de internet
O "truque", como vem sendo chamado por especialistas, envolveu a migração dos servidores do X para a infraestrutura da empresa norte-americana Cloudflare, uma fornecedora de serviços de proxy reverso que aumenta a segurança e resiliência contra bloqueios digitais. Essa mudança permitiu que os IPs (endereços de internet) usados para acessar o X fossem dinâmicos e frequentemente alterados, o que impede as operadoras de bloquearem diretamente o acesso ao serviço sem afetar outros sites e plataformas importantes.
Segundo a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), os novos endereços de IP agora estão vinculados à Cloudflare, tornando o X "mais resistente" contra o bloqueio. “Muitos desses IPs são compartilhados com outros serviços legítimos, como bancos e grandes plataformas de internet, tornando impossível bloquear um IP sem afetar outros serviços", explicou a entidade em comunicado.
A restauração temporária do acesso ao X foi, segundo a empresa, um efeito "involuntário". No entanto, especialistas como o antropólogo da tecnologia David Nemer, professor da Universidade da Virgínia, apontam que a manobra foi proposital. "O X fez essa alteração para burlar o bloqueio no Brasil, já que não implementou a mesma mudança para outros países", afirmou Nemer.
O movimento faz parte de uma série de ações de Elon Musk para manter a rede social X operante em solo brasileiro, mesmo após o STF ter decidido pelo bloqueio da plataforma. O motivo do bloqueio está relacionado à disseminação de desinformação e ao descumprimento de decisões judiciais brasileiras.
De a cordo com o site G1, o bilionário chegou a lançar um perfil intitulado "Alexandre Files", que centraliza e divulga decisões do ministro do STF Alexandre de Moraes, principal responsável pela determinação de bloqueio do X. Segundo Nemer, isso "mostra que Musk está em uma guerra pessoal com o Brasil, Alexandre de Moraes e o STF".
A mudança estratégica da empresa gerou um dilema entre as operadoras de internet no Brasil. A Abrint afirma que as provedoras aguardam uma orientação formal da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para determinar quais medidas devem ser tomadas a seguir. Bloquear os novos IPs vinculados ao X poderia afetar também outros serviços legítimos, o que causa insegurança jurídica para o setor.
"Se as operadoras seguirem à risca a ordem do STF, teríamos que bloquear uma série de sites populares e essenciais, criando um apagão na internet brasileira", disse Thiago Ayub, diretor de tecnologia da empresa de telecomunicações Sage Networks. "É uma situação complicada, pois há um temor de que o bloqueio irrestrito prejudique a economia digital".
Segundo Ayub, o papel da Cloudflare foi essencial para contornar o bloqueio. “A comparação que fazemos é que, com o carro banido de entrar no Brasil, Elon Musk simplesmente alugou outro carro com uma placa diferente e conseguiu entrar despercebido”, explicou.
Enquanto a situação não é oficialmente resolvida, a Cloudflare é, no momento, a única entidade capaz de bloquear especificamente o X para os usuários brasileiros, uma vez que está fornecendo a infraestrutura temporária para a rede social. O X, por sua vez, informou que está trabalhando com o governo brasileiro para tentar retornar permanentemente ao país.
"Acreditamos que o serviço ficará inacessível novamente em breve, mas continuamos negociando com o governo para restabelecer o acesso o mais rápido possível", disse a empresa em comunicado oficial.
Leia também - Polícia prende acusado de matar servidor público da Prefeitura de VG
