Ficou marcada na memória de muitos brasileiros, a cena em que a atriz Carolina Dieckmann raspa os cabelos por conta de sua personagem, Camila, que enfrentava a leucemia na novela Laços de Família. Além do impacto causado pelo diagnóstico, outro estigma que ficou no imaginário social foram os efeitos colaterais dos tratamentos para o câncer. Porém, com o passar dos anos, a ciência evoluiu e com ela, novos estudos e tratamentos foram lançados acerca das doenças oncológicas, na busca de melhores resultados e menos feitos colaterais. É o caso da terapia-alvo, a imunoterapia e novos quimioterápicos.
Durante décadas, a quimioterapia e a radioterapia foram os únicos métodos utilizados para o tratamento do câncer. Oriundos do período da Segunda Guerra Mundial, por anos, os procedimentos foram agressivos, causando como efeitos colaterais náuseas, vômito, queda de cabelo, diarreia, feridas bucais, entre outros. Por ainda serem amplamente utilizados, principalmente por apresentarem uma resposta mais eficaz no tratamento, com o desenvolvimento de pesquisas e novas tecnologias, a quimioterapia e a radioterapia passaram a ser menos agressivas e mais precisas, proporcionando uma qualidade de vida melhor ao paciente.
“A quimioterapia consiste em um tratamento feito por meio de remédios, com a intenção de combater o crescimento do tumor e a possível evolução da doença. O método de tratamento auxilia, principalmente, na segurança e viabilidade de cirurgias oncológicas”, afirma Gabriel Zanardo, oncologista clínico da Oncomed-MT. “O quimioterápico age para impedir a multiplicação das células cancerígenas. A medicação é preparada levando em consideração as características do câncer e do paciente. Os efeitos colaterais acontecem porque existem células saudáveis que também estão se multiplicando e acabam sendo atingidas. Exemplos disso são os folículos capilares e espermatozoides, que possuem a reprodução celular acelerada como característica natural”.
Terapia-alvo – O organismo humano está em constante renovação celular. Um exemplo visível é a nossa pele. Quando nos ferimos, seja por corte ou outro motivo, é possível acompanhar o processo de separação celular na intenção de fechar o ferimento. Ou seja, a divisão e multiplicação celular fazem parte do processo natural da vida. O câncer surge a partir de uma reprodução celular desordenada, onde ocorre uma mutação no DNA das células, fazendo com que elas se dividam rapidamente, formando tumores e podendo invadir outros tecidos e órgãos.
“A terapia-alvo consiste em atacar essas mutações, direcionando a ação dos medicamentos especificamente às células cancerígenas. Com isso, os efeitos colaterais e o impacto em células saudáveis são reduzidos”, afirma Zanardo. O oncologista explica que, devido à sua precisão, o tratamento tem alta taxa de resposta.
O método é recente, surgido nos anos 2000, mas não é utilizado em todos os pacientes e tipos de câncer. Uma das etapas mais complicadas do tratamento é a identificação das mutações genéticas responsáveis por cada tipo da doença. “Tive uma paciente que apresentou dois tipos diferentes de câncer de mama, um de cada lado. Se no mesmo corpo, no mesmo organismo já existe essa diferença, imagina de pessoa para pessoa”. Porém, as previsões sobre o tratamento são otimistas.
Imunoterapia – O sistema imunológico é responsável pela defesa do corpo humano e é composto por células responsáveis por identificar agentes invasores, células infectadas ou doentes e exterminá-los. O tratamento por imunoterapia se baseia na possibilidade de estimular o próprio sistema imunológico a combater as células cancerígenas. A prova de que a teoria realmente funciona levou os imunologistas James P. Allison, dos Estados Unidos, e o japonês Tasuku Honjo a vencerem o Prêmio Nobel de Medicina em 2018.
“As células cancerígenas liberam proteínas que se encaixam aos linfócitos T – células do sistema imunológico responsável por identificar e exterminar células cancerígenas – o que bloqueia a ação de defesa dessas células”, informa o oncologista Gabriel Zanardo. “A imunoterapia consiste na administração de medicamentos que impedem a liberação dessas proteínas, fazendo com que os linfócitos T possam agir na defesa do corpo. Por esse motivo, uma das indicações mais comuns deste tratamento é para o caso de metástase, onde o câncer já atingiu outros órgãos”.
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